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Porta Dos Fundos 2020, AMIGA IMAGINÁRIA

-E aí, dormiu? -Acabou de deitar.

-Quer sorvete? -Não.

Parece que a Catarina, a amiga imaginária,

-não estava com fome hoje. -Ai, amor.

- A Catarina não quis, é isso? -Não quis.

Ai, sei lá, esse negócio de amiga imaginária.

Ficar falando sozinha, amor. Eu fico preocupada, sabe?

Relaxa, relaxa. Isso é fase.

Todo mundo já passou por isso em algum momento.

-Ué? -Uma hora dessa, gente?

Vou ver.

-Opa. Pois não. -Boa noite.

Eu sou a mãe da Catarina. Vim buscar ela.

Perdão. Catarina?

É que o combinado era eu vir buscar ela.

Porque ela não gosta de dormir fora.

As meninas não falaram pra vocês, não?

Que meninas?

A única menina que tem aqui é a nossa filha.

Não, espera aí. Tem alguma coisa errada, gente.

Porque elas combinaram de assistir Frozen

depois da escola.

-Minha filha não está aqui, não? -Calma, pelo amor de Deus.

Acho que tem um mal entendido, né?

É que a única Catarina que a nossa filha conhece é...

a amiguinha imaginária dela.

Graças a Deus.

Vocês me deram um susto. É essa mesma, a Catarina.

Pode chamar ela pra mim, por favor?

Olha lá.

Oi, filha. Mamãe chegou.

Ela se comportou?

Acho que eu estou entendendo alguma coisa errada.

Você é a mãe da Catarina?

A amiga imaginária da nossa filha?

É um grude, né? Eu fico até um pouco enciumada

com a amizade, mas é coisa da idade, né?

Você se comportou? Obedeceu aos tios?

-Acho bom. -Calma aí.

Deixa eu só ver se eu entendi. Se eu entendi direitinho.

Você é mãe de uma filha imaginária?

Eu tive uma gravidez psicológica

e eu e meu marido, a gente decidiu ter.

-Ah, que molezinha. -Não é, não.

Você que se engana. Não é fácil, não.

As crianças ignoram ela. É muito difícil isso.

Mas ela é tão agitada, menina. Ela é difícil.

Ela não deu trabalho, não, né?

Porque, aquilo ali, nem ritalina dá conta.

A gente nem viu nada, né?

-Caramba. -Que isso?

Catarina, mamãe está conversando.

Mamãe já falou: "Quando conversa com adulto,

não é pra criança falar."

Meu Deus do Céu, mas fala pelos cotovelos.

É um negócio que eu não sei.

-Ela comeu? -Comeu, comeu.

Só deixou um pouquinho de sobremesa só.

-Sobremesa? -Ai.

Não, a gente combinou que sobremesa, não,

durante a semana. Açúcar, não. Principalmente, à noite.

Meu Deus, me perdoa. Eu não sabia.

Espera aí, gente. Tem alguma coisa...

espera aí. Vamos ficar calmos, né?

Até porque não tem ninguém aqui, né?

Desculpa, tá bom. Eu estou estressada.

Ela está bem. Obrigada por vocês terem cuidado dela.

Catarina, dá tchau...

Catarina, levanta.

Levanta, vem dar tchau pro...

Que falta de educação. Está todo mundo te olhando.

Olha que coisa feia.

-Olha! -Opa.

-Que isso? -Não precisava pisar nela.

-Eu? -Não foi por mal, não.

Isso não é educar uma criança.

Vem, vem, filha. Vem cá com a mãe, vem?

Mas não chora.

Fala com os tios agora. Dá tchau pros tios.

-Tchau. -Tchau, Catarina.

-Um grande abraço. -Está lindona.

-Deus abençoe. -Boa noite.

Tchau, boa noite. Até mais.

-Eita, que isso? Olha a criança. -Eita, foi mal.

-Machucou a criança. -Desculpa.

Gente, quem vocês são?

Vem, filha, vem.

Pelo amor de Deus, nunca mais te trago aqui, Catarina.

Nunca mais. Não me peça, hein?

-Que porra é essa? -Não sei. Eu não sei.

Catarina...

esqueceu a mochilinha.

-Aqui, está aqui. -Quem, amor?

Catarina. Bota o bracinho direito.

Bracinho esquerdo. Isso.

Cuidado com o degrau.

Vem cá, vem cá.

Tudo bom?

Quer balinha? Balinha do tio.

Balinha.

Olha a balinha.

Abre a boquinha.


-E aí, dormiu? -Acabou de deitar.

-Quer sorvete? -Não.

Parece que a Catarina, a amiga imaginária,

-não estava com fome hoje. -Ai, amor.

- A Catarina não quis, é isso? -Não quis.

Ai, sei lá, esse negócio de amiga imaginária.

Ficar falando sozinha, amor. Eu fico preocupada, sabe?

Relaxa, relaxa. Isso é fase.

Todo mundo já passou por isso em algum momento.

-Ué? -Uma hora dessa, gente?

Vou ver.

-Opa. Pois não. -Boa noite.

Eu sou a mãe da Catarina. Vim buscar ela.

Perdão. Catarina?

É que o combinado era eu vir buscar ela.

Porque ela não gosta de dormir fora.

As meninas não falaram pra vocês, não?

Que meninas?

A única menina que tem aqui é a nossa filha.

Não, espera aí. Tem alguma coisa errada, gente.

Porque elas combinaram de assistir Frozen

depois da escola.

-Minha filha não está aqui, não? -Calma, pelo amor de Deus.

Acho que tem um mal entendido, né?

É que a única Catarina que a nossa filha conhece é...

a amiguinha imaginária dela.

Graças a Deus.

Vocês me deram um susto. É essa mesma, a Catarina.

Pode chamar ela pra mim, por favor?

Olha lá.

Oi, filha. Mamãe chegou.

Ela se comportou?

Acho que eu estou entendendo alguma coisa errada.

Você é a mãe da Catarina?

A amiga imaginária da nossa filha?

É um grude, né? Eu fico até um pouco enciumada

com a amizade, mas é coisa da idade, né?

Você se comportou? Obedeceu aos tios?

-Acho bom. -Calma aí.

Deixa eu só ver se eu entendi. Se eu entendi direitinho.

Você é mãe de uma filha imaginária?

Eu tive uma gravidez psicológica

e eu e meu marido, a gente decidiu ter.

-Ah, que molezinha. -Não é, não.

Você que se engana. Não é fácil, não.

As crianças ignoram ela. É muito difícil isso.

Mas ela é tão agitada, menina. Ela é difícil.

Ela não deu trabalho, não, né?

Porque, aquilo ali, nem ritalina dá conta.

A gente nem viu nada, né?

-Caramba. -Que isso?

Catarina, mamãe está conversando.

Mamãe já falou: "Quando conversa com adulto,

não é pra criança falar."

Meu Deus do Céu, mas fala pelos cotovelos.

É um negócio que eu não sei.

-Ela comeu? -Comeu, comeu.

Só deixou um pouquinho de sobremesa só.

-Sobremesa? -Ai.

Não, a gente combinou que sobremesa, não,

durante a semana. Açúcar, não. Principalmente, à noite.

Meu Deus, me perdoa. Eu não sabia.

Espera aí, gente. Tem alguma coisa...

espera aí. Vamos ficar calmos, né?

Até porque não tem ninguém aqui, né?

Desculpa, tá bom. Eu estou estressada.

Ela está bem. Obrigada por vocês terem cuidado dela.

Catarina, dá tchau...

Catarina, levanta.

Levanta, vem dar tchau pro...

Que falta de educação. Está todo mundo te olhando.

Olha que coisa feia.

-Olha! -Opa.

-Que isso? -Não precisava pisar nela.

-Eu? -Não foi por mal, não.

Isso não é educar uma criança.

Vem, vem, filha. Vem cá com a mãe, vem?

Mas não chora.

Fala com os tios agora. Dá tchau pros tios.

-Tchau. -Tchau, Catarina.

-Um grande abraço. -Está lindona.

-Deus abençoe. -Boa noite.

Tchau, boa noite. Até mais.

-Eita, que isso? Olha a criança. -Eita, foi mal.

-Machucou a criança. -Desculpa.

Gente, quem vocês são?

Vem, filha, vem.

Pelo amor de Deus, nunca mais te trago aqui, Catarina.

Nunca mais. Não me peça, hein?

-Que porra é essa? -Não sei. Eu não sei.

Catarina...

esqueceu a mochilinha.

-Aqui, está aqui. -Quem, amor?

Catarina. Bota o bracinho direito.

Bracinho esquerdo. Isso.

Cuidado com o degrau.

Vem cá, vem cá.

Tudo bom?

Quer balinha? Balinha do tio.

Balinha.

Olha a balinha.

Abre a boquinha.