Conheça as escalas urbanas que fazem de Brasília uma cidade única
Todo mundo já ouviu dizer que Brasília é uma cidade planejada,
mas muita gente não conhece as ideias que estão por trás desse planejamento.
O urbanista Lúcio Costa, criador do Plano Piloto de Brasília, imaginou uma cidade ordenada,
eficiente, agradável para se viver e que, ao mesmo tempo, tivesse a
dimensão simbólica de capital do país. Para isso, a ideia era que a relação das pessoas
com o espaço variasse de acordo com a função de cada espaço da cidade. Assim, cada setor da
capital seria construído com uma dimensão própria. Lúcio Costa preferiu usar a palavra escala.
Neste vídeo, você vai conhecer quais são e o que são as quatro escalas urbanas que
dão à Brasília um caráter único entre todas as cidades do planeta.
A forma com que Lúcio Costa desenhou a cidade tem como base dois eixos que se cruzam. Um eixo
retilíneo e um eixo curvado. Posteriormente, com o preenchimento dos dois eixos, o conjunto
foi associado à figura de um avião. O eixo retilíneo foi planejado para receber
as atividades próprias de uma capital. Para isso, Lúcio Costa pensou que o espaço deveria
ter uma escala adequada para representar toda a coletividade. Uma larga esplanada,
áreas extensas sem nenhuma construção e prédios dispostos numa distância
tal entre si que dariam à paisagem um aspecto grandioso. Isso sem falar na monumentalidade dos
edifícios desenhados por Oscar Niemeyer, como o Palácio do Congresso e a Catedral.
Uma pessoa que, do centro da cidade, olhe na direção dessa esplanada pode se sentir pequena
em relação ao espaço, porque a ideia ali é essa mesma. A escala monumental com que essa parte da
cidade foi pensada expressa uma dimensão simbólica que representa a nação e a coletividade.
No eixo curvo, as asas do avião, Lúcio Costa situou as chamadas superquadras,
outra das grandes inovações do projeto de Brasília. Enquanto na escala monumental,
estão expressas as aspirações coletivas, a escala residencial, representada pelas superquadras,
adequa o espaço ao indivíduo em suas relações familiares e sociais mais próximas.
As superquadras têm entrada única, que separa a área interna e as vias de circulação de carros.
Os edifícios têm altura fixa, de seis ou três andares. E são suspensos por pilotis,
o que deixa o térreo livre para a circulação de pedestres. Grades e muros que impeçam o acesso
das pessoas à área térrea são proibidos. Lúcio Costa previu também que os edifícios seriam
cercados de árvores. O verde, aliás, é presença constante nas superquadras, diminuindo a separação
entre o espaço urbano e a natureza. O projeto contempla áreas para comércio local,
escolas, igrejas de bairro, clubes, etc. Lugares que podem ser acessados
à distância de uma caminhada curta. Segundo Lúcio Costa, a superquadra é a
proposta de uma nova maneira de viver. O cruzamento dos eixos Monumental e Residencial,
no centro da cidade, foi planejado a partir da escala chamada por Lúcio Costa de escala
gregária. Ali, o espaço foi pensado para ser convidativo ao encontro e à troca mais
ampla entre as pessoas, independentemente de elas serem ou não vizinhas.
São setores dedicados a edifícios comerciais, lojas, restaurantes e
serviços de lazer. Os prédios são altos e existem poucas áreas sem construções. É o
trecho de Brasília mais parecido com outras capitais e grandes cidades do país.
Exatamente no centro, na intersecção dos dois eixos, fica a Rodoviária de Brasília, o principal
terminal de transporte, por onde passam todos os dias centenas de milhares de pessoas.
Outra inovação importante do projeto de Brasília são os espaços vazios. Isto é, áreas em que o
plano previu que não haveria construção nenhuma. Essas áreas seriam destinadas à vegetação nativa,
ao paisagismo ou a gramados abertos. Elas foram pensadas por Lúcio Costa a partir da escala
que ele chamou de bucólica. Além de serem perfeitas para o lazer,
essas áreas permitem que as pessoas mantenham um contato próximo com a natureza,
mesmo em um ambiente urbano. Espalhada por toda a cidade, a escala
bucólica faz a ligação entre as demais escalas. Ela está presente no cinturão verde que cerca
as superquadras, nas áreas de paisagismo ou de gramados abertos, nos parques, como o Parque da
Cidade, no Lago Paranoá e – por que não? -- no céu que emoldura toda a cidade.
Cada escala de Brasília — a monumental, a gregária, a bucólica e a residencial — corresponde
a uma maneira distinta de interação das pessoas com o espaço. Um espaço
pensado e planejado para atender a diferentes demandas e aspirações: ser o centro político,
administrativo e cívico do país, funcionar como pólo de desenvolvimento social e econômico,
elevar a urbe à categoria de cidade-parque, propiciar o nascimento de um novo modo de viver.