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BBC Brasil 2020 (Áudio/Vídeo+CC), Como 5G coloca Brasil no centro de batalha entre gigantes

Como 5G coloca Brasil no centro de batalha entre gigantes

[Oct 30, 2020]

A tecnologia 5G já é realidade em alguns países.

No Brasil, o leilão que vai definir quem vai fazer parte desse mercado aqui está marcado para 2021.

Segundo a OCDE, deve ser o maior leilão de 5G feito até então no mundo.

Mas tem um detalhe.

O 5G no Brasil virou arena da rivalidade entre China e Estados Unidos, que travam uma espécie de Guerra Fria tecnológica em torno dele.

A maior fornecedora de equipamentos de telecomunicações do mundo, a chinesa Huawei, vem sendo acusada pelos EUA de servir como instrumento de espionagem ao governo chinês.

Por isso os americanos tentam convencer o Brasil a excluir a empresa do certame.

A China, por sua vez, diz que a investida tem a única intenção de barrar seu crescimento tecnológico e que não há provas concretas de que a Huawei seja um canal de espionagem.

Sou Camilla Veras Mota, da BBC News Brasil, e explico nesse vídeo o que é o 5G e o que tem fundamento ou não dentro dessas polêmicas que circundam a implantação no Brasil.

Pra entender a geopolítica do 5G a gente precisa ter uma ideia bem clara do que essa tecnologia representa.

A quinta geração de internet móvel não é apenas uma nova frequência que vai ser aberta para permitir a transmissão de dados digitais.

Ele tem uma velocidade entre 10 e 20 vezes maior que o 4G: Isso mesmo, se você acha que o 4G do seu celular é uma arraso, espera que a coisa pode ser muito mais rápida.

Mas, pra além do celular, se a gente pensar na estrutura das cidades, ele pode abrir caminho pra uma transformação radical.

Uma velocidade maior de transmissão de dados vai permitir, por exemplo, a implantação das chamadas redes elétricas inteligentes, ou smart grids, que abrem caminho pro funcionamento dos carros autônomos.

Ele acaba com aquele delay que tem entre o comando pro carro parar, quando ele identifica o obstáculo, e o momento em que o carro freia de fato, sabe?

Vai permitir a realização de cirurgias de maneira remota, o controle de processos nas fábricas por meio de inteligência artificial, o uso de drones pra fazer entregas.

A geração, troca e processamento de dados vai cada vez mais poder ser feita de forma autônoma, com pouca ou nenhuma interferência humana.

Essas novas redes precisam de uma grande infraestrutura física, de cabos de fibra óptica a datacenters.

E é aí que entra a celeuma em torno da Huawei.

Os EUA não foram os únicos a expressar preocupação de que os equipamentos da empresa pudessem servir de canal para que a China tivesse acesso a informações sensíveis.

Reino Unido, Austrália, Nova Zelândia, Japão, Itália, França são alguns dos países que, assim como os EUA, baniram o uso de equipamentos da gigante de tecnologia em seus territórios, total ou parcialmente.

A decisão mais recente é a do Reino Unido, anunciada em julho.

Neste mês de outubro, um comitê do Parlamento britânico publicou um relatório em que disse ter concluído ter visto "evidências claras" de conluio entre a Huawei e o aparato do Partido Comunista Chinês.

A empresa rebateu dizendo que o relatório estava mais baseado em opiniões do que evidências.

Apesar de se tratar de uma empresa privada, a Huawei está sujeita à lei de segurança nacional chinesa aprovada em 2017, que permite que o governo requisite dados de companhias privadas, caso a necessidade seja classificada como importante para soberania do país.

E é essa suscetibilidade à lei de segurança nacional que preocupa muitos dos países que têm decidido agir contra a empresa.

Eu conversei com a Clarise Brown, especialista em geotecnologia da consultoria Eurasia, e perguntei se essas acusações de espionagem faziam sentido.

Ela relembrou essas preocupações que vêm sendo compartilhadas entre diversos países, mas disse que, com base apenas em critérios técnicos não é possível dizer com certeza se a Huawei é de fato um instrumento de espionagem chinês.

Porém, ela ressalta um outro ponto bem importante.

À medida que o mundo se torna mais dependente da tecnologia e quantidades monumentais de informação circulam por esses novos caminhos, aumenta a vulnerabilidade de empresas, setores, cidades ou mesmo países a eventuais ciberataques.

Ou seja, independentemente de quem vai fornecer a tecnologia ao Brasil, o país deveria estar atento à possibilidade de espionagem, de interceptação ou monitoramento desses dados por parte não apenas da China.

Nesse sentido o Brasil tem um histórico recente com o próprio governo americano.

Talvez vocês lembrem que, lá em 2015, o site Wikileaks vazou documentos da Agência de Segurança Nacional dos EUA, a NSA, que revelavam que a então presidente Dilma Rousseff, alguns de seus ministros e assessores haviam sido grampeados.

A especialista da Eurasia ressalta que tem como minimizar esses riscos.

O Reino Unido mantém um sistema de monitoramento ativo em busca de falhas de segurança há anos, assim como a Alemanha.

Então é possível criar mecanismos de rastreamento, mas é difícil dizer com segurança, segundo ela, que você consegue eliminar completamente o risco de espionagem.

Outro porém: no caso do Brasil, ela avalia que seria difícil ter sistemas de rastreamento semelhantes aos de países europeus, levando-se em consideração a necessidade de investimento e o momento atual da economia brasileira, golpeada pela pandemia de covid-19.

Mas voltando ao caso Huawei, pra gente encerrar: a empresa já opera no Brasil, há mais de 20 anos.

É uma das principais fornecedoras das antenas que abastecem as operadoras de telefonia.

Assim, caso a empresa fosse excluída do leilão e proibida de operar no país, ainda de acordo com a avaliação da Clarise Brown, é possível que o processo de implantação da quinta geração de internet móvel levasse mais tempo e que o serviço custasse mais caro, já que as empresas teriam que substituir os equipamentos da Huawei que já existem.

Mas tem o outro lado da moeda.

Os EUA, na sua ofensiva contra a Huawei e a China, estão oferecendo financiamento aos países que decidirem substituir o que eles chamam de “high risk suppliers”, ou fornecedores de alto risco, basicamente a Huawei e a ZTE, que também é chinesa.

O Exim-Bank, banco americano de desenvolvimento, tem cerca de US$ 60 bilhões disponíveis para ser usados com esse fim.

Em outubro, o governo americano e o brasileiro assinaram um memorando de entendimento que prevê investimentos de US$ 1 bilhão do banco aqui no Brasil, recursos que seriam distribuídos em diversas áreas, inclusive no 5G.

Mas, se os americanos estão fazendo pressão, os chineses também estão.

Recentemente, o embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming, deu declarações que foram interpretadas por alguns como ameaças veladas.

Ele disse acreditar que o país tomaria uma "decisão racional" sobre o 5G e afirmou que o leilão serviria para as empresas chinesas avaliarem a "maturidade" do país.

O agronegócio brasileiro, que diretamente não tem nada a ver com esse negócio de internet de quinta geração, teme que a China possa retaliar, caso a decisão lhe seja desfavorável, sobretaxando as importações brasileiras ou usando algum outro mecanismo pra reduzir os embarques de produtos brasileiros pra lá.

A China é nosso principal parceiro comercial e um ávido comprador de commodities, como soja e minério de ferro.

A especialista da Eurasia lembra, por outro lado, que a China sempre deu preferência a uma resposta mais moderada em conflitos recentes com Brasil.

Mas poderia haver uma reação da própria Huawei, que prometeu investir US$ 800 milhões em uma fábrica aqui no país.

Caso a decisão não agrade, a empresa pode decidir construir essa fábrica em outro lugar, por exemplo.

A Austrália já sentiu isso na pele.

Desde que a companhia foi proibida de operar lá, ela tem feito demissões e diminuído investimentos.

O Brasil ainda deve levar algum tempo até tomar uma decisão definitiva, e a gente segue acompanhando o assunto.

Eu fico por aqui.

Obrigada e até a próxima!

Como 5G coloca Brasil no centro de batalha entre gigantes Wie 5G Brasilien in den Mittelpunkt des Kampfes der Giganten stellt How 5G puts Brazil at the center of battle between giants Cómo el 5G sitúa a Brasil en el centro de la batalla entre gigantes La 5G place le Brésil au centre d'une bataille entre géants Come il 5G pone il Brasile al centro di una battaglia tra giganti Jak 5G stawia Brazylię w centrum walki między gigantami Як 5G ставить Бразилію в центр битви між гігантами 5G 如何让巴西成为巨头之争的中心

[Oct 30, 2020]

A tecnologia 5G já é realidade em alguns países.

No Brasil, o leilão que vai definir quem vai fazer parte desse mercado aqui está marcado para 2021.

Segundo a OCDE, deve ser o maior leilão de 5G feito até então no mundo.

Mas tem um detalhe.

O 5G no Brasil virou arena da rivalidade entre China e Estados Unidos, que travam uma espécie de Guerra Fria tecnológica em torno dele. 5G in Brazil has become an arena of rivalry between China and the United States, which are waging a kind of technological Cold War around it.

A maior fornecedora de equipamentos de telecomunicações do mundo, a chinesa Huawei, vem sendo acusada pelos EUA de servir como instrumento de espionagem ao governo chinês.

Por isso os americanos tentam convencer o Brasil a excluir a empresa do certame.

A China, por sua vez, diz que a investida tem a única intenção de barrar seu crescimento tecnológico e que não há provas concretas de que a Huawei seja um canal de espionagem.

Sou Camilla Veras Mota, da BBC News Brasil, e explico nesse vídeo o que é o 5G e o que tem fundamento ou não dentro dessas polêmicas que circundam a implantação no Brasil.

Pra entender a geopolítica do 5G a gente precisa ter uma ideia bem clara do que essa tecnologia representa.

A quinta geração de internet móvel não é apenas uma nova frequência que vai ser aberta para permitir a transmissão de dados digitais.

Ele tem uma velocidade entre 10 e 20 vezes maior que o 4G: Isso mesmo, se você acha que o 4G do seu celular é uma arraso, espera que a coisa pode ser muito mais rápida.

Mas, pra além do celular, se a gente pensar na estrutura das cidades, ele pode abrir caminho pra uma transformação radical.

Uma velocidade maior de transmissão de dados vai permitir, por exemplo, a implantação das chamadas redes elétricas inteligentes, ou smart grids, que abrem caminho pro funcionamento dos carros autônomos. A higher speed of data transmission will allow, for example, the implementation of so-called intelligent electrical networks, or smart grids, which pave the way for the operation of autonomous cars.

Ele acaba com aquele delay que tem entre o comando pro carro parar, quando ele identifica o obstáculo, e o momento em que o carro freia de fato, sabe? It does away with that delay between the command for the car to stop, when it identifies the obstacle, and the moment when the car actually brakes, you know?

Vai permitir a realização de cirurgias de maneira remota, o controle de processos nas fábricas por meio de inteligência artificial, o uso de drones pra fazer entregas.

A geração, troca e processamento de dados vai cada vez mais poder ser feita de forma autônoma, com pouca ou nenhuma interferência humana.

Essas novas redes precisam de uma grande infraestrutura física, de cabos de fibra óptica a datacenters.

E é aí que entra a celeuma em torno da Huawei.

Os EUA não foram os únicos a expressar preocupação de que os equipamentos da empresa pudessem servir de canal para que a China tivesse acesso a informações sensíveis.

Reino Unido, Austrália, Nova Zelândia, Japão, Itália, França são alguns dos países que, assim como os EUA, baniram o uso de equipamentos da gigante de tecnologia em seus territórios, total ou parcialmente.

A decisão mais recente é a do Reino Unido, anunciada em julho.

Neste mês de outubro, um comitê do Parlamento britânico publicou um relatório em que disse ter concluído ter visto "evidências claras" de conluio entre a Huawei e o aparato do Partido Comunista Chinês.

A empresa rebateu dizendo que o relatório estava mais baseado em opiniões do que evidências.

Apesar de se tratar de uma empresa privada, a Huawei está sujeita à lei de segurança nacional chinesa aprovada em 2017, que permite que o governo requisite dados de companhias privadas, caso a necessidade seja classificada como importante para soberania do país.

E é essa suscetibilidade à lei de segurança nacional que preocupa muitos dos países que têm decidido agir contra a empresa.

Eu conversei com a Clarise Brown, especialista em geotecnologia da consultoria Eurasia, e perguntei se essas acusações de espionagem faziam sentido.

Ela relembrou essas preocupações que vêm sendo compartilhadas entre diversos países, mas disse que, com base apenas em critérios técnicos não é possível dizer com certeza se a Huawei é de fato um instrumento de espionagem chinês.

Porém, ela ressalta um outro ponto bem importante.

À medida que o mundo se torna mais dependente da tecnologia e quantidades monumentais de informação circulam por esses novos caminhos, aumenta a vulnerabilidade de empresas, setores, cidades ou mesmo países a eventuais ciberataques.

Ou seja, independentemente de quem vai fornecer a tecnologia ao Brasil, o país deveria estar atento à possibilidade de espionagem, de interceptação ou monitoramento desses dados por parte não apenas da China.

Nesse sentido o Brasil tem um histórico recente com o próprio governo americano.

Talvez vocês lembrem que, lá em 2015, o site Wikileaks vazou documentos da Agência de Segurança Nacional dos EUA, a NSA, que revelavam que a então presidente Dilma Rousseff, alguns de seus ministros e assessores haviam sido grampeados. Perhaps you remember that, back in 2015, the Wikileaks website leaked documents from the US National Security Agency, the NSA, which revealed that the then president Dilma Rousseff, some of her ministers and advisors had been bugged.

A especialista da Eurasia ressalta que tem como minimizar esses riscos.

O Reino Unido mantém um sistema de monitoramento ativo em busca de falhas de segurança há anos, assim como a Alemanha. The UK has had an active monitoring system looking for security breaches for years, as has Germany.

Então é possível criar mecanismos de rastreamento, mas é difícil dizer com segurança, segundo ela, que você consegue eliminar completamente o risco de espionagem.

Outro porém: no caso do Brasil, ela avalia que seria difícil ter sistemas de rastreamento semelhantes aos de países europeus, levando-se em consideração a necessidade de investimento e o momento atual da economia brasileira, golpeada pela pandemia de covid-19.

Mas voltando ao caso Huawei, pra gente encerrar: a empresa já opera no Brasil, há mais de 20 anos.

É uma das principais fornecedoras das antenas que abastecem as operadoras de telefonia.

Assim, caso a empresa fosse excluída do leilão e proibida de operar no país, ainda de acordo com a avaliação da Clarise Brown, é possível que o processo de implantação da quinta geração de internet móvel levasse mais tempo e que o serviço custasse mais caro, já que as empresas teriam que substituir os equipamentos da Huawei que já existem.

Mas tem o outro lado da moeda. But there is the other side of the coin.

Os EUA, na sua ofensiva contra a Huawei e a China, estão oferecendo financiamento aos países que decidirem substituir o que eles chamam de “high risk suppliers”, ou fornecedores de alto risco, basicamente a Huawei e a ZTE, que também é chinesa.

O Exim-Bank, banco americano de desenvolvimento, tem cerca de US$ 60 bilhões disponíveis para ser usados com esse fim.

Em outubro, o governo americano e o brasileiro assinaram um memorando de entendimento que prevê investimentos de US$ 1 bilhão do banco aqui no Brasil, recursos que seriam distribuídos em diversas áreas, inclusive no 5G.

Mas, se os americanos estão fazendo pressão, os chineses também estão.

Recentemente, o embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming, deu declarações que foram interpretadas por alguns como ameaças veladas.

Ele disse acreditar que o país tomaria uma "decisão racional" sobre o 5G e afirmou que o leilão serviria para as empresas chinesas avaliarem a "maturidade" do país.

O agronegócio brasileiro, que diretamente não tem nada a ver com esse negócio de internet de quinta geração, teme que a China possa retaliar, caso a decisão lhe seja desfavorável, sobretaxando as importações brasileiras ou usando algum outro mecanismo pra reduzir os embarques de produtos brasileiros pra lá.

A China é nosso principal parceiro comercial e um ávido comprador de commodities, como soja e minério de ferro.

A especialista da Eurasia lembra, por outro lado, que a China sempre deu preferência a uma resposta mais moderada em conflitos recentes com Brasil.

Mas poderia haver uma reação da própria Huawei, que prometeu investir US$ 800 milhões em uma fábrica aqui no país.

Caso a decisão não agrade, a empresa pode decidir construir essa fábrica em outro lugar, por exemplo.

A Austrália já sentiu isso na pele.

Desde que a companhia foi proibida de operar lá, ela tem feito demissões e diminuído investimentos.

O Brasil ainda deve levar algum tempo até tomar uma decisão definitiva, e a gente segue acompanhando o assunto.

Eu fico por aqui.

Obrigada e até a próxima!