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BBC Brasil 2019 (Áudio/Vídeo+CC), O que explica a cotação do dólar?

O que explica a cotação do dólar?

[May 31, 2019].

Preços de commodities, taxas de juros nos EUA, turbulência política na América Latina.

O preço que o brasileiro paga pelo dólar na casa de câmbio é resultado de uma combinação de diversos fatores.

E por isso mesmo é extremamente difícil de prever, mesmo para os economistas.

Eu sou Camilla Veras Mota, da BBC News Brasil aqui em São Paulo, e nesse vídeo, vou explicar o que influencia o preço da moeda americana, e por que ela é uma variável tão difícil de estimar.

A cotação do dólar reflete essencialmente a diferença entre oferta e demanda pela moeda.

Se há uma maior disponibilidade, o preço tende a cair.

Se muita gente está comprando ao mesmo tempo, o valor sobe.

A entrada de dólares aumenta, ou seja, a oferta aumenta, por exemplo, em períodos em que o Brasil tem superávits na balança comercial, quando exporta mais do que importa.

Isso aconteceu de forma quase contínua durante o chamado super ciclo de commodities, entre 2003 e 2011, quando o Brasil vendeu muita soja e minério de ferro para os chineses e o dólar chegou a custar menos de R$ 2.

Nessa época, a América Latina como um todo viu suas moedas apreciarem.

Ou seja, o dólar ficar mais barato.

O cenário agora é o oposto. Com a desaceleração da economia chinesa, o preço das matérias primas no mundo caiu, e mais recentemente a guerra comercial entre China e EUA mostrou que tem potencial para esfriar ainda mais o comércio a nível global.

Vou explicar melhor!

O aumento gradativo das tarifas de importação de um lado e de outro, pelo presidente Donald Trump e por Xi Jinping, o presidente chinês, acaba encarecendo as mercadorias e desestimulando as trocas como um todo.

É verdade que o Brasil pode se beneficiar em parte, da guerra comercial vendendo mais soja para os chineses, ocupando um espaço que era dos americanos, agora prejudicados com a sobretaxação dessa commodity.

Mas, de forma mais ampla, se EUA e China compram menos, o Brasil e diversos outros países vendem menos e recebem, portanto, menos dólares.

Além de bens, o Brasil transaciona serviços com o mundo.

Por isso, a balança de serviços também influencia na disponibilidade interna de dólar.

Nessa conta, divulgada mensalmente pelo Banco Central, entram desde os pagamentos efetuados e recebidos no exterior, lucros, juros e dividendos à prestação de serviços de fato: transportes, royalties e gastos com viagens internacionais.

A balança de serviços é, porém, estruturalmente deficitária (dificitária).

E um exemplo ilustrativo nesse sentido é o do turismo.

Dificilmente os visitantes estrangeiros gastam mais aqui do que os brasileiros deixam no exterior em suas viagens internacionais.

Ou seja, não dá para contar muito com essa fonte de entrada de dólares no Brasil.

Ela, na verdade, drena a moeda americana do país.

Outro componente determinante para aumentar ou reduzir a oferta interna de dólares é o comportamentos dos investidores, ou seja, se eles estão dispostos a colocar dinheiro aqui, ou se tem se bandeado para outros mercados.

E isso é uma resultante de fatores externos e internos, por exemplo, o sobe e desce de juros lá nos EUA têm reflexo direto sobre as moedas de praticamente todos os países emergentes.

Isso porque um aumento nas taxas de juros americanas eleva o retorno dos títulos da dívida pública, as 'Treasuries', considerados um dos investimentos mais seguros do mundo.

Um movimento como esse tende a reorientar os fluxos de investimentos de mercados mais arriscados, como o Brasil.

E os Estados Unidos estão passando, neste momento, por um ciclo de aumento de juros.

Ou de aperto monetário, no jargão econômico.

O país vinha mantendo suas taxas básicas em mínimas históricas desde a crise financeira de 2008 para tentar estimular a recuperação da economia.

Mas, depois de quase uma década próximas de zero, as taxas voltaram a subir em dezembro de 2015 passaram pela primeira vez de 1% em 2017 e tiveram quatro altas em 2018.

Hoje, elas estão no patamar de 2,25% a 2,5%.

Essa elevação responde, em parte, pela perda recente do valor do real e pela maxidesvalorização do peso argentino, que contribuiu para que o nosso vizinho mergulhasse de novo em uma crise.

Além do retorno em outros mercados, os investidores também observam as condições dentro do país antes de tomar uma decisão.

Turbulências políticas e sociais e outros acontecimentos que possam afetar suas expectativas de rendimento.

E aí que entra, por exemplo, o risco Brasil, que não capta apenas o risco doméstico, mas também o sentimento de apetite ou aversão ao risco em relação a países emergentes.

E historicamente, segundo o economista Livio Ribeiro, que é do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, os fatores globais são preponderantes para determinar a trajetória do câmbio aqui no Brasil, mas eventos domésticos, em geral, suavizam ou potencializam as tendências.

Vamos explicar isso melhor com um exemplo atual: nos últimos dois meses, o noticiário interno no Brasil tem pressionado ainda mais o real para baixo.

Entre os dias 1º e 27 de março, durante as brigas entre Bolsonaro e Rodrigo Maia sobre a tramitação da reforma da Previdência na Câmara, o real desvalorizou 5,8% em relação ao dólar.

De 27 de março a 8 de abril, por sua vez, que foi o período de descompressão das tensões entre Executivo e Legislativo, a moeda se recuperou e valorizou 3,04%.

Dessa forma, na avaliação do economista Guilherme Tinoco, enquanto o governo continuar sem foco e sem agenda, com dificuldade de formar maioria no Congresso para aprovar as reformas, o cenário interno vai continuar pressionando o real pra baixo.

Para vocês terem uma ideia de como o comportamento do dólar é resultado de uma série de fatores que agem de forma independente e ao mesmo tempo, o modelo econométrico, usado pelo Ibre da FGV, para tentar estimar a cotação da moeda americana leva em consideração a posição do dólar no mundo, se o dólar está mais forte ou mais fraco, o que aparece no índice conhecido como DXY, o preço das commodities, os juros nos EUA, especialmente as treasuries de dez anos, o diferencial de juros entre Brasil e EUA e o risco Brasil.

É muita coisa.

Então, pra você que quer viajar para fora e está acompanhado apreensivo o sobe e desce do dólar, que chega lá nos quatro reais depois desce um pouquinho, não tem segredo.

O negócio é ir comprando aos pouquinhos para se proteger de desvalorizações abruptas.

Se você for conversar com um economista, ele vai te dizer a mesma coisa.

Agora, um último ponto. Além de encarecer as viagens para o exterior, o dólar forte tem um impacto importante na economia.

Isso porque todos os bens que vêm de fora ficam mais caros, e não só os acabados, aqueles que vão para as prateleiras das lojas de importados.

Mas também os intermediários e as matérias-primas usadas pela indústria nacional.

Qual o resultado disso?

Tudo acaba ficando mais caro, a inflação aumenta e o poder de compra da população cai.

Esse impacto da desvalorização cambial sobre os preços, que é chamada de "pass-through" no jargão econômico, varia conforme o país e o momento da economia.

No Brasil, por exemplo, ele já foi maior.

A recessão e a recuperação lenta da atividade reduziram a potência desse repasse.

Já na Argentina, que tem a economia bastante dolarizada e um nível pequeno de reservas na moeda americana, o efeito foi explosivo e levou a inflação aos atuais 54%.

Aliás, a gente tem um outro vídeo sobre a economia dos hermanos.

A gente vai deixar o link ai para vocês.

E o link para a matéria completa sobre câmbio vai estar aqui nós comentários.

Muito obrigada pela companhia, até a próxima, e tchau!

O que explica a cotação do dólar? Wie erklärt sich der Dollarkurs? What explains the dollar? ドルを説明するものは何か?

[May 31, 2019].

Preços de commodities, taxas de juros nos EUA, turbulência política na América Latina.

O preço que o brasileiro paga pelo dólar na casa de câmbio é resultado de uma combinação de diversos fatores.

E por isso mesmo é extremamente difícil de prever, mesmo para os economistas.

Eu sou Camilla Veras Mota, da BBC News Brasil aqui em São Paulo, e nesse vídeo, vou explicar o que influencia o preço da moeda americana, e por que ela é uma variável tão difícil de estimar.

A cotação do dólar reflete essencialmente a diferença entre oferta e demanda pela moeda.

Se há uma maior disponibilidade, o preço tende a cair.

Se muita gente está comprando ao mesmo tempo, o valor sobe.

A entrada de dólares aumenta, ou seja, a oferta aumenta, por exemplo, em períodos em que o Brasil tem superávits na balança comercial, quando exporta mais do que importa.

Isso aconteceu de forma quase contínua durante o chamado super ciclo de commodities, entre 2003 e 2011, quando o Brasil vendeu muita soja e minério de ferro para os chineses e o dólar chegou a custar menos de R$ 2.

Nessa época, a América Latina como um todo viu suas moedas apreciarem.

Ou seja, o dólar ficar mais barato.

O cenário agora é o oposto. Com a desaceleração da economia chinesa, o preço das matérias primas no mundo caiu, e mais recentemente a guerra comercial entre China e EUA mostrou que tem potencial para esfriar ainda mais o comércio a nível global.

Vou explicar melhor!

O aumento gradativo das tarifas de importação de um lado e de outro, pelo presidente Donald Trump e por Xi Jinping, o presidente chinês, acaba encarecendo as mercadorias e desestimulando as trocas como um todo.

É verdade que o Brasil pode se beneficiar em parte, da guerra comercial vendendo mais soja para os chineses, ocupando um espaço que era dos americanos, agora prejudicados com a sobretaxação dessa commodity.

Mas, de forma mais ampla, se EUA e China compram menos, o Brasil e diversos outros países vendem menos e recebem, portanto, menos dólares.

Além de bens, o Brasil transaciona serviços com o mundo.

Por isso, a balança de serviços também influencia na disponibilidade interna de dólar.

Nessa conta, divulgada mensalmente pelo Banco Central, entram desde os pagamentos efetuados e recebidos no exterior, lucros, juros e dividendos à prestação de serviços de fato: transportes, royalties e gastos com viagens internacionais.

A balança de serviços é, porém, estruturalmente deficitária (dificitária).

E um exemplo ilustrativo nesse sentido é o do turismo.

Dificilmente os visitantes estrangeiros gastam mais aqui do que os brasileiros deixam no exterior em suas viagens internacionais.

Ou seja, não dá para contar muito com essa fonte de entrada de dólares no Brasil.

Ela, na verdade, drena a moeda americana do país.

Outro componente determinante para aumentar ou reduzir a oferta interna de dólares é o comportamentos dos investidores, ou seja, se eles estão dispostos a colocar dinheiro aqui, ou se tem se bandeado para outros mercados.

E isso é uma resultante de fatores externos e internos, por exemplo, o sobe e desce de juros lá nos EUA têm reflexo direto sobre as moedas de praticamente todos os países emergentes.

Isso porque um aumento nas taxas de juros americanas eleva o retorno dos títulos da dívida pública, as 'Treasuries', considerados um dos investimentos mais seguros do mundo.

Um movimento como esse tende a reorientar os fluxos de investimentos de mercados mais arriscados, como o Brasil.

E os Estados Unidos estão passando, neste momento, por um ciclo de aumento de juros.

Ou de aperto monetário, no jargão econômico.

O país vinha mantendo suas taxas básicas em mínimas históricas desde a crise financeira de 2008 para tentar estimular a recuperação da economia.

Mas, depois de quase uma década próximas de zero, as taxas voltaram a subir em dezembro de 2015 passaram pela primeira vez de 1% em 2017 e tiveram quatro altas em 2018.

Hoje, elas estão no patamar de 2,25% a 2,5%.

Essa elevação responde, em parte, pela perda recente do valor do real e pela maxidesvalorização do peso argentino, que contribuiu para que o nosso vizinho mergulhasse de novo em uma crise.

Além do retorno em outros mercados, os investidores também observam as condições dentro do país antes de tomar uma decisão.

Turbulências políticas e sociais e outros acontecimentos que possam afetar suas expectativas de rendimento.

E aí que entra, por exemplo, o risco Brasil, que não capta apenas o risco doméstico, mas também o sentimento de apetite ou aversão ao risco em relação a países emergentes.

E historicamente, segundo o economista Livio Ribeiro, que é do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, os fatores globais são preponderantes para determinar a trajetória do câmbio aqui no Brasil, mas eventos domésticos, em geral, suavizam ou potencializam as tendências.

Vamos explicar isso melhor com um exemplo atual: nos últimos dois meses, o noticiário interno no Brasil tem pressionado ainda mais o real para baixo.

Entre os dias 1º e 27 de março, durante as brigas entre Bolsonaro e Rodrigo Maia sobre a tramitação da reforma da Previdência na Câmara, o real desvalorizou 5,8% em relação ao dólar.

De 27 de março a 8 de abril, por sua vez, que foi o período de descompressão das tensões entre Executivo e Legislativo, a moeda se recuperou e valorizou 3,04%.

Dessa forma, na avaliação do economista Guilherme Tinoco, enquanto o governo continuar sem foco e sem agenda, com dificuldade de formar maioria no Congresso para aprovar as reformas, o cenário interno vai continuar pressionando o real pra baixo.

Para vocês terem uma ideia de como o comportamento do dólar é resultado de uma série de fatores que agem de forma independente e ao mesmo tempo, o modelo econométrico, usado pelo Ibre da FGV, para tentar estimar a cotação da moeda americana leva em consideração a posição do dólar no mundo, se o dólar está mais forte ou mais fraco, o que aparece no índice conhecido como DXY, o preço das commodities, os juros nos EUA, especialmente as treasuries de dez anos, o diferencial de juros entre Brasil e EUA e o risco Brasil.

É muita coisa.

Então, pra você que quer viajar para fora e está acompanhado apreensivo o sobe e desce do dólar, que chega lá nos quatro reais depois desce um pouquinho, não tem segredo.

O negócio é ir comprando aos pouquinhos para se proteger de desvalorizações abruptas.

Se você for conversar com um economista, ele vai te dizer a mesma coisa.

Agora, um último ponto. Além de encarecer as viagens para o exterior, o dólar forte tem um impacto importante na economia.

Isso porque todos os bens que vêm de fora ficam mais caros, e não só os acabados, aqueles que vão para as prateleiras das lojas de importados.

Mas também os intermediários e as matérias-primas usadas pela indústria nacional.

Qual o resultado disso?

Tudo acaba ficando mais caro, a inflação aumenta e o poder de compra da população cai.

Esse impacto da desvalorização cambial sobre os preços, que é chamada de "pass-through" no jargão econômico, varia conforme o país e o momento da economia.

No Brasil, por exemplo, ele já foi maior.

A recessão e a recuperação lenta da atividade reduziram a potência desse repasse.

Já na Argentina, que tem a economia bastante dolarizada e um nível pequeno de reservas na moeda americana, o efeito foi explosivo e levou a inflação aos atuais 54%.

Aliás, a gente tem um outro vídeo sobre a economia dos hermanos.

A gente vai deixar o link ai para vocês.

E o link para a matéria completa sobre câmbio vai estar aqui nós comentários.

Muito obrigada pela companhia, até a próxima, e tchau!