×

We use cookies to help make LingQ better. By visiting the site, you agree to our cookie policy.


image

BBC News 2021 (Brasil), Bolsonaro está repetindo interferência de Dilma na Petrobras?

Bolsonaro está repetindo interferência de Dilma na Petrobras?

As ações da Petrobras derretaram nesta segunda-feira, chegando a recuar 20%, depois que o presidente

Jair Bolsonaro decidiu mudar o comando da empresa

Na noite de sexta-feira, Bolsonaro anunciou o general da reserva Joaquim Silva e Luna

para substituir o atual presidente Roberto Castello Branco, economista liberal e nome

de confiança do ministro da Economia, Paulo Guedes

Por trás da troca está a insatisfação do presidente da República com os recentes

reajustes no preço da gasolina e do diesel, algo que bate direto no bolso de muitos brasileiros,

impactando a popularidade do governo

A decisão levou muitos economistas a comparar Bolsonaro à ex-presidente Dilma Rousseff,

que durante seu governo impediu reajustes nos preços dos combustíveis, causando prejuízos

bilionários à Petrobras

Eu sou Mariana Schreiber, repórter da BBC News Brasil, e vou explicar essa história

em três pontos

Primeiro, vou abordar porque os preços dos combustíveis geram tanta tensão entre governo

e Petrobras

Em segundo lugar, vou lembrar as medidas adotadas pela presidente petista

Por fim, vou explicar a política de Bolsonaro para a estatal e como sua atuação se compara

com a de Dilma

Começando então por entender por que os preços dos combustíveis dão tanta briga

O valor da gasolina e do diesel tem impacto direto na inflação, já que boa parte do transporte

de carga no Brasil é feito por rodovias

Ou seja, quando o diesel fica mais caro, por exemplo, o custo do frete também aumenta

e isso é repassado para o consumidor final

Além disso, o aumento do combustível também impacta o preço do transporte público, como

ônibus, e pesa no bolso dos brasileiros que usam carro ou moto para se locomover

Por isso, o governo federal é pressionado por caminhoneiros e pela população em geral

a segurar o preço dos combustíveis

O problema é que os preços dos combustíveis vendidos pela Petrobras é impactado pela

cotação internacional do petróleo e pela cotação do dólar, já que a estatal exporta

parte do óleo bruto que extrai no Brasil e importa combustível refinado

Quando a empresa não repassa as oscilações da cotação de petróleo e da taxa de câmbio

para o preço dos combustíveis, ela acaba tendo prejuízo

Quem defende que a estatal deve controlar os preços argumenta que a empresa é pública

e deve estar a serviço dos brasileiros

Já os que defendem uma política de preços livres ressalta que a empresa tem capital

aberto - ou seja, embora o Estado brasileiro seja o maior acionista, há também investimento

privado na estatal

Além disso, esse grupo argumenta que deixar a estatal no prejuízo vai afetar a sustentabilidade

da empresa no longo prazo, limitando sua capacidade de investimento, algo que seria negativo para

todos os brasileiros

Entrando no segundo ponto do vídeo, vamos falar como era a política de preços no governo Dilma Rousseff

O governo da petista foi marcado por inflação alta. No seu primeiro mandato, a inflação ficava

bem acima do centro da meta de inflação

do Banco Central, que era de 4,5%

Então, nos primeiros anos Dilma, a inflação girava entre 6% e 6,5%, segundo o IPCA

Já em 2015, último ano antes do seu impeachment, a inflação bateu mais de 10%.

Foi nesse contexto que seu governo intensificou o controle de preços da Petrobras, impedindo

que as oscilações do mercado internacional fossem repassadas ao mercado interno

Segundo cálculos do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), a Petrobras

acumulou prejuízos de mais de R$70 bilhões no primeiro mandato da presidente Dilma

Com o impeachment da petista, o novo presidente, Michel Temer, adotou uma política bastante

diferente, permitindo repasses diários da oscilação do mercado internacional para

os preços dos combustíveis no mercado interno

Isso contribuiu para que a estatal se recuperasse financeiramente, mas culminou em uma forte

greve de caminhoneiros em maio de 2018, que afetou o desempenho da economia naquele ano

Além de protestar contra os aumentos, a categoria reclamava que os reajustes diários impediam

a previsibilidade do custo do frete

Para evitar novas paralisações, o governo estabeleceu temporariamente subsídios no

preço dos combustíveis para os caminhoneiros

Vamos analisar agora como as ações do governo Bolsonaro se comparam com o controle de preços

no governo Dilma

O presidente foi eleito em 2018 com a promessa de uma gestão bastante liberal na economia,

em que o ministro Paulo Guedes teria grande autonomia para conduzir a política econômica

Isso incluía manter a prática do governo Temer de permitir que a Petrobras reajustasse

os combustíveis sempre que necessário para manter a lucratividade da empresa

No entanto, já em abril de 2019, poucos meses após Bolsonaro assumir o cargo, ele ligou

para o presidente da estatal Castello Branco para vetar novo reajuste no preço do diesel

Isso fez os papéis da empresa recuarem mais 8% em um dia, o que significou uma perda de

32 bilhões de reais no valor de mercado da estatal

Com a repercussão negativa, logo depois o preço do diesel foi reajustado, mas em percentual

um pouco abaixo do anunciado pela empresa inicialmente

Para agradar os caminhoneiros, o governo na ocasião anunciou uma linha de crédito para

a categoria e investimentos para melhorar rodovias

Agora, a decisão do governo de trocar o comando da estatal vem em um novo momento de alta

acentuada no preço dos combustíveis

Com um novo reajuste na semana passada, o preço da gasolina vendida nas refinarias

pela Petrobras já subiu 35% no ano, enquanto o diesel aumentou 28%

Bolsonaro tem respondido às críticas lembrando que ele tem a prerrogativa de indicar o presidente

da estatal, já que a União é o maior acionista da empresa

Nesta segunda-feira, ele negou que esteja interferindo nos preços da estatal e disse

que sua exigência é por "transparência e previsibilidade" nos preços

O especialista no setor de petróleo, David Zylbersztajn, professor da PUC-Rio, considera

que ainda é cedo para dizer que Bolsonaro "dilmou" no comando da estatal, já que realmente

não houve até o momento uma represamento no repasse da variação internacional para

os preços domésticos

Ele ressalta, porém, o efeito negativo das falas do presidente, que tem constantemente

criticado os reajustes da estatal

Isso, afirma, gera uma expectativa no mercado de que haverá uma mudança na política de

preços

Segundo o professor da PUC, a forma como o presidente está conduzindo a questão também

deve impactar negativamente os investimentos em refino de petróleo no Brasil

Desde de o governo Temer, a Petrobras tem um plano de venda de refinarias, para focar

seus investimentos em extração de petróleo no pré-sal

A gestão Castello Branco tem dado andamento a esse processo, por considerar que as refinarias

criadas nos governos PT foram um investimento ruim para a estatal

Mas, diante da incerteza da política de preços da Petrobras, quem vai querer fazer um investimento

altíssimo em refinarias no país com risco de ter que concorrer com preços subsidiados

da estatal, é o que pergunta o professor da PUC?

Bom, vamos acompanhar agora quando a troca do comando da estatal vai se concretizar e

se isso levará de fato a uma mudança na política de reajustes

O atual presidente, a princípio, tem mandato até 20 de março

A indicação do general Silva e Luna ainda precisa ser confirmada pelo conselho da Petrobras,

mas a União tem maioria no conselho

Espero que esse vídeo tenha ajudado você a entender melhor a briga dos preços dos combustíveis

Obrigado pela audiência, e até a próxima


Bolsonaro está repetindo interferência de Dilma na Petrobras? Is Bolsonaro repeating Dilma's interference in Petrobras? Чи повторює Болсонару втручання Ділми в Petrobras?

As ações da Petrobras derretaram nesta segunda-feira, chegando a recuar 20%, depois que o presidente

Jair Bolsonaro decidiu mudar o comando da empresa

Na noite de sexta-feira, Bolsonaro anunciou o general da reserva Joaquim Silva e Luna

para substituir o atual presidente Roberto Castello Branco, economista liberal e nome

de confiança do ministro da Economia, Paulo Guedes

Por trás da troca está a insatisfação do presidente da República com os recentes

reajustes no preço da gasolina e do diesel, algo que bate direto no bolso de muitos brasileiros,

impactando a popularidade do governo

A decisão levou muitos economistas a comparar Bolsonaro à ex-presidente Dilma Rousseff,

que durante seu governo impediu reajustes nos preços dos combustíveis, causando prejuízos

bilionários à Petrobras

Eu sou Mariana Schreiber, repórter da BBC News Brasil, e vou explicar essa história

em três pontos

Primeiro, vou abordar porque os preços dos combustíveis geram tanta tensão entre governo

e Petrobras

Em segundo lugar, vou lembrar as medidas adotadas pela presidente petista

Por fim, vou explicar a política de Bolsonaro para a estatal e como sua atuação se compara

com a de Dilma

Começando então por entender por que os preços dos combustíveis dão tanta briga

O valor da gasolina e do diesel tem impacto direto na inflação, já que boa parte do transporte

de carga no Brasil é feito por rodovias

Ou seja, quando o diesel fica mais caro, por exemplo, o custo do frete também aumenta

e isso é repassado para o consumidor final

Além disso, o aumento do combustível também impacta o preço do transporte público, como

ônibus, e pesa no bolso dos brasileiros que usam carro ou moto para se locomover

Por isso, o governo federal é pressionado por caminhoneiros e pela população em geral

a segurar o preço dos combustíveis

O problema é que os preços dos combustíveis vendidos pela Petrobras é impactado pela

cotação internacional do petróleo e pela cotação do dólar, já que a estatal exporta

parte do óleo bruto que extrai no Brasil e importa combustível refinado

Quando a empresa não repassa as oscilações da cotação de petróleo e da taxa de câmbio

para o preço dos combustíveis, ela acaba tendo prejuízo

Quem defende que a estatal deve controlar os preços argumenta que a empresa é pública

e deve estar a serviço dos brasileiros

Já os que defendem uma política de preços livres ressalta que a empresa tem capital

aberto - ou seja, embora o Estado brasileiro seja o maior acionista, há também investimento

privado na estatal

Além disso, esse grupo argumenta que deixar a estatal no prejuízo vai afetar a sustentabilidade

da empresa no longo prazo, limitando sua capacidade de investimento, algo que seria negativo para

todos os brasileiros

Entrando no segundo ponto do vídeo, vamos falar como era a política de preços no governo Dilma Rousseff

O governo da petista foi marcado por inflação alta. No seu primeiro mandato, a inflação ficava

bem acima do centro da meta de inflação

do Banco Central, que era de 4,5%

Então, nos primeiros anos Dilma, a inflação girava entre 6% e 6,5%, segundo o IPCA

Já em 2015, último ano antes do seu impeachment, a inflação bateu mais de 10%.

Foi nesse contexto que seu governo intensificou o controle de preços da Petrobras, impedindo

que as oscilações do mercado internacional fossem repassadas ao mercado interno

Segundo cálculos do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), a Petrobras

acumulou prejuízos de mais de R$70 bilhões no primeiro mandato da presidente Dilma

Com o impeachment da petista, o novo presidente, Michel Temer, adotou uma política bastante

diferente, permitindo repasses diários da oscilação do mercado internacional para

os preços dos combustíveis no mercado interno

Isso contribuiu para que a estatal se recuperasse financeiramente, mas culminou em uma forte

greve de caminhoneiros em maio de 2018, que afetou o desempenho da economia naquele ano

Além de protestar contra os aumentos, a categoria reclamava que os reajustes diários impediam

a previsibilidade do custo do frete

Para evitar novas paralisações, o governo estabeleceu temporariamente subsídios no

preço dos combustíveis para os caminhoneiros

Vamos analisar agora como as ações do governo Bolsonaro se comparam com o controle de preços

no governo Dilma

O presidente foi eleito em 2018 com a promessa de uma gestão bastante liberal na economia,

em que o ministro Paulo Guedes teria grande autonomia para conduzir a política econômica

Isso incluía manter a prática do governo Temer de permitir que a Petrobras reajustasse

os combustíveis sempre que necessário para manter a lucratividade da empresa

No entanto, já em abril de 2019, poucos meses após Bolsonaro assumir o cargo, ele ligou

para o presidente da estatal Castello Branco para vetar novo reajuste no preço do diesel

Isso fez os papéis da empresa recuarem mais 8% em um dia, o que significou uma perda de

32 bilhões de reais no valor de mercado da estatal

Com a repercussão negativa, logo depois o preço do diesel foi reajustado, mas em percentual

um pouco abaixo do anunciado pela empresa inicialmente

Para agradar os caminhoneiros, o governo na ocasião anunciou uma linha de crédito para

a categoria e investimentos para melhorar rodovias

Agora, a decisão do governo de trocar o comando da estatal vem em um novo momento de alta

acentuada no preço dos combustíveis

Com um novo reajuste na semana passada, o preço da gasolina vendida nas refinarias

pela Petrobras já subiu 35% no ano, enquanto o diesel aumentou 28%

Bolsonaro tem respondido às críticas lembrando que ele tem a prerrogativa de indicar o presidente

da estatal, já que a União é o maior acionista da empresa

Nesta segunda-feira, ele negou que esteja interferindo nos preços da estatal e disse

que sua exigência é por "transparência e previsibilidade" nos preços

O especialista no setor de petróleo, David Zylbersztajn, professor da PUC-Rio, considera

que ainda é cedo para dizer que Bolsonaro "dilmou" no comando da estatal, já que realmente

não houve até o momento uma represamento no repasse da variação internacional para

os preços domésticos

Ele ressalta, porém, o efeito negativo das falas do presidente, que tem constantemente

criticado os reajustes da estatal

Isso, afirma, gera uma expectativa no mercado de que haverá uma mudança na política de

preços

Segundo o professor da PUC, a forma como o presidente está conduzindo a questão também

deve impactar negativamente os investimentos em refino de petróleo no Brasil

Desde de o governo Temer, a Petrobras tem um plano de venda de refinarias, para focar

seus investimentos em extração de petróleo no pré-sal

A gestão Castello Branco tem dado andamento a esse processo, por considerar que as refinarias

criadas nos governos PT foram um investimento ruim para a estatal

Mas, diante da incerteza da política de preços da Petrobras, quem vai querer fazer um investimento

altíssimo em refinarias no país com risco de ter que concorrer com preços subsidiados

da estatal, é o que pergunta o professor da PUC?

Bom, vamos acompanhar agora quando a troca do comando da estatal vai se concretizar e

se isso levará de fato a uma mudança na política de reajustes

O atual presidente, a princípio, tem mandato até 20 de março

A indicação do general Silva e Luna ainda precisa ser confirmada pelo conselho da Petrobras,

mas a União tem maioria no conselho

Espero que esse vídeo tenha ajudado você a entender melhor a briga dos preços dos combustíveis

Obrigado pela audiência, e até a próxima