×

We use cookies to help make LingQ better. By visiting the site, you agree to our cookie policy.


image

BBC News 2021 (Brasil), Mucormicose: 5 perguntas sobre a rara infecção conhecida como 'fungo negro', ligada à covid-19

Mucormicose: 5 perguntas sobre a rara infecção conhecida como 'fungo negro', ligada à covid-19

A mucormicose, também também como fungo negro, está piorando a já complicada crise

de covid-19 na Índia.

Alguns médicos chamam a doença de uma espécie de pesadelo dentro da pandemia.

O governo indiano já decretou o problema como uma epidemia.

Os casos não estão ocorrendo apenas na Índia, mas também no Brasil e em outros países

do mundo em menor quantidade.

No fim de maio, por exemplo, o jornal El País, do Uruguai, informou que um homem de 50 anos

que tinha se recuperado da covid foi diagnosticado com mucormicose.

Sou Matheus Magenta, da BBC News Brasil, e neste vídeo respondemos 5 perguntas-chave

sobre a doença e sua relação com o coronavírus.

Por causa da alta letalidade, muitos médicos consideram a mucormicose um desafio ainda

maior que a covid-19.

Mas vamos começar do começo:

O que é a mucormicose e quais são os sintomas?

Como o apelido fungo negro já diz, trata-se de uma infecção por fungos.

Em situações normais, a doença é rara.

Ela é causada pela exposição ao mucor, um fungo encontrado no solo, nas plantas,

em fertilizantes e em frutas e verduras em decomposição.

Ela também é chamada de fungo negro por causa de um dos sintomas da doença, que é

o possível surgimento de manchas escuras na pele em volta do nariz.

Os pacientes geralmente apresentam sinais como congestão e sangramento nasal, inchaço

e dor nos olhos e problemas de visão.

A mucormicose afeta os seios paranasais, o cérebro e os pulmões, e pode ser potencialmente

mortal em pessoas com problemas graves de imunidade.

É o caso, por exemplo, de pacientes com câncer ou pessoas que desenvolvem a Aids, doença

causada pelo vírus HIV quando ele não é controlado.

O que mais preocupa no caso da mucormicose é que a quantidade de pessoas que morre.

54%, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos.

Só para ter uma ideia, estima-se que a covid-19 mate entre 2% e 3%.

A doença não é contagiosa, ou seja, não se espalha pelo contato entre humanos ou com

animais.

A transmissão ocorre pelo contato com os esporos, que são pequenas estruturas produzidas

por bactérias, plantas e, neste caso, fungos.

Esses esporos são produzidos em grande quantidade, e estão presentes no ar e no meio ambiente.

Ou seja, são quase impossíveis de evitar.

Mas qual é o tamanho da crise?

Essa é uma doença rara.

A título de comparação, o Brasil registrou 36 casos em 2020 e 29 casos em 2021, sem relação

confirmada com coronavírus.

Mas a Índia está em outro patamar.

Foram cerca de nove mil casos nos últimos meses.

Mais da metade dos doentes estão em apenas dos estados do oeste do país.

Mas como pelo menos outros 15 Estados já registraram centenas de casos, o governo indiano

pediu a 29 regiões do país que declarem a doença como epidemia.

O que acendeu o alerta dos médicos da Índia é que a mucormicose estava surgindo em pessoas

que tinham se recuperado da covid-19.

E isso nos leva à próxima pergunta.

Qual a relação entre a mucormicose e o coronavírus?

Vários médicos que estão tratando pessoas com mucormicose na Índia contaram à BBC

que os sintomas podem aparecer entre 12 e 18 dias depois de o paciente se recuperar

da covid.

Um desses médicos disse que a maioria das pessoas que ele tratou com mucormicose era

de homens que tinham sido medicados com esteroides quando tiveram covid-19.

Além disso, a maioria era diabética.

O que também é o caso do paciente do Uruguai, que eu mencionei no início do vídeo.

Ele tinha se recuperado da covid cerca de dez dias antes.

Segundo os médicos da Índia, tudo indica que a principal causa da infecção por esse

fungo tenha a ver justamente com o uso dos esteroides.

Esse tipo de remédio, como a dexametasona, têm ajudado a salvar milhares de vidas de

pacientes com covid-19.

Isso porque eles reduzem a inflamação nos pulmões e ajudam a conter alguns dos danos

que podem ocorrer quando o sistema imunológico fica acelerado para combater o coronavírus.

O problema seria que esses remédios fazem isso justamente inibindo o sistema imunológico,

o que daria a esses fungos a oportunidade perfeita para se espalhar.

Outra coisa é que os esteroides levam ao aumento do nível de açúcar no sangue dos

pacientes com covid, tanto os diabéticos como os não diabéticos.

O que complica ainda mais a situação.

Isso porque a diabetes, que neste caso é induzida pelos esteroides, diminui as defesas

do corpo, criando um terreno fértil ideal para a multiplicação do fungo.

Em pacientes saudáveis, o sistema imunológico é o responsável por manter esse fungo sob

controle.

Por isso a doença é rara.

E qual é o tratamento?

Os médicos da Índia dizem que a maioria dos pacientes chegam tarde demais para serem

tratados, quando já estão perdendo a visão.

O diretor médico de um hospital indiano contou para a BBC que mais de 80% dos infectados

com o fungo precisam ser operados imediatamente.

E se os pacientes não recebem tratamento adequado a tempo, a mortalidade pode chegar

a até 94%.

As cirurgias para frear a infecção são traumáticas.

Às vezes é necessário retirar o olho para evitar que a infecção chegue ao cérebro.

Os únicos medicamentos eficazes são os antimicóticos.

E não é um tratamento barato: envolve uma injeção antifúngica intravenosa que precisa

ser administrada todos os dias durante oito semanas.

Por tudo isso, a batalha contra a mucormicose se transformou num grande desafio para o já

saturado sistema de saúde da Índia, que colapsou por causa da pandemia.

Até o momento em que eu gravo este vídeo, já são mais de 28 milhões de casos de covid-19

e mais de 320 mil mortes na Índia.

Chegamos à última pergunta: por que isso está acontecendo na Índia?

Como eu mencionei no começo do vídeo, outros países também estão registrando casos.

Mas o que está acontecendo na Índia tem uma dimensão muito maior.

Segundo alguns especialistas, lá a mucormicose encontrou o cenário perfeito para se espalhar.

Pra começar, um dos fatores de risco para a doença é a diabetes.

E a Índia tem uma das maiores taxas de adultos diabéticos no mundo.

Além disso, a crise do coronavírus fez disparar o uso de respiradores artificiais e ventiladores

mecânicos na Índia.

Para alguns especialistas, esses equipamentos podem ser um elemento propagador do fungo.

Outro ponto é que muitos hospitais enfrentaram escassez de oxigênio e medicamentos durante

a segunda onda de coronavírus na Índia.

Isso fez com que os médicos recorressem ainda mais aos esteroides para enfrentar a covid.

Segundo um especialista em diabetes de Mumbai que falou com a BBC, um fator chave para a

prevenção da mucormicose é administrar a dose correta de esteroides.

E só durante o tempo necessário.

Também é importante acompanhar os níveis de açúcar no sangue dos pacientes de covid

após a alta hospital.

A gente, da BBC News Brasil, vai continuar acompanhando isso de perto.

Bem, é isso.

Ficou alguma dúvida?

Deixa aqui nos comentários.

Acompanhe nossa cobertura no nosso site, o bbcbrasil.com, nas redes sociais e não deixe

de se inscrever no nosso canal do YouTube para ficar por dentro dos novos vídeos.

Até a próxima!


Mucormicose: 5 perguntas sobre a rara infecção conhecida como 'fungo negro', ligada à covid-19 Mukormykose: 5 Fragen zu der seltenen Infektion, die als "schwarzer Pilz" bekannt ist und mit Covid-19 in Verbindung gebracht wird Mucormycosis: 5 questions about the rare infection known as 'black fungus', linked to covid-19 Mukormykoza: 5 pytań na temat rzadkiej infekcji znanej jako "czarny grzyb", powiązanej z COVID-19 毛黴菌病:關於與 covid-19 相關的被稱為「黑真菌」的罕見感染的 5 個問題

A mucormicose, também também como fungo negro, está piorando a já complicada crise

de covid-19 na Índia.

Alguns médicos chamam a doença de uma espécie de pesadelo dentro da pandemia.

O governo indiano já decretou o problema como uma epidemia.

Os casos não estão ocorrendo apenas na Índia, mas também no Brasil e em outros países

do mundo em menor quantidade.

No fim de maio, por exemplo, o jornal El País, do Uruguai, informou que um homem de 50 anos

que tinha se recuperado da covid foi diagnosticado com mucormicose.

Sou Matheus Magenta, da BBC News Brasil, e neste vídeo respondemos 5 perguntas-chave

sobre a doença e sua relação com o coronavírus.

Por causa da alta letalidade, muitos médicos consideram a mucormicose um desafio ainda

maior que a covid-19.

Mas vamos começar do começo:

O que é a mucormicose e quais são os sintomas?

Como o apelido fungo negro já diz, trata-se de uma infecção por fungos.

Em situações normais, a doença é rara.

Ela é causada pela exposição ao mucor, um fungo encontrado no solo, nas plantas,

em fertilizantes e em frutas e verduras em decomposição.

Ela também é chamada de fungo negro por causa de um dos sintomas da doença, que é

o possível surgimento de manchas escuras na pele em volta do nariz.

Os pacientes geralmente apresentam sinais como congestão e sangramento nasal, inchaço

e dor nos olhos e problemas de visão.

A mucormicose afeta os seios paranasais, o cérebro e os pulmões, e pode ser potencialmente

mortal em pessoas com problemas graves de imunidade.

É o caso, por exemplo, de pacientes com câncer ou pessoas que desenvolvem a Aids, doença

causada pelo vírus HIV quando ele não é controlado.

O que mais preocupa no caso da mucormicose é que a quantidade de pessoas que morre.

54%, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos.

Só para ter uma ideia, estima-se que a covid-19 mate entre 2% e 3%.

A doença não é contagiosa, ou seja, não se espalha pelo contato entre humanos ou com

animais.

A transmissão ocorre pelo contato com os esporos, que são pequenas estruturas produzidas

por bactérias, plantas e, neste caso, fungos.

Esses esporos são produzidos em grande quantidade, e estão presentes no ar e no meio ambiente.

Ou seja, são quase impossíveis de evitar.

Mas qual é o tamanho da crise?

Essa é uma doença rara.

A título de comparação, o Brasil registrou 36 casos em 2020 e 29 casos em 2021, sem relação

confirmada com coronavírus.

Mas a Índia está em outro patamar.

Foram cerca de nove mil casos nos últimos meses.

Mais da metade dos doentes estão em apenas dos estados do oeste do país.

Mas como pelo menos outros 15 Estados já registraram centenas de casos, o governo indiano

pediu a 29 regiões do país que declarem a doença como epidemia.

O que acendeu o alerta dos médicos da Índia é que a mucormicose estava surgindo em pessoas

que tinham se recuperado da covid-19.

E isso nos leva à próxima pergunta.

Qual a relação entre a mucormicose e o coronavírus?

Vários médicos que estão tratando pessoas com mucormicose na Índia contaram à BBC

que os sintomas podem aparecer entre 12 e 18 dias depois de o paciente se recuperar

da covid.

Um desses médicos disse que a maioria das pessoas que ele tratou com mucormicose era

de homens que tinham sido medicados com esteroides quando tiveram covid-19.

Além disso, a maioria era diabética.

O que também é o caso do paciente do Uruguai, que eu mencionei no início do vídeo.

Ele tinha se recuperado da covid cerca de dez dias antes.

Segundo os médicos da Índia, tudo indica que a principal causa da infecção por esse

fungo tenha a ver justamente com o uso dos esteroides.

Esse tipo de remédio, como a dexametasona, têm ajudado a salvar milhares de vidas de

pacientes com covid-19.

Isso porque eles reduzem a inflamação nos pulmões e ajudam a conter alguns dos danos

que podem ocorrer quando o sistema imunológico fica acelerado para combater o coronavírus.

O problema seria que esses remédios fazem isso justamente inibindo o sistema imunológico,

o que daria a esses fungos a oportunidade perfeita para se espalhar.

Outra coisa é que os esteroides levam ao aumento do nível de açúcar no sangue dos

pacientes com covid, tanto os diabéticos como os não diabéticos.

O que complica ainda mais a situação.

Isso porque a diabetes, que neste caso é induzida pelos esteroides, diminui as defesas

do corpo, criando um terreno fértil ideal para a multiplicação do fungo.

Em pacientes saudáveis, o sistema imunológico é o responsável por manter esse fungo sob

controle.

Por isso a doença é rara.

E qual é o tratamento?

Os médicos da Índia dizem que a maioria dos pacientes chegam tarde demais para serem

tratados, quando já estão perdendo a visão.

O diretor médico de um hospital indiano contou para a BBC que mais de 80% dos infectados

com o fungo precisam ser operados imediatamente.

E se os pacientes não recebem tratamento adequado a tempo, a mortalidade pode chegar

a até 94%.

As cirurgias para frear a infecção são traumáticas.

Às vezes é necessário retirar o olho para evitar que a infecção chegue ao cérebro.

Os únicos medicamentos eficazes são os antimicóticos.

E não é um tratamento barato: envolve uma injeção antifúngica intravenosa que precisa

ser administrada todos os dias durante oito semanas.

Por tudo isso, a batalha contra a mucormicose se transformou num grande desafio para o já

saturado sistema de saúde da Índia, que colapsou por causa da pandemia.

Até o momento em que eu gravo este vídeo, já são mais de 28 milhões de casos de covid-19

e mais de 320 mil mortes na Índia.

Chegamos à última pergunta: por que isso está acontecendo na Índia?

Como eu mencionei no começo do vídeo, outros países também estão registrando casos.

Mas o que está acontecendo na Índia tem uma dimensão muito maior.

Segundo alguns especialistas, lá a mucormicose encontrou o cenário perfeito para se espalhar.

Pra começar, um dos fatores de risco para a doença é a diabetes.

E a Índia tem uma das maiores taxas de adultos diabéticos no mundo.

Além disso, a crise do coronavírus fez disparar o uso de respiradores artificiais e ventiladores

mecânicos na Índia.

Para alguns especialistas, esses equipamentos podem ser um elemento propagador do fungo.

Outro ponto é que muitos hospitais enfrentaram escassez de oxigênio e medicamentos durante

a segunda onda de coronavírus na Índia.

Isso fez com que os médicos recorressem ainda mais aos esteroides para enfrentar a covid.

Segundo um especialista em diabetes de Mumbai que falou com a BBC, um fator chave para a

prevenção da mucormicose é administrar a dose correta de esteroides.

E só durante o tempo necessário.

Também é importante acompanhar os níveis de açúcar no sangue dos pacientes de covid

após a alta hospital.

A gente, da BBC News Brasil, vai continuar acompanhando isso de perto.

Bem, é isso.

Ficou alguma dúvida?

Deixa aqui nos comentários.

Acompanhe nossa cobertura no nosso site, o bbcbrasil.com, nas redes sociais e não deixe

de se inscrever no nosso canal do YouTube para ficar por dentro dos novos vídeos.

Até a próxima!