×

We use cookies to help make LingQ better. By visiting the site, you agree to our cookie policy.


image

BBC News 2021 (Brasil), 'Teremos o março mais triste de nossas vidas', prevê Margareth Dalcolmo, da Fiocruz

'Teremos o março mais triste de nossas vidas', prevê Margareth Dalcolmo, da Fiocruz

Até o final de fevereiro, o Brasil acumulou 10,5 milhões de casos de covid-19 e teve 254 mil mortes por infecção pelo coronavírus

Mas o que tem chamado atenção dos especialistas nas últimas semanas é como esse número vêm acelerando e como a média de morte por dia

ultrapassa a casa dos mil há algumas semanas

Além disso, nos últimos dias, vimos diversas cidades com UTIs lotadas e hospitais chegando a um nível crítico

Meu nome é André Biernath, sou repórter da BBC News Brasil, e vou conversar sobre o assunto com a pneumologista Margareth Dalcomo

Ela é docente e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz, a Fiocruz, lá no Rio de Janeiro

Dra. Margareth, para a gente começar, eu queria entender um pouco

como a senhora classificaria o atual estágio da pandemia no Brasil?

Bom dia, muito obrigado pelo convite, André

Eu acho que nós estamos num momento muito grave da epidemia no Brasil, com recrudescimento

já materializado como uma segunda onda, o que não nos surpreende, porque as medidas

de controle sanitário foram não só controversas como ineficientes em alguns momentos e nós

sabendo que a única solução possível para controle da covid-19 seria e será a vacinação

em massa da população

Então portanto nós estamos ainda começando um processo que não está na velocidade desejável

e não temos observado um comportamento de solidariedade coletiva, um comportamento não

só da nossa sociedade como também de autoridades políticas que não vem ajudando no sentido

de aumentar a consciência cívica de que é preciso que nós ainda, apesar do cansaço,

de um ano de epidemia, que nós mantenhamos comportamentos individuais e coletivos e muito

cuidado rígido, como uso de máscara, distanciamento social, enfim, e até nesse momento eu diria

sem dúvida nenhuma, eu já me manifestei, medidas mais drásticas de alguns serviços

no sentido de diminuir a circulação de pessoas e portanto colaborar para a redução da transmissão

viral. A nossa grande preocupação hoje é que nós sabemos que a transmissão viral

ela é, digamos, o mecanismo propiciador do aparecimento de novas variantes

E considerando que nós já estamos enfrentando o aparecimento de novas variantes, a nossa

preocupação do ponto de vista científico tem que ser responder do ponto de vista de

estudo, de vigilância genômica, se as vacinas que nós estamos utilizando serão capazes

de nos proteger contra essas variantes

Mas sobretudo nós precisamos colaborar para não propiciar mais um ambiente que favoreça

o aparecimento de novas variantes

Desde novembro nós tivemos uma série de acontecimentos, notícias, que foram acontecimentos

que contribuíram para a gente chegar até esse ponto

As festas de final de ano, as eleições, o Enem, o Carnaval...

Teve algum evento que foi decisivo?

Ou foi uma conjunção de fatores que nos levou ao que vivemos agora?

Foi uma conjunção de fatores e foi um não entendimento, eu diria homogêneo, consistente,

entre o discurso dos cientistas, dos médicos, dos pesquisadores, estimulando uma consciência

cívica, coletiva, de gestos de solidariedade consistentes

A doença mudou de lugar no Brasil, entrou nas nossas casas

Há pessoas ficando doentes que não saem de casa há um ano

Como elas pegam doença?

Pegam porque os mais jovens estão indo para a rua

As festas de fim de ano foram trágicas

Eu mesma me manifestei dizendo que o Brasil teria o mais triste janeiro da nossa história

E nós tivemos, inclusive com o aparecimento da variante brasileira identificada através

da família que viajou ao Japão vinda do Amazonas

E eu não tenho dúvida em te afirmar que nós teremos o mais triste março de nossas

vidas

Resultante das aglomerações do Carnaval, desse descompasso entre o que nós dizemos

e o que as autoridades dizem

Que não é importante usar máscara, por exemplo, que é uma coisa paradigmática

Não há dúvida, está sobejamente demonstrado que a máscara é uma barreira mecânica que

nos protege e aos demais

Tudo isso, somado ao cansaço de uma epidemia tão longa vai gerando um comportamento que

tem sido desastroso. O que nós temos visto é uma pressão enorme sobre o sistema de

saúde, uma taxa acima de qualquer nível desejado em todos hospitais, público ou

privado, e algo muito grave, que eu particularmente falei há muitos meses, é que a doença se

rejuvenesce no Brasil

Hoje tem muito mais jovem internado, desenvolvendo casos graves, essas pessoas têm uma força

de transmissão enorme porque se aglomeram, cantam, falam alto e tudo aquilo que sabemos

que é capaz de aumentar e estimular a transmissão de uma doença viral de transmissão respiratória

E, dra. Margareth, a senhora citou o caso de Manaus, estado do Amazonas

Na primeira onda, Manaus sofreu muito ali em meados de abril, maio, junho

Depois a situação se prolongou para o resto do Brasil

A gente vê essa situação se repetir agora na segunda onda: Manaus teve toda aquela crise

no final de dezembro, janeiro, e tudo se ampliando para o resto do Brasil

O que faz Manaus ser esse medidor da pandemia no Brasil?

Na verdade, eu não diria que Manaus é medidor da epidemia

A situação do Amazonas e de toda a região norte é muito particular

Manaus é uma cidade afastada, de difícil acesso. Era previsível

Manaus teve o primeiro pico epidêmico precoce, muito antes da região Sudeste ou Sul

Nós tivemos o primeiro pico epidêmico aqui em junho, começo de julho

Manaus teve em abril, quando a doença chegou

Manaus é Zona Franca, tem um fluxo aéreo de pessoas enorme

A doença chegou, atingiu uma grande proporção da população de baixa renda, população pobre

Foi aquela tragédia de cemitérios sendo abertos, era natural que essa imunidade conferida

pela doença não fosse muito duradoura

Manaus, o Amazonas nunca tomou medidas drásticas de fechar escolas, fechar comércio, fazer

lockdowns

Manaus nunca fez isso

Então era natural que a imunidade conferida pela doença, e a situação de transmissão

viral tão alta eclodisse uma situação de favorecimento para o aparecimento da nova variante, denominada P1, e que ela rapidamente

se expandisse para o Brasil

Porque Manaus tem um fluxo aéreo, que diminuiu, mas continua acontecendo, até hoje

Quer dizer, hoje já há presença da variante brasileira, como há presença da variante

do Reino Unido já identificada no Brasil

Então hoje é muito difícil conter uma doença tão facilmente transmissível

Isso nós sabemos, conhecemos epidemia e sabemos como ela se dissemina rápido

Então Manaus virou um paradigma de tudo que nós desejaríamos que não acontecesse

Além disso, isso se agravou com a crise sanitária pela desídia administrativa

Não é possível que uma cidade como Manaus tenha um único fornecedor de Oxigênio, sabendo

que a logística para chegar em Manaus é muito complexa

São sete dias de barco, por rio, é difícil, não é simples de resolver

Se no Rio de Janeiro, onde sabemos que a mortalidade é mais alta, que a letalidade é mais alta, que a taxa de transmissão está muito alta,

como em determinadas regiões de São Paulo, dificilmente uma crise de oxigênio como essa aconteceria

E por que?

Porque nós não temos um fornecedor só, temos quatro, cinco fornecedores diferentes

Eu diria que essa, não sei se pode chamar de carteirização da vida lá, se isso houve,

o dano que isso causou é enorme. E até hoje vem causando

E de novo a epidemia em Manaus revela a absoluta e intolerável desigualdade social do Brasil

Porque quem mais morre no Amazonas é pobre, indígena

Porque a classe média alta, todos que puderam foram embora de Manaus

O número de private jets (jatos privados) que foram alugados por 150 mil reais e foram para o Rio de Janeiro

e São Paulo é enorme

Nós sabemos disso e temos os números. Então é isso, de novo

eu acho que é um registro, a epidemia de covid-19 no Brasil, bem como nos Estados

Unidos, onde 40% dos óbitos em Nova York é preto e pobre, e aqui também.

E isso nós poderemos dar N exemplos de quanto as medidas sanitárias têm que ter uma coerência

ligada à questão social do Brasil, com essas desigualdades

É claro que uma maneira de não viver tudo isso teria evitado as aglomerações de fim de ano, de Carnaval

Mas agora que já estamos nessa situação

Existe algo que pode ser feito do ponto de vista individual de de política pública para evitar que a situação se agrave ainda mais?

Eu acho que sim

Nós estamos conclamando, ontem não sei se você teve acesso

Nós emitimos, pela Sociedade Brasileira de Pneumologia (SBPT), da qual eu sou presidente eleita, um documento que já está assinado

por outras 50 sociedades médicas contestando esse discurso que não é pra usar máscara

e provando e mostrando

Isso foi objeto de muita divulgação pela imprensa, estive falando no Fantástico e

na Globo News sobre isso , uma vez que foi nossa sociedade que fez esse documento e está chancelado

por essas 50. Mais Academia Nacional de Medicina, uma série de sociedades médicas.

Dizendo que de modo algum o uso de máscara como ferramenta de proteção individual e

coletiva, uma vez que ela é uma barreira mecânica que nos protege e aos outros, ela é não

só defensável como fundamental nesse momento

E esse discurso contraditório entre o que a ciência diz e o que a política diz tem

causado muito mal à sociedade brasileira

Eu hoje de manhã, só pra dar um exemplo, peguei um avião vindo de outro estado para

voltar ao Rio de Janeiro, e havia dois jovens sentados na cadeira ao meu lado

Dois irmãos. Eles entraram no avião e tiraram a máscara. Eu imediatamente chamei a comissária

e eu disse, com avião no chão ainda: se esses jovens não colocarem a máscara adequadamente,

nós chamaremos o comandante e o avião não vai decolar e eles deverão ser retirados

do avião

Eu fui aplaudida pelo avião todo. Nem falei alto, mas estou te dando um exemplo. Dois jovens

Certamente os pais em casa, por razões políticas

E não eram dois jovens pobres

Eram jovens viajando de avião

E quando o avião já estava decolando, eles de novo abaixaram a máscara

E aí eu fiquei zangada (risos)

Chamei de novo a comissária e disse, se você não pedir pra eles, eu vou me dirigir à

cabine de comando e falarei

E os passageiros gritando "põe a máscara"

E alguns me reconheceram, porque tem me visto na televisão

Existe um desejo, por quem tem um pouquinho mais de consciência, de que esse comportamento

é execrável, isso faz muito mal para as pessoas

Da mesma maneira, como essa negação coletiva, sobretudo dos jovens, em áreas de comunidades

ou de classes mais abastadas

no Rio de Janeiro, São Paulo, como nós vimos recentemente em praia, jogo de futebol

Meu Deus, quantas vezes nós falamos que isso não poderia acontecer?

Então eu entendo que passado tanto tempo as pessoas estejam cansadas

Nós também estamos

Nós estamos cansados sobretudo de todos os dias contar mortos. É o título do meu artigo que vai sair amanhã

Chega de contar mortos

Não quero saber mais de estatísticas e quero que nós juntos, sociedade, governo e autoridades, passemos

a nos comportar de maneira mais civilizada

E não é o que estamos vendo no Brasil

Ainda na questão das medidas, nos últimos dias temos ouvido prefeitos e governadores decretarem lockdowns em horários específicos

Por exemplo, o governador João Dória de São Paulo fala de toque de restrição, uma medida que vai de 22h às 5h, horários da noite,

fechamento de bares. Como a senhora vê esse tipo de medidas?

Na forma como elas estão sendo propostas, elas não vão resolver

Porque fazer fechamento e impedir circulação entre meia noite e cinco da manhã?

Nesse horário tem pouca gente na rua

E quem foi fazer festa e se aglomerou já fez antes da meia noite, já bebeu, já fez

tudo que tinha de fazer de errado

Isso acho que não vai resolver, é uma medida pouco eficaz

Eu acho que no Brasil precisaria, e eu tô de acordo com o professor Miguel Nicolelis, que deu uma entrevista nesse fim de semana

dizendo que o Brasil precisaria de um lockdown de duas semanas rígido para que nós interceptassemos

a cadeia de transmissão

E eu acho que sim, nós nunca conseguimos no Brasil fazer um lockdown adequado

Nunca conseguimos alcançar os 60%, que seria a taxa desejável de distanciamento social

Quem mais chegou perto disso foi São Paulo, com 58% e em alguns momentos

No Rio de Janeiro nunca conseguimos

Esse descompasso entre o que a ciência dizia e agora, com todo mundo tão cansado dessa

epidemia tão longa, com a economia tão machucada. E as pessoas tem que entender que não tem jeito

Se não fizermos isso por algum tempo e não começarmos rapidamente uma vacinação em

massa, nós temos que vacinar 70% da população até o meio do ano

Não é para setembro

É até o meio do ano

Caso contrário, nós vamos propiciar condições para o aparecimento de outras variantes

Nós temos que começar o investimento pesado em vigilância genômica, para que possamos

ter certeza que as vacinas produzidas pelos dois institutos públicos brasileiros, quer

pela FioCruz ou pelo Butantan, são efetivas como parecem ser contra novas variantes

Mas nada nos garante que aparecerão outras variantes

Essa vigilância genômica, que é cara, é fundamental nesse momento

Falando da vacinação, como a senhora comentou o Brasil tem uma capacidade e um histórico muito bom de vacinação

A gente vacina 80 milhões de pessoas todos os anos contra a gripe, mas o ritmo da vacinação contra a covid-19 está bem devagar

Se a gente seguir esse ritmo, vamos levar anos para proteger a população que mais precisa ser protegida

O que a senhora analisa que são os principais gargalos desse ritmo lento da vacinação?

O primeiro é óbvio: não tem vacina. É muito fácil responder

Se nós tivéssemos os milhões que nós precisamos, o que nós precisaríamos é ter agilidade

E o velho e tradicional e competente PNI, com nossa enorme experiência em saber vacinar, mais que outros países

somado, de par com essa capilaridade espetacular do SUS, seríamos capaz

Mas neste momento há uma situação nova

A pandemia de covid-19 mostrou que o Brasil pode ter o aparecimento necessário de um

novo voluntariado de qualidade

E isso nós temos visto

E o que nós estamos vivendo agora?

Eu mesmo tenho conversado, estive com a empresária Luiza Trajano em São Paulo, almocei com ela,

justamente porque ao me agregar ao movimento Mulheres do Brasil, que congrega uma quantidade enorme de pessoas, não só mulheres

se nós não tivermos o auxílio da iniciativa privada, que pode nos ajudar muito, e é isso que estamos discutindo

Eu sou completamente contrária à compra de vacinas pela iniciativa privada, já me

manifestei sobre isso n vezes

Isso no Brasil é indecente e imoral

Então o que nós precisamos é ter vacina provida pelo Governo Federal e a iniciativa

privada nos ajudar na logística, junto às prefeituras pequenas, que não tem a mesma

capacidade

Tem que ter avião, barco, caminhão refrigerado, geladeira, freezers a -20º se conseguirmos as vacinas

da Pfizer, já que agora não é mais necessário ter freezer a -80º, como o FDA já aprovou

Então o que nós precisamos agora é ter muita vacina produzida e uma capacidade logística

de grande envergadura para vacinar muita gente em pouco tempo

Com isso, vamos fazer com que a economia volte a funcionar com um pouco mais de liberdade. Sem isso, não tem jeito

As escolas não poderão reabrir com capacidade total, vamos continuar postergando...

Eu acho que os trabalhadores da área de educação têm que ser vacinados com prioridade depois

dos idosos e os trabalhadores da saúde, o próximo grupo tem que ser da educação

Para que possamos reabrir escolas fulltime, não da maneira como está funcionando

Nós já temos duas vacinas em uso, a Coronavac, feita pelo Butantan e Sinovac

E a vacina feita pela AstraZeneca, da Universidade de Oxford e Fiocruz, e nós temos a vacina da Pfizer aprovada e o governo federal

por meio do Ministério da Saúde, está em negociações com a Sputnik V, Covaxin, tem também a da Johnson & Johnson Esse é o momento de diversificar o portfólio de vacinas e como fazer isso de maneira rápida, mas que também respeite a evidência científica?

Nós já estamos atrasados

Poderíamos ter negociado com a Pfizer e a Johnson desde que eles começaram os estudos

de fase 3 tão bem conduzidos no Brasil

A vacina Sputnik, que é bastante semelhante, mesma plataforma da AstraZeneca, parece ser

uma vacina boa, mas carece de registro na Anvisa, que é nossa agência regulatória

Quando alguém me pergunta que vacina eu tomaria, eu digo qualquer uma, desde que aprovada pela

Anvisa

O que eu não tomaria é uma vacina que não passou pela Anvisa, pela grande qualidade

técnica que tem nossa agência regulatória

Acho que perdemos um tempo precioso, já poderíamos ter vacina da Pfizer e hoje estamos implorando

para negociar alguns poucos milhões do que está disponível

Não tem vacina pra todo mundo.

De novo, se nós lembrarmos aqui, 10 países já compraram 75% da produção mundial de vacina

Isso de novo revela essa enorme desigualdade do mundo

O Canadá tem cinco doses por habitante

O que o Canadá fará?

Isso não é bom nem ruim, não estou julgando

Mas o Canadá fará uma coisa correta, ele vai doar o excedente para o Covax, que vai

ser doado aos países que não podem

O Brasil também é signatário do mecanismo Covax Gavi, mas até agora não recebemos

uma dose

Diante do atual estágio da pandemia no país, do ritmo de vacinação

que recomendação a senhora deixaria para as pessoas que estão vendo esse vídeo,

sobre os cuidados que elas devem tomar e como elas deveriam se comportar e se precaver nos próximos dias e semanas?

Eu acho que as pessoas tem que entender que aconteceu o que era esperado, porém não

desejaríamos que não acontecesse

Quantas vezes eu disse: eu quero estar errada

Quando nós dissemos como uma crônica de morte anunciada, como um romance de

Garcia Marquez, que isso não acontecesse

Mas era previsível que houvesse uma segunda onda no Brasil, era previsível, da maneira como houve esse descompasso

Mais uma vez faria um pleito a todo mundo que entendesse que nós estamos num momento muito grave,

que o momento hoje é mais grave do ponto de vista epidemiológico do primeiro

pico epidêmico, que esse número de mortes é absolutamente intolerável e olha que ele não representa

o real, deve ter morte por aí que nem sabemos, que não é possível que nós não tenhamos um entendimento pessoal e coletivo

que nós temos que proteger nossas famílias, nossos colegas de trabalho e nos comportar,

ainda que reconheçamos que todos estamos cansados

Mas lembrando que epidemias são assim.

Essa é a primeira de uma geração mais jovem

Mas nós sabemos. Nós vivemos outras epidemias, vivemos o H1N1

Quando teve o H1N1, o Brasil estava preparado para enfrentar

Quando nós começamos a campanha, nós tínhamos 70 milhões de doses de vacina compradas,

estocadas, com seringa agulha e tudo

E não é o que está acontecendo agora

Agora é o momento de todos colaborarem, cada um fazer a sua parte, ajudar as autoridades,

ter consciência cívica, como eu tenho conclamado tantas vezes

Não adianta querer ser anárquico, desafiar uma ordem biológica que não é favorável

a nós, nesse momento

Ou nos comportamentos ou vamos colaborar para estatísticas que são terríveis

O que estamos vivendo é um filme de terror


'Teremos o março mais triste de nossas vidas', prevê Margareth Dalcolmo, da Fiocruz We will have the saddest March of our lives," predicts Margareth Dalcolmo, from Fiocruz Tendremos el marzo más triste de nuestras vidas", predice Margareth Dalcolmo, de Fiocruz

Até o final de fevereiro, o Brasil acumulou 10,5 milhões de casos de covid-19 e teve 254 mil mortes por infecção pelo coronavírus

Mas o que tem chamado atenção dos especialistas nas últimas semanas é como esse número vêm acelerando e como a média de morte por dia

ultrapassa a casa dos mil há algumas semanas

Além disso, nos últimos dias, vimos diversas cidades com UTIs lotadas e hospitais chegando a um nível crítico

Meu nome é André Biernath, sou repórter da BBC News Brasil, e vou conversar sobre o assunto com a pneumologista Margareth Dalcomo

Ela é docente e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz, a Fiocruz, lá no Rio de Janeiro

Dra. Margareth, para a gente começar, eu queria entender um pouco

como a senhora classificaria o atual estágio da pandemia no Brasil?

Bom dia, muito obrigado pelo convite, André

Eu acho que nós estamos num momento muito grave da epidemia no Brasil, com recrudescimento

já materializado como uma segunda onda, o que não nos surpreende, porque as medidas

de controle sanitário foram não só controversas como ineficientes em alguns momentos e nós

sabendo que a única solução possível para controle da covid-19 seria e será a vacinação

em massa da população

Então portanto nós estamos ainda começando um processo que não está na velocidade desejável

e não temos observado um comportamento de solidariedade coletiva, um comportamento não

só da nossa sociedade como também de autoridades políticas que não vem ajudando no sentido

de aumentar a consciência cívica de que é preciso que nós ainda, apesar do cansaço,

de um ano de epidemia, que nós mantenhamos comportamentos individuais e coletivos e muito

cuidado rígido, como uso de máscara, distanciamento social, enfim, e até nesse momento eu diria

sem dúvida nenhuma, eu já me manifestei, medidas mais drásticas de alguns serviços

no sentido de diminuir a circulação de pessoas e portanto colaborar para a redução da transmissão

viral. A nossa grande preocupação hoje é que nós sabemos que a transmissão viral

ela é, digamos, o mecanismo propiciador do aparecimento de novas variantes

E considerando que nós já estamos enfrentando o aparecimento de novas variantes, a nossa

preocupação do ponto de vista científico tem que ser responder do ponto de vista de

estudo, de vigilância genômica, se as vacinas que nós estamos utilizando serão capazes

de nos proteger contra essas variantes

Mas sobretudo nós precisamos colaborar para não propiciar mais um ambiente que favoreça

o aparecimento de novas variantes

Desde novembro nós tivemos uma série de acontecimentos, notícias, que foram acontecimentos

que contribuíram para a gente chegar até esse ponto

As festas de final de ano, as eleições, o Enem, o Carnaval...

Teve algum evento que foi decisivo?

Ou foi uma conjunção de fatores que nos levou ao que vivemos agora?

Foi uma conjunção de fatores e foi um não entendimento, eu diria homogêneo, consistente,

entre o discurso dos cientistas, dos médicos, dos pesquisadores, estimulando uma consciência

cívica, coletiva, de gestos de solidariedade consistentes

A doença mudou de lugar no Brasil, entrou nas nossas casas

Há pessoas ficando doentes que não saem de casa há um ano

Como elas pegam doença?

Pegam porque os mais jovens estão indo para a rua

As festas de fim de ano foram trágicas

Eu mesma me manifestei dizendo que o Brasil teria o mais triste janeiro da nossa história

E nós tivemos, inclusive com o aparecimento da variante brasileira identificada através

da família que viajou ao Japão vinda do Amazonas

E eu não tenho dúvida em te afirmar que nós teremos o mais triste março de nossas

vidas

Resultante das aglomerações do Carnaval, desse descompasso entre o que nós dizemos

e o que as autoridades dizem

Que não é importante usar máscara, por exemplo, que é uma coisa paradigmática

Não há dúvida, está sobejamente demonstrado que a máscara é uma barreira mecânica que

nos protege e aos demais

Tudo isso, somado ao cansaço de uma epidemia tão longa vai gerando um comportamento que

tem sido desastroso. O que nós temos visto é uma pressão enorme sobre o sistema de

saúde, uma taxa acima de qualquer nível desejado em todos hospitais, público ou

privado, e algo muito grave, que eu particularmente falei há muitos meses, é que a doença se

rejuvenesce no Brasil

Hoje tem muito mais jovem internado, desenvolvendo casos graves, essas pessoas têm uma força

de transmissão enorme porque se aglomeram, cantam, falam alto e tudo aquilo que sabemos

que é capaz de aumentar e estimular a transmissão de uma doença viral de transmissão respiratória

E, dra. Margareth, a senhora citou o caso de Manaus, estado do Amazonas

Na primeira onda, Manaus sofreu muito ali em meados de abril, maio, junho

Depois a situação se prolongou para o resto do Brasil

A gente vê essa situação se repetir agora na segunda onda: Manaus teve toda aquela crise

no final de dezembro, janeiro, e tudo se ampliando para o resto do Brasil

O que faz Manaus ser esse medidor da pandemia no Brasil?

Na verdade, eu não diria que Manaus é medidor da epidemia

A situação do Amazonas e de toda a região norte é muito particular

Manaus é uma cidade afastada, de difícil acesso. Era previsível

Manaus teve o primeiro pico epidêmico precoce, muito antes da região Sudeste ou Sul

Nós tivemos o primeiro pico epidêmico aqui em junho, começo de julho

Manaus teve em abril, quando a doença chegou

Manaus é Zona Franca, tem um fluxo aéreo de pessoas enorme

A doença chegou, atingiu uma grande proporção da população de baixa renda, população pobre

Foi aquela tragédia de cemitérios sendo abertos, era natural que essa imunidade conferida

pela doença não fosse muito duradoura

Manaus, o Amazonas nunca tomou medidas drásticas de fechar escolas, fechar comércio, fazer

lockdowns

Manaus nunca fez isso

Então era natural que a imunidade conferida pela doença, e a situação de transmissão

viral tão alta eclodisse uma situação de favorecimento para o aparecimento da nova variante, denominada P1, e que ela rapidamente

se expandisse para o Brasil

Porque Manaus tem um fluxo aéreo, que diminuiu, mas continua acontecendo, até hoje

Quer dizer, hoje já há presença da variante brasileira, como há presença da variante

do Reino Unido já identificada no Brasil

Então hoje é muito difícil conter uma doença tão facilmente transmissível

Isso nós sabemos, conhecemos epidemia e sabemos como ela se dissemina rápido

Então Manaus virou um paradigma de tudo que nós desejaríamos que não acontecesse

Além disso, isso se agravou com a crise sanitária pela desídia administrativa

Não é possível que uma cidade como Manaus tenha um único fornecedor de Oxigênio, sabendo

que a logística para chegar em Manaus é muito complexa

São sete dias de barco, por rio, é difícil, não é simples de resolver

Se no Rio de Janeiro, onde sabemos que a mortalidade é mais alta, que a letalidade é mais alta, que a taxa de transmissão está muito alta,

como em determinadas regiões de São Paulo, dificilmente uma crise de oxigênio como essa aconteceria

E por que?

Porque nós não temos um fornecedor só, temos quatro, cinco fornecedores diferentes

Eu diria que essa, não sei se pode chamar de carteirização da vida lá, se isso houve,

o dano que isso causou é enorme. E até hoje vem causando

E de novo a epidemia em Manaus revela a absoluta e intolerável desigualdade social do Brasil

Porque quem mais morre no Amazonas é pobre, indígena

Porque a classe média alta, todos que puderam foram embora de Manaus

O número de private jets (jatos privados) que foram alugados por 150 mil reais e foram para o Rio de Janeiro

e São Paulo é enorme

Nós sabemos disso e temos os números. Então é isso, de novo

eu acho que é um registro, a epidemia de covid-19 no Brasil, bem como nos Estados

Unidos, onde 40% dos óbitos em Nova York é preto e pobre, e aqui também.

E isso nós poderemos dar N exemplos de quanto as medidas sanitárias têm que ter uma coerência And we can give N examples of how coherent sanitary measures have to be

ligada à questão social do Brasil, com essas desigualdades

É claro que uma maneira de não viver tudo isso teria evitado as aglomerações de fim de ano, de Carnaval

Mas agora que já estamos nessa situação

Existe algo que pode ser feito do ponto de vista individual de de política pública para evitar que a situação se agrave ainda mais?

Eu acho que sim

Nós estamos conclamando, ontem não sei se você teve acesso

Nós emitimos, pela Sociedade Brasileira de Pneumologia (SBPT), da qual eu sou presidente eleita, um documento que já está assinado The Brazilian Society of Pulmonology (SBPT), of which I am president-elect, issued a document that has already been signed.

por outras 50 sociedades médicas contestando esse discurso que não é pra usar máscara

e provando e mostrando

Isso foi objeto de muita divulgação pela imprensa, estive falando no Fantástico e

na Globo News sobre isso , uma vez que foi nossa sociedade que fez esse documento e está chancelado on Globo News about this, since it was our society that drew up this document and it has been approved

por essas 50. Mais Academia Nacional de Medicina, uma série de sociedades médicas.

Dizendo que de modo algum o uso de máscara como ferramenta de proteção individual e

coletiva, uma vez que ela é uma barreira mecânica que nos protege e aos outros, ela é não

só defensável como fundamental nesse momento

E esse discurso contraditório entre o que a ciência diz e o que a política diz tem

causado muito mal à sociedade brasileira

Eu hoje de manhã, só pra dar um exemplo, peguei um avião vindo de outro estado para

voltar ao Rio de Janeiro, e havia dois jovens sentados na cadeira ao meu lado

Dois irmãos. Eles entraram no avião e tiraram a máscara. Eu imediatamente chamei a comissária

e eu disse, com avião no chão ainda: se esses jovens não colocarem a máscara adequadamente,

nós chamaremos o comandante e o avião não vai decolar e eles deverão ser retirados

do avião

Eu fui aplaudida pelo avião todo. Nem falei alto, mas estou te dando um exemplo. Dois jovens

Certamente os pais em casa, por razões políticas

E não eram dois jovens pobres

Eram jovens viajando de avião

E quando o avião já estava decolando, eles de novo abaixaram a máscara

E aí eu fiquei zangada (risos)

Chamei de novo a comissária e disse, se você não pedir pra eles, eu vou me dirigir à

cabine de comando e falarei

E os passageiros gritando "põe a máscara"

E alguns me reconheceram, porque tem me visto na televisão

Existe um desejo, por quem tem um pouquinho mais de consciência, de que esse comportamento

é execrável, isso faz muito mal para as pessoas

Da mesma maneira, como essa negação coletiva, sobretudo dos jovens, em áreas de comunidades

ou de classes mais abastadas

no Rio de Janeiro, São Paulo, como nós vimos recentemente em praia, jogo de futebol

Meu Deus, quantas vezes nós falamos que isso não poderia acontecer?

Então eu entendo que passado tanto tempo as pessoas estejam cansadas

Nós também estamos

Nós estamos cansados sobretudo de todos os dias contar mortos. É o título do meu artigo que vai sair amanhã

Chega de contar mortos

Não quero saber mais de estatísticas e quero que nós juntos, sociedade, governo e autoridades, passemos

a nos comportar de maneira mais civilizada

E não é o que estamos vendo no Brasil

Ainda na questão das medidas, nos últimos dias temos ouvido prefeitos e governadores decretarem lockdowns em horários específicos

Por exemplo, o governador João Dória de São Paulo fala de toque de restrição, uma medida que vai de 22h às 5h, horários da noite,

fechamento de bares. Como a senhora vê esse tipo de medidas?

Na forma como elas estão sendo propostas, elas não vão resolver

Porque fazer fechamento e impedir circulação entre meia noite e cinco da manhã?

Nesse horário tem pouca gente na rua

E quem foi fazer festa e se aglomerou já fez antes da meia noite, já bebeu, já fez

tudo que tinha de fazer de errado

Isso acho que não vai resolver, é uma medida pouco eficaz

Eu acho que no Brasil precisaria, e eu tô de acordo com o professor Miguel Nicolelis, que deu uma entrevista nesse fim de semana

dizendo que o Brasil precisaria de um lockdown de duas semanas rígido para que nós interceptassemos

a cadeia de transmissão

E eu acho que sim, nós nunca conseguimos no Brasil fazer um lockdown adequado

Nunca conseguimos alcançar os 60%, que seria a taxa desejável de distanciamento social

Quem mais chegou perto disso foi São Paulo, com 58% e em alguns momentos

No Rio de Janeiro nunca conseguimos

Esse descompasso entre o que a ciência dizia e agora, com todo mundo tão cansado dessa

epidemia tão longa, com a economia tão machucada. E as pessoas tem que entender que não tem jeito

Se não fizermos isso por algum tempo e não começarmos rapidamente uma vacinação em

massa, nós temos que vacinar 70% da população até o meio do ano

Não é para setembro

É até o meio do ano

Caso contrário, nós vamos propiciar condições para o aparecimento de outras variantes

Nós temos que começar o investimento pesado em vigilância genômica, para que possamos

ter certeza que as vacinas produzidas pelos dois institutos públicos brasileiros, quer

pela FioCruz ou pelo Butantan, são efetivas como parecem ser contra novas variantes

Mas nada nos garante que aparecerão outras variantes

Essa vigilância genômica, que é cara, é fundamental nesse momento

Falando da vacinação, como a senhora comentou o Brasil tem uma capacidade e um histórico muito bom de vacinação

A gente vacina 80 milhões de pessoas todos os anos contra a gripe, mas o ritmo da vacinação contra a covid-19 está bem devagar

Se a gente seguir esse ritmo, vamos levar anos para proteger a população que mais precisa ser protegida

O que a senhora analisa que são os principais gargalos desse ritmo lento da vacinação?

O primeiro é óbvio: não tem vacina. É muito fácil responder

Se nós tivéssemos os milhões que nós precisamos, o que nós precisaríamos é ter agilidade

E o velho e tradicional e competente PNI, com nossa enorme experiência em saber vacinar, mais que outros países

somado, de par com essa capilaridade espetacular do SUS, seríamos capaz

Mas neste momento há uma situação nova

A pandemia de covid-19 mostrou que o Brasil pode ter o aparecimento necessário de um

novo voluntariado de qualidade

E isso nós temos visto

E o que nós estamos vivendo agora?

Eu mesmo tenho conversado, estive com a empresária Luiza Trajano em São Paulo, almocei com ela,

justamente porque ao me agregar ao movimento Mulheres do Brasil, que congrega uma quantidade enorme de pessoas, não só mulheres

se nós não tivermos o auxílio da iniciativa privada, que pode nos ajudar muito, e é isso que estamos discutindo

Eu sou completamente contrária à compra de vacinas pela iniciativa privada, já me

manifestei sobre isso n vezes

Isso no Brasil é indecente e imoral

Então o que nós precisamos é ter vacina provida pelo Governo Federal e a iniciativa

privada nos ajudar na logística, junto às prefeituras pequenas, que não tem a mesma

capacidade

Tem que ter avião, barco, caminhão refrigerado, geladeira, freezers a -20º se conseguirmos as vacinas

da Pfizer, já que agora não é mais necessário ter freezer a -80º, como o FDA já aprovou

Então o que nós precisamos agora é ter muita vacina produzida e uma capacidade logística

de grande envergadura para vacinar muita gente em pouco tempo

Com isso, vamos fazer com que a economia volte a funcionar com um pouco mais de liberdade. Sem isso, não tem jeito

As escolas não poderão reabrir com capacidade total, vamos continuar postergando...

Eu acho que os trabalhadores da área de educação têm que ser vacinados com prioridade depois

dos idosos e os trabalhadores da saúde, o próximo grupo tem que ser da educação

Para que possamos reabrir escolas fulltime, não da maneira como está funcionando

Nós já temos duas vacinas em uso, a Coronavac, feita pelo Butantan e Sinovac

E a vacina feita pela AstraZeneca, da Universidade de Oxford e Fiocruz, e nós temos a vacina da Pfizer aprovada e o governo federal

por meio do Ministério da Saúde, está em negociações com a Sputnik V, Covaxin, tem também a da Johnson & Johnson Esse é o momento de diversificar o portfólio de vacinas e como fazer isso de maneira rápida, mas que também respeite a evidência científica?

Nós já estamos atrasados

Poderíamos ter negociado com a Pfizer e a Johnson desde que eles começaram os estudos

de fase 3 tão bem conduzidos no Brasil

A vacina Sputnik, que é bastante semelhante, mesma plataforma da AstraZeneca, parece ser

uma vacina boa, mas carece de registro na Anvisa, que é nossa agência regulatória

Quando alguém me pergunta que vacina eu tomaria, eu digo qualquer uma, desde que aprovada pela

Anvisa

O que eu não tomaria é uma vacina que não passou pela Anvisa, pela grande qualidade

técnica que tem nossa agência regulatória

Acho que perdemos um tempo precioso, já poderíamos ter vacina da Pfizer e hoje estamos implorando

para negociar alguns poucos milhões do que está disponível

Não tem vacina pra todo mundo.

De novo, se nós lembrarmos aqui, 10 países já compraram 75% da produção mundial de vacina

Isso de novo revela essa enorme desigualdade do mundo

O Canadá tem cinco doses por habitante

O que o Canadá fará?

Isso não é bom nem ruim, não estou julgando

Mas o Canadá fará uma coisa correta, ele vai doar o excedente para o Covax, que vai

ser doado aos países que não podem

O Brasil também é signatário do mecanismo Covax Gavi, mas até agora não recebemos

uma dose

Diante do atual estágio da pandemia no país, do ritmo de vacinação

que recomendação a senhora deixaria para as pessoas que estão vendo esse vídeo,

sobre os cuidados que elas devem tomar e como elas deveriam se comportar e se precaver nos próximos dias e semanas?

Eu acho que as pessoas tem que entender que aconteceu o que era esperado, porém não

desejaríamos que não acontecesse

Quantas vezes eu disse: eu quero estar errada

Quando nós dissemos como uma crônica de morte anunciada, como um romance de

Garcia Marquez, que isso não acontecesse

Mas era previsível que houvesse uma segunda onda no Brasil, era previsível, da maneira como houve esse descompasso

Mais uma vez faria um pleito a todo mundo que entendesse que nós estamos num momento muito grave,

que o momento hoje é mais grave do ponto de vista epidemiológico do primeiro

pico epidêmico, que esse número de mortes é absolutamente intolerável e olha que ele não representa

o real, deve ter morte por aí que nem sabemos, que não é possível que nós não tenhamos um entendimento pessoal e coletivo

que nós temos que proteger nossas famílias, nossos colegas de trabalho e nos comportar,

ainda que reconheçamos que todos estamos cansados

Mas lembrando que epidemias são assim.

Essa é a primeira de uma geração mais jovem

Mas nós sabemos. Nós vivemos outras epidemias, vivemos o H1N1

Quando teve o H1N1, o Brasil estava preparado para enfrentar

Quando nós começamos a campanha, nós tínhamos 70 milhões de doses de vacina compradas,

estocadas, com seringa agulha e tudo

E não é o que está acontecendo agora

Agora é o momento de todos colaborarem, cada um fazer a sua parte, ajudar as autoridades,

ter consciência cívica, como eu tenho conclamado tantas vezes

Não adianta querer ser anárquico, desafiar uma ordem biológica que não é favorável

a nós, nesse momento

Ou nos comportamentos ou vamos colaborar para estatísticas que são terríveis

O que estamos vivendo é um filme de terror