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Gloss Brazilian Portuguese Level 3, A polêmica da Cracolândia

A polêmica da Cracolândia

Apresentadora: Bom, essa questão é de uma complexidade muito grande. Por um lado, a população não aguenta mais ver também os seus direitos agredidos, de ter ali uma feira livre de drogas, uma sensação de insegurança naquela região; por outro lado, você também tem que assegurar outros direitos, os deveres dos usuários e nisso a polêmica se instala. Eu queria suas considerações sobre a operação, demolição e afins.

Ilona Szabó: Maravilha, eu entendo... enfim né, quem tá nos ouvindo que todo mundo na verdade quer uma solução. É mas solução fácil, ela não existe né e quando a gente vende ela a gente não consegue implementar. Eu acho que essa foi um pouco da arapuca que o prefeito caiu. Ele caiu numa arapuca. Falaram pra ele que dava pra resolver do dia pra noite. Ele como gestor quis enfrentar o problema só que ele não estudou o problema. Né, eu acho que o que acontece, que eu fiquei abismada na verdade quando eu li, eh eu falei “gente, mas isso aconteceu aqui no Rio, isso já tinha acontecido em São Paulo, mundo afora e a gente sabe exatamente o resultado de uma operação como essa”: que é tirar um problema concentrado, que é um problema grave, e espalhar esse problema. E quando a gente espalha esse problema, ele tende na verdade a criar núcleos e vai infiltrando e vai trazendo mais gente então a gente aumenta esse problema. Então, enfim, tem uma questão dessa operação também, que eu assisti o vídeo dessa operação, e é me desculpa, mas é o uso da força e o desrespeito que foi usado em vários momentos, não é justificável. Em momento algum. Não tem... essas imagens, a gente pode botar disponível, foi uma operação onde tavam tratando pessoas que estavam sendo presas, ou pessoas que estavam ali em situação de fato de rua, de vulnerabilidade. Não são todos dependentes de droga, tem muitos moradores de rua, tem comerciante, tavam erguendo muros com cachorro, pessoas dentro, demolindo prédio com pessoas dentro, então isso é... e novamente eu fiquei olhando as pessoas que tavam ali, quer dizer, eles não sabiam o que eles estavam fazendo. Mas eles têm que saber. Eles são o poder público. Eles têm responsabilidade em saber.

Apresentadora: A política pública pressupõe isso né? As coisas que a gente repete tantas vezes, e parece que não dá em nada, né? O Vitor, próprio repórter comentava hoje cedo que geralmente numa situação assim, pelas experiências bem sucedidas mundo afora, a parte da repressão da polícia vem no último vagão. Não pode vir no primeiro, entendeu, desbaratando tudo né? Tanto que... e até em relação à demolição precipitada, hoje houve uma decisão inclusive da justiça dizendo que não poderia ter feito essa demolição; que não pode remover moradores das imediações assim de uma hora pra outra, são várias questões...

Flávia Oliveira: Posicionamento do Ministério Público que vinha negociando com o Poder Público Municipal, uma solução, um plano mais amplo né, com suas várias facetas de abordagem, e que foi também surpreendido pela operação de domingo é, que como a Ilona, usando as suas palavras né, foi desastrosa.

Octávio Guedes: (...) Em contraponto, eu entendo eu entendo a opinião desses assinantes, por quê? Porque nesse... nesse caso eu só vejo duas ações e elas são... é como um pêndulo, extremas: ou é ação ou é omissão. No Rio de Janeiro, optou-se pela omissão. Então nem o tráfico de drogas quer uma Cracolândia perto de suas bocas de fumo. No Rio de Janeiro, os traficantes do Rio de Janeiro, eles se recusaram a vender crack durante muito tempo porque o crack não era lucrativo e as pessoas que utilizam crack, elas não são como as pessoas que usam cocaína ou maconha. O crack brutaliza as pessoas, [elas] viram uns zumbis. Então o que prefere o Rio de Janeiro? Hipocritamente? Eles [os usuários de crack] ficam na Avenida Brasil, uma... uma... via de grande movimentação, em baixo de viaduto e ninguém mexe com aquilo porque ninguém quer resolver. Então a omissão, eu acho que... então eu acho que quando esses assinantes diz isso assim: “gente, a omissão também não é o caminho...

Flávia Oliveira: Alguma coisa tem que ser feita.

Octávio Guedes: Agora, se tá feito de forma errada ou não, mas pelo menos é uma ação e a gente tem que aprender... No Rio de Janeiro já tentaram fazer isso, é um problema de difícil solução. Eu já entrevistei uma mãe que estava levando o filho da Avenida Brasil, dessa, dessa... e aqui no Rio de Janeiro tratam como um problema de trânsito. “Ah, é um problema de trânsito, eles ficam e isso vai... isso causa risco de acidente”. Então, eu já entrevistei uma mãe que tava tentando levar o filho dela pra região Serrana, eram mais ou menos duas horas de viagem, ela teve que fazer dezessete paradas pro filho consumir crack. Que ele não conseguia fazer uma viagem... então assim, é muito complexo. A internação compulsória ela, ela não pode... mas em alguns casos eu acho que ela, assim, eu sou leigo no assunto, mas acho que emergencialmente, é a única solução. Mas não vai.. quando ele melhorar, quando ele sai daquele estágio a gente ouve o relato, de parentes, se ele não tiver uma disposição, ele volta a consumir.


A polêmica da Cracolândia

**Apresentadora**: Bom, essa questão é de uma complexidade muito grande. Por um lado, a população não aguenta mais ver também os seus direitos agredidos, de ter ali uma feira livre de drogas, uma sensação de insegurança naquela região; por outro lado, você também tem que assegurar outros direitos, os deveres dos usuários e nisso a polêmica se instala. Eu queria suas considerações sobre a operação, demolição e afins.

**Ilona Szabó**: Maravilha, eu entendo... enfim né, quem tá nos ouvindo que todo mundo na verdade quer uma solução. É mas solução fácil, ela não existe né e quando a gente vende ela a gente não consegue implementar. Eu acho que essa foi um pouco da arapuca que o prefeito caiu. Ele caiu numa arapuca. Falaram pra ele que dava pra resolver do dia pra noite. Ele como gestor quis enfrentar o problema só que ele não estudou o problema. Né, eu acho que o que acontece, que eu fiquei abismada na verdade quando eu li, eh eu falei “gente, mas isso aconteceu aqui no Rio, isso já tinha acontecido em São Paulo, mundo afora e a gente sabe exatamente o resultado de uma operação como essa”: que é tirar um problema concentrado, que é um problema grave, e espalhar esse problema. E quando a gente espalha esse problema, ele tende na verdade a criar núcleos e vai infiltrando e vai trazendo mais gente então a gente aumenta esse problema. Então, enfim, tem uma questão dessa operação também, que eu assisti o vídeo dessa operação, e é me desculpa, mas é o uso da força e o desrespeito que foi usado em vários momentos, não é justificável. Em momento algum. Não tem... essas imagens, a gente pode botar disponível, foi uma operação onde tavam tratando pessoas que estavam sendo presas, ou pessoas que estavam ali em situação de fato de rua, de vulnerabilidade. Não são todos dependentes de droga, tem muitos moradores de rua, tem comerciante, tavam erguendo muros com cachorro, pessoas dentro, demolindo prédio com pessoas dentro, então isso é... e novamente eu fiquei olhando as pessoas que tavam ali, quer dizer, eles não sabiam o que eles estavam fazendo. Mas eles têm que saber. Eles são o poder público. Eles têm responsabilidade em saber.

**Apresentadora**: A política pública pressupõe isso né? As coisas que a gente repete tantas vezes, e parece que não dá em nada, né? O Vitor, próprio repórter comentava hoje cedo que geralmente numa situação assim, pelas experiências bem sucedidas mundo afora, a parte da repressão da polícia vem no último vagão. Não pode vir no primeiro, entendeu, desbaratando tudo né? Tanto que... e até em relação à demolição precipitada, hoje houve uma decisão inclusive da justiça dizendo que não poderia ter feito essa demolição; que não pode remover moradores das imediações assim de uma hora pra outra, são várias questões...

**Flávia Oliveira**: Posicionamento do Ministério Público que vinha negociando com o Poder Público Municipal, uma solução, um plano mais amplo né, com suas várias facetas de abordagem, e que foi também surpreendido pela operação de domingo é, que como a Ilona, usando as suas palavras né, foi desastrosa.

**Octávio Guedes**: (...) Em contraponto, eu entendo eu entendo a opinião desses assinantes, por quê? Porque nesse... nesse caso eu só vejo duas ações e elas são... é como um pêndulo, extremas: ou é ação ou é omissão. No Rio de Janeiro, optou-se pela omissão. Então nem o tráfico de drogas quer uma Cracolândia perto de suas bocas de fumo. No Rio de Janeiro, os traficantes do Rio de Janeiro, eles se recusaram a vender crack durante muito tempo porque o crack não era lucrativo e as pessoas que utilizam crack, elas não são como as pessoas que usam cocaína ou maconha. O crack brutaliza as pessoas, [elas] viram uns zumbis. Então o que prefere o Rio de Janeiro? Hipocritamente? Eles [os usuários de crack] ficam na Avenida Brasil, uma... uma... via de grande movimentação, em baixo de viaduto e ninguém mexe com aquilo porque ninguém quer resolver. Então a omissão, eu acho que... então eu acho que quando esses assinantes diz isso assim: “gente, a omissão também não é o caminho...

**Flávia Oliveira**: Alguma coisa tem que ser feita.

**Octávio Guedes**: Agora, se tá feito de forma errada ou não, mas pelo menos é uma ação e a gente tem que aprender... No Rio de Janeiro já tentaram fazer isso, é um problema de difícil solução. Eu já entrevistei uma mãe que estava levando o filho da Avenida Brasil, dessa, dessa... e aqui no Rio de Janeiro tratam como um problema de trânsito. “Ah, é um problema de trânsito, eles ficam e isso vai... isso causa risco de acidente”. Então, eu já entrevistei uma mãe que tava tentando levar o filho dela pra região Serrana, eram mais ou menos duas horas de viagem, ela teve que fazer dezessete paradas pro filho consumir crack. Que ele não conseguia fazer uma viagem... então assim, é muito complexo. A internação compulsória ela, ela não pode... mas em alguns casos eu acho que ela, assim, eu sou leigo no assunto, mas acho que emergencialmente, é a única solução. Mas não vai.. quando ele melhorar, quando ele sai daquele estágio a gente ouve o relato, de parentes, se ele não tiver uma disposição, ele volta a consumir.