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Buenas Ideias, GUERRA DE CANUDOS | EDUARDO BUENO

GUERRA DE CANUDOS | EDUARDO BUENO

Vamos almoçar em Canudos? Vamos almoçar em Canudos? Vamos almoçar em Canudos? Ele foi

almoçado em Canudos, foi isso que aconteceu. Cano! Cano! Venha ver o Brasil entrar pelo

cano, em Canudos.

Nada como morar num lugar manso e pacífico,

o lugar do homem cordial, um país brando. Tá certo que de vez em quando tem um

massacrezinho em outro, né? O Carandiru, o Contestado, Canudos. Canudos!

Uma das mais trágicas e terríveis histórias do Brasil. Pelo menos acabou

virando uma obra prima da literatura mundial, né?

"Os sertões" de Euclides da Cunha, mas é um preço muito alto pra pagar por tanta

vida, né? A história começa é claro no solo infértil e fecundo para

tragédias do sertão da Bahia. Era uma crise generalizada: os engenheos tinham

entrado em decadência, tinha tido o fim da escravidão, havia um monte de gente

perambulando e tinha tido, em 1878, a terrível seca de 1878 que, só no Ceará,

matou 100 mil pessoas.

Foi nesse nesse solo fecundo para tragédias que começou um nômade a viajar

por ali, Ele viria a se chamará Antônio Conselheiro porque o nome dele claro era

outro antes, era Antônio Maciel. Ele é o que se pode chamar de um looser, tinha dado

tudo errado na vida do cara. Ele tinha sido professor, tinha sido demitido, tinha

sido vendedor ambulante, não tinha dado certo, tinha sido abandonado pela mulher

e ele se tornou uma seta, se tornou uma espécie de cangaceiro místico

perambulando pelo mar areento do sertão, que estava à deriva naquele mar quando

começou a juntar uma série de seguidores. Ele sugeria que as pessoas

reconstruíssem os cemitérios que estavam abandonados, que caiassem de branco as

igrejas e que levassem uma vida de meditação e de ascetismo, pois em 1890,

meu chapa, ele já tinha oito mil seguidores.

Ele era tão magro, que o Mário Vargas Llosa, o grande escritor peruano, que

escreveu um livro também sobre Canudos, disse que ele parecia estar sempre de

lado, de tão magro que o sujeito era, porque ele de fato se tornou uma seta.

Ele acabou encontrando um porto seguro naquele mar de areia do sertão da Bahia,

numa fazenda abandonada chamada Monte Belo, que depois viria a se chamar

Canudos. Ali, ele criou um arraial, um arraial que

acabou virando um outro Brasil, que acabou virando uma utopia evangélica.

Nesse arraial, que acabou tendo cinco mil e duzentas casas, onde moravam 20 mil

pessoas. Eles criaram uma espécie de utopia

evangélica mesmo porque as roças eram coletivas. Eles plantavam milho,

plantavam mandioca, plantavam feijão e começaram a criar cabra e com o couro da

cabra, com a carne da cabra, com queijo de cabra, com o leite da cabra, eles se

tornaram auto-sustentáveis. Os couros de cabra de Canudos chegaram a ser

exportados para os Estados Unidos e o arraial começou a florescer à sombra do

poder central, à sombra do Brasil, à sombra de um Brasil que nunca se

interessou pelos seus desvalidos. O líder inconteste daquele local era

justamente o Antônio Conselheiro, o homem que dava conselhos. Tudo parecia ir bem,

quando no fim de 1895, o Conselheiro comprou uma grande partida de madeira ,de

novas toras de madeira para construir uma igreja ainda maior do que ele já

tinha feito. Ele pagou a madeira e a madeira não foi entregue! Não entregaram

a madeira, aí os seus seguidores disseram

"nós já pagamos a madeira, a gente quer madeira". Isso foi em Juazeiro e é importante

inclusive salientar que Juazeiro era a maior cidade do norte da Bahia, tinha

três mil habitantes, Salvador tinha 20 mil habitantes.

Canudos tinha 25 mil habitantes, então eles disseram "nós vamos a Juazeiro

pegar essa madeira na marra". Aí a a elite de Juazeiro, o prefeito de Juazeiro, o chefe

da polícia de Juazeiro já começaram a dizer "os fanáticos! Os fanáticos virão aqui pegar

madeira só porque já pagaram pela madeira e não receberam eles querem a

madeira deles". E aí fizeram uma força policial com 100 homens pra enfrentar os

sertanejos, que vieram buscar sua madeira porque de fato foram 300, aí deu um

confronto entre eles morreram 150 sertanejos e morreram apenas dez

soldados e 16 ficaram feridos, mas foi considerado uma afronta ao exército

nacional. Fora que, um pouco antes, o Conselheiro já tinha rasgado vários

panfletos do recém surgido regime republicano.

Recém não, né? 1889. A República, nós já estamos em 1895, portanto, os seis anos,

mas é muito próximo, inclusive a notícia demorou um tempão para chegar lá no

Arraial de Canudos, o Conselheiro se dizia monarquista especialmente porque

havia tido, com a República, a separação entre a Igreja e o Estado. E o conselheiro

era totalmente favorável a um estado religioso e não a um estado laico.

Além de tudo, mudar os impostos municipais por causa da República.

Começaram a cobrar impostos lá em Canudos, o Conselheiro disse "pô, vocês nunca me não deram nada

e agora querem que eu pague imposto," Né? Então já começou essa fermentação que eclodiu

nesse confronto, que começou por causa de uma deslealdade comercial por parte de um

vendedor de madeira de Juazeiro, né? Mas como os carros acabaram matando

esses dez soldados e ferindo outros 16, as forças policiais da Bahia e o próprio

exército resolveram reagir atacando Canudos e foram atacar Canudos e

então, alguns meses depois, desse ataque, que foi em agosto 96, em novembro de

1896, o exército enviou, coordenado pelo

Tenente Febrônio. Bom nome, né? Tenente Febrônio. Uma partida de 583 soldados

para atacar em Canudos e, no dia 24 de janeiro de 1896, levou uma surra.

Levou uma surra dos sertanejos porque eles já tinham sido avisados que

caras vão atacar, emboscaram ele num despenhadeiro, num vale na chegada de

Canudos e desbarataram e botaram em fuga os 583 soldados do tenente Febrônio e os caras

fugiram deixando as armas deles pra trás, ou seja, os sertanejos passaram a ter

armas melhores do que as que então tinham. Bom, virou um escândalo, a história

chegou no Rio de Janeiro, né? "Monarquistas! Monarquistas estão atacando

o honroso Exército Nacional, é preciso reagir. O que o Prudente de Morais, que

já então estava sendo chamado pela imprensa republicana de Prudente

Demais porque não tinha tomado as atitudes corretas para dizimar

aquele gentalha miserável, aqueles nordestinos infelizes, aqueles evangélico desgraçados.

Por que o presidente não reage? Aí o presidente chamou quem? Chamou quem?

Chamou o Moreira César, chamou o Moreira César. Quem era o Moreira César?

Moreira César era um coronel do exército, que já tinha tomado parte na Revolta da

Armada, combatendo a Revolta da Armada, né? Que era a Revolta da Marinha e o exército

combateu logo no início da República, já tinha assassinado um jornalista com

uma facada pelas costas porque o jornalista falava mal do exército

brasileiro e depois tinha participado da da repressão à Revolta Federalista de

1893 na ilha de Santa Catarina, né? Mandando matar 49 pessoas em

execuções sumárias e fuzilamentos porque tinham se revoltado contra o governo do

Floriano Peixoto e ainda por cima mudou o nome da capital da ilha de Santa

Catarina, aquela cidade do desterro para Florianópolis, o nome do algoz,

aliás como é que Florianópolis continua mantendo o nome Florianópolis? Mas esse é

outro assunto, outro assunto ainda é que esse Moreira César era epilético, tipo eu

assim, epilético o Moreira César. Aí o Prudente de Morais chamou o Moreira César "vai lá e

destrói aqueles caras, arrasa aqueles caras, trucida aqueles caras".

E o Moreira César foi para a Bahia, saiu aqui do Rio de Janeiro com 1.500

homens, com 15 milhões de cartuchos e com 6 canhões grupo recém comprados da

Alemanha pra arrasar aquela gente. Chegaram a Salvador, de Salvador se dirigiram até o

interior lá, demoraram um tempão e aí chegaram nas proximidades de Canudos e o

que aconteceu? Em março de 1897, eles enfim chegaram nos arredores de Canudos,

em Monte Santo, olha o nome do lugar, pertinho de Monte Belo e aí o Moreira César disse

"Vamos almoçar em Canudos", achou que era um lanche. Ele com 1.500 homens, com 15

milhões de cartuchos, com seis canhões.

Só que daí,

ele teve um ataque epilético. É verdade, não é piada, ele teve um

ataque epilético. Tiveram que cancelar a primeira ordem de ataque, ele se

recuperou do ataque epilético e teve outro ataque epilético, no sentido

metafórico agora, e resolveu atacar Canudos e disse

"Vamos atacar com baionetas, nem precisa gastar bala com esses caras" e entrou

naquele labirinto de ruelas e casebres de Canudos, os caras estavam tudo tocaiado

lá, meu chapa, e dizimaram a tropa do Moreira César e ele levou um tiro na

barriga, ficou agonizando durante 12 horas o miserável antes de morrer. Morreu.

Está no inferno não há dúvida e aí ainda disse se eu sobreviver vou renunciar ao

exército, vou me demitir do exército por causa dessa humilhação.

Humilhação total e completa mesmo. Perderam de novo, 3 a 0 para Canudos

Canudos 3, Brasil 0. Bom, aí abril de 1897 quando chega essa

notícia, no Rio de Janeiro, as pessoas, os republicanos, os jacobinos invadem os

jornais, dois jornais monarquista e matam o diretor de redação de um desses

jornais, matam um editor de um outro jornal desse, é uma confusão total.

"Vamos! Exigimos! Exigimos! A destruição completa e absoluta de Canudos, aí em

agosto de 1897, o próprio Ministro da Guerra,

o tal Marechal Carlos Bittencourt, que depois seria morto, você já viu isso aqui no

"Não vai cair no Enem", no episódio O Vice Golpista, está

aparecendo aqui em cima, veja O Vice Golpista, veja O Vice Golpista

É o cara que tentou salvar o Prudente de Moraes e acabou morrendo e o

próprio Ministro da Guerra foi para Canudos e, nessa expedição, foi também o

jornalista Euclides da Cunha, que trabalhava para o jornal Estado de São

Paulo e foi com a certeza de que ia documentar o fim de uma insurreição de

monarquistas, de inimigos do governo. Chegando lá, ele percebeu o que estava

acontecendo. Era um confronto entre o Brasil das elites, o Brasil urbano,

o Brasil que nunca entendeu os seus desvalidos contra um Brasil, de pobres e

miseráveis, que tinham deixado de ser pobres e miseráveis e tinham

encontrado um outro jeito de sobrevivência numa espécie de brasil

alternativo. Ele percebeu isso e ele viu todo o massacre porque daí eles foram

atacados em agosto e setembro de 1897, no dia 22 de setembro de 1997, o Conselheiro

morreu, provavelmente disenteria, daí o Arraial botou uma bandeira branca, não e os

caras ainda levaram um canhão chamado "A matadeira", botaram o canhão em cima de

um lugar que chamava morro da favela, morro da favela e PUM, com um canhão

gigante para atacar Canudos, dizimaram Canudos, mataram todo mundo.

25 mil mortos, cortaram a cabeça do Conselheiro, que foi levada para ser

estudada pelo cientista Nina Rodrigues, um cara famoso no estudo da escravidão.

Vai ver quem é o Nina Rodrigues, que estudou o cérebro do Conselheiro e

concluiu que o cérebro conselheiro era normal. O que não era normal é o cérebro de

outras pessoas, né cara? Aí esse conflito claro que ficaria registrado para a história

mas ele não tomaria dimensão épica, a dimensão com homérica que tomou porque

ele encontrou o seu Homero, né? O seu equivalente a um poeta homérico no

Euclides da Cunha, que escreveu o extraordinário livro "Os sertões", na qual

escreve trata-se de um crime, vamos denunciá lo e ele fez esse livro

denúncia e hoje a história de Canudos sobrevive no imaginário, só que o brasil

ainda não mudou o suficiente, para que possa conviver em plena harmonia com

esses dois brasis tão distintos.

Então é um fim meio para baixo esse, né? Mas é que o episódio é meio para baixo.

De qualquer forma, leia Os Sertões e continue evidentemente ligado no canal

Bueno Idéias. Tchau. Vou chorar no canto.

O que você acaba de ver está repleto de

generalizações e simplificações, mas o quadro geral era esse aí mesmo agora se

você quiser saber como as coisas de fato for a então você vai ter que ler.


GUERRA DE CANUDOS | EDUARDO BUENO CANUDOS WAR | EDUARDO BUENO CANUDOS WAR | EDUARDO BUENO CANUDOS WAR | EDUARDO BUENO GUERRA DE CANUDOS | EDUARDO BUENO

Vamos almoçar em Canudos? Vamos almoçar em Canudos? Vamos almoçar em Canudos? Ele foi

almoçado em Canudos, foi isso que aconteceu. Cano! Cano! Venha ver o Brasil entrar pelo lunched in Canudos,this is what happend.

cano, em Canudos.

Nada como morar num lugar manso e pacífico, nothing like live in a pacific place

o lugar do homem cordial, um país brando. Tá certo que de vez em quando tem um the place of the friendly man, a pacific country. OK, sometimes have one

massacrezinho em outro, né? O Carandiru, o Contestado, Canudos. Canudos! massacre and other, yeah? the Carandiru, the Contestado, Canudos. Canudos!

Uma das mais trágicas e terríveis histórias do Brasil. Pelo menos acabou

virando uma obra prima da literatura mundial, né?

"Os sertões" de Euclides da Cunha, mas é um preço muito alto pra pagar por tanta

vida, né? A história começa é claro no solo infértil e fecundo para

tragédias do sertão da Bahia. Era uma crise generalizada: os engenheos tinham

entrado em decadência, tinha tido o fim da escravidão, havia um monte de gente

perambulando e tinha tido, em 1878, a terrível seca de 1878 que, só no Ceará,

matou 100 mil pessoas.

Foi nesse nesse solo fecundo para tragédias que começou um nômade a viajar

por ali, Ele viria a se chamará Antônio Conselheiro porque o nome dele claro era

outro antes, era Antônio Maciel. Ele é o que se pode chamar de um looser, tinha dado

tudo errado na vida do cara. Ele tinha sido professor, tinha sido demitido, tinha

sido vendedor ambulante, não tinha dado certo, tinha sido abandonado pela mulher

e ele se tornou uma seta, se tornou uma espécie de cangaceiro místico

perambulando pelo mar areento do sertão, que estava à deriva naquele mar quando

começou a juntar uma série de seguidores. Ele sugeria que as pessoas

reconstruíssem os cemitérios que estavam abandonados, que caiassem de branco as

igrejas e que levassem uma vida de meditação e de ascetismo, pois em 1890,

meu chapa, ele já tinha oito mil seguidores.

Ele era tão magro, que o Mário Vargas Llosa, o grande escritor peruano, que

escreveu um livro também sobre Canudos, disse que ele parecia estar sempre de

lado, de tão magro que o sujeito era, porque ele de fato se tornou uma seta.

Ele acabou encontrando um porto seguro naquele mar de areia do sertão da Bahia,

numa fazenda abandonada chamada Monte Belo, que depois viria a se chamar

Canudos. Ali, ele criou um arraial, um arraial que

acabou virando um outro Brasil, que acabou virando uma utopia evangélica.

Nesse arraial, que acabou tendo cinco mil e duzentas casas, onde moravam 20 mil

pessoas. Eles criaram uma espécie de utopia

evangélica mesmo porque as roças eram coletivas. Eles plantavam milho,

plantavam mandioca, plantavam feijão e começaram a criar cabra e com o couro da

cabra, com a carne da cabra, com queijo de cabra, com o leite da cabra, eles se

tornaram auto-sustentáveis. Os couros de cabra de Canudos chegaram a ser

exportados para os Estados Unidos e o arraial começou a florescer à sombra do

poder central, à sombra do Brasil, à sombra de um Brasil que nunca se

interessou pelos seus desvalidos. O líder inconteste daquele local era

justamente o Antônio Conselheiro, o homem que dava conselhos. Tudo parecia ir bem,

quando no fim de 1895, o Conselheiro comprou uma grande partida de madeira ,de

novas toras de madeira para construir uma igreja ainda maior do que ele já

tinha feito. Ele pagou a madeira e a madeira não foi entregue! Não entregaram

a madeira, aí os seus seguidores disseram

"nós já pagamos a madeira, a gente quer madeira". Isso foi em Juazeiro e é importante

inclusive salientar que Juazeiro era a maior cidade do norte da Bahia, tinha

três mil habitantes, Salvador tinha 20 mil habitantes.

Canudos tinha 25 mil habitantes, então eles disseram "nós vamos a Juazeiro

pegar essa madeira na marra". Aí a a elite de Juazeiro, o prefeito de Juazeiro, o chefe

da polícia de Juazeiro já começaram a dizer "os fanáticos! Os fanáticos virão aqui pegar

madeira só porque já pagaram pela madeira e não receberam eles querem a

madeira deles". E aí fizeram uma força policial com 100 homens pra enfrentar os

sertanejos, que vieram buscar sua madeira porque de fato foram 300, aí deu um

confronto entre eles morreram 150 sertanejos e morreram apenas dez

soldados e 16 ficaram feridos, mas foi considerado uma afronta ao exército

nacional. Fora que, um pouco antes, o Conselheiro já tinha rasgado vários

panfletos do recém surgido regime republicano.

Recém não, né? 1889. A República, nós já estamos em 1895, portanto, os seis anos,

mas é muito próximo, inclusive a notícia demorou um tempão para chegar lá no

Arraial de Canudos, o Conselheiro se dizia monarquista especialmente porque

havia tido, com a República, a separação entre a Igreja e o Estado. E o conselheiro

era totalmente favorável a um estado religioso e não a um estado laico.

Além de tudo, mudar os impostos municipais por causa da República.

Começaram a cobrar impostos lá em Canudos, o Conselheiro disse "pô, vocês nunca me não deram nada

e agora querem que eu pague imposto," Né? Então já começou essa fermentação que eclodiu

nesse confronto, que começou por causa de uma deslealdade comercial por parte de um

vendedor de madeira de Juazeiro, né? Mas como os carros acabaram matando

esses dez soldados e ferindo outros 16, as forças policiais da Bahia e o próprio

exército resolveram reagir atacando Canudos e foram atacar Canudos e

então, alguns meses depois, desse ataque, que foi em agosto 96, em novembro de

1896, o exército enviou, coordenado pelo

Tenente Febrônio. Bom nome, né? Tenente Febrônio. Uma partida de 583 soldados

para atacar em Canudos e, no dia 24 de janeiro de 1896, levou uma surra.

Levou uma surra dos sertanejos porque eles já tinham sido avisados que

caras vão atacar, emboscaram ele num despenhadeiro, num vale na chegada de

Canudos e desbarataram e botaram em fuga os 583 soldados do tenente Febrônio e os caras

fugiram deixando as armas deles pra trás, ou seja, os sertanejos passaram a ter

armas melhores do que as que então tinham. Bom, virou um escândalo, a história

chegou no Rio de Janeiro, né? "Monarquistas! Monarquistas estão atacando

o honroso Exército Nacional, é preciso reagir. O que o Prudente de Morais, que

já então estava sendo chamado pela imprensa republicana de Prudente

Demais porque não tinha tomado as atitudes corretas para dizimar

aquele gentalha miserável, aqueles nordestinos infelizes, aqueles evangélico desgraçados.

Por que o presidente não reage? Aí o presidente chamou quem? Chamou quem?

Chamou o Moreira César, chamou o Moreira César. Quem era o Moreira César?

Moreira César era um coronel do exército, que já tinha tomado parte na Revolta da

Armada, combatendo a Revolta da Armada, né? Que era a Revolta da Marinha e o exército

combateu logo no início da República, já tinha assassinado um jornalista com

uma facada pelas costas porque o jornalista falava mal do exército

brasileiro e depois tinha participado da da repressão à Revolta Federalista de

1893 na ilha de Santa Catarina, né? Mandando matar 49 pessoas em

execuções sumárias e fuzilamentos porque tinham se revoltado contra o governo do

Floriano Peixoto e ainda por cima mudou o nome da capital da ilha de Santa

Catarina, aquela cidade do desterro para Florianópolis, o nome do algoz,

aliás como é que Florianópolis continua mantendo o nome Florianópolis? Mas esse é

outro assunto, outro assunto ainda é que esse Moreira César era epilético, tipo eu

assim, epilético o Moreira César. Aí o Prudente de Morais chamou o Moreira César "vai lá e

destrói aqueles caras, arrasa aqueles caras, trucida aqueles caras".

E o Moreira César foi para a Bahia, saiu aqui do Rio de Janeiro com 1.500

homens, com 15 milhões de cartuchos e com 6 canhões grupo recém comprados da

Alemanha pra arrasar aquela gente. Chegaram a Salvador, de Salvador se dirigiram até o

interior lá, demoraram um tempão e aí chegaram nas proximidades de Canudos e o

que aconteceu? Em março de 1897, eles enfim chegaram nos arredores de Canudos,

em Monte Santo, olha o nome do lugar, pertinho de Monte Belo e aí o Moreira César disse

"Vamos almoçar em Canudos", achou que era um lanche. Ele com 1.500 homens, com 15

milhões de cartuchos, com seis canhões.

Só que daí,

ele teve um ataque epilético. É verdade, não é piada, ele teve um

ataque epilético. Tiveram que cancelar a primeira ordem de ataque, ele se

recuperou do ataque epilético e teve outro ataque epilético, no sentido

metafórico agora, e resolveu atacar Canudos e disse

"Vamos atacar com baionetas, nem precisa gastar bala com esses caras" e entrou

naquele labirinto de ruelas e casebres de Canudos, os caras estavam tudo tocaiado

lá, meu chapa, e dizimaram a tropa do Moreira César e ele levou um tiro na

barriga, ficou agonizando durante 12 horas o miserável antes de morrer. Morreu.

Está no inferno não há dúvida e aí ainda disse se eu sobreviver vou renunciar ao

exército, vou me demitir do exército por causa dessa humilhação.

Humilhação total e completa mesmo. Perderam de novo, 3 a 0 para Canudos

Canudos 3, Brasil 0. Bom, aí abril de 1897 quando chega essa

notícia, no Rio de Janeiro, as pessoas, os republicanos, os jacobinos invadem os

jornais, dois jornais monarquista e matam o diretor de redação de um desses

jornais, matam um editor de um outro jornal desse, é uma confusão total.

"Vamos! Exigimos! Exigimos! A destruição completa e absoluta de Canudos, aí em

agosto de 1897, o próprio Ministro da Guerra,

o tal Marechal Carlos Bittencourt, que depois seria morto, você já viu isso aqui no

"Não vai cair no Enem", no episódio O Vice Golpista, está

aparecendo aqui em cima, veja O Vice Golpista, veja O Vice Golpista

É o cara que tentou salvar o Prudente de Moraes e acabou morrendo e o

próprio Ministro da Guerra foi para Canudos e, nessa expedição, foi também o

jornalista Euclides da Cunha, que trabalhava para o jornal Estado de São

Paulo e foi com a certeza de que ia documentar o fim de uma insurreição de

monarquistas, de inimigos do governo. Chegando lá, ele percebeu o que estava

acontecendo. Era um confronto entre o Brasil das elites, o Brasil urbano,

o Brasil que nunca entendeu os seus desvalidos contra um Brasil, de pobres e

miseráveis, que tinham deixado de ser pobres e miseráveis e tinham

encontrado um outro jeito de sobrevivência numa espécie de brasil

alternativo. Ele percebeu isso e ele viu todo o massacre porque daí eles foram

atacados em agosto e setembro de 1897, no dia 22 de setembro de 1997, o Conselheiro

morreu, provavelmente disenteria, daí o Arraial botou uma bandeira branca, não e os

caras ainda levaram um canhão chamado "A matadeira", botaram o canhão em cima de

um lugar que chamava morro da favela, morro da favela e PUM, com um canhão

gigante para atacar Canudos, dizimaram Canudos, mataram todo mundo.

25 mil mortos, cortaram a cabeça do Conselheiro, que foi levada para ser

estudada pelo cientista Nina Rodrigues, um cara famoso no estudo da escravidão.

Vai ver quem é o Nina Rodrigues, que estudou o cérebro do Conselheiro e

concluiu que o cérebro conselheiro era normal. O que não era normal é o cérebro de

outras pessoas, né cara? Aí esse conflito claro que ficaria registrado para a história

mas ele não tomaria dimensão épica, a dimensão com homérica que tomou porque

ele encontrou o seu Homero, né? O seu equivalente a um poeta homérico no

Euclides da Cunha, que escreveu o extraordinário livro "Os sertões", na qual

escreve trata-se de um crime, vamos denunciá lo e ele fez esse livro

denúncia e hoje a história de Canudos sobrevive no imaginário, só que o brasil

ainda não mudou o suficiente, para que possa conviver em plena harmonia com

esses dois brasis tão distintos.

Então é um fim meio para baixo esse, né? Mas é que o episódio é meio para baixo.

De qualquer forma, leia Os Sertões e continue evidentemente ligado no canal

Bueno Idéias. Tchau. Vou chorar no canto.

O que você acaba de ver está repleto de

generalizações e simplificações, mas o quadro geral era esse aí mesmo agora se

você quiser saber como as coisas de fato for a então você vai ter que ler.