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Buenas Ideias, A GUERRA DE IGUAPE - EDUARDO BUENO (2)

A GUERRA DE IGUAPE - EDUARDO BUENO (2)

força".

Daí os cara "tá bom".

Tipo "obrigado por ter me avisado a data", né cara.

E aí, meu, eles... aí acontece uma história incrível porque chega um navio francês,

chega um navio francês...

A costa brasileira já era muito ocupada por franceses nessa época.

Cara, nós tamos em 1533 e já tá acontecendo um monte de coisa na história do Brasil,

um monte de coisa que nunca te contaram, cara, eu que tenho que vir aqui te contar, impressionante,

e ainda gripado, e aí COF COF COF COF, tão velho e tão tossidor quando o Bacharel, tenho

que aqui gastar minha energia contando essa história pra ti só porque tu não sabe.

Aí esse navio francês chega pra pedir mantimentos e mulheres e escravos pro bacharel... e aí

cara, dois franceses descem, né, pra... pra pegar esse material, pra pedir, pra comprar...

e aí cara, eles voltam, o Bacharel e um monte de índio, mandam esses caras que já foram

feitos prisioneiros na frente.. e eles voltam de barquinho numa noite muito, mui obscura...

que nem tá num relato lá de época.

Uma noite muito escura, os caras voltam de barquinho e diz "estamos voltando a bordo,

joguem os cabos"..

E os franceses jogam os cabos pra eles subirem e aí sobe todo.. toda a turma do bacharel

e todos os índios do Bacharel, prendem os cara, matam alguns, pedem resgate por outros

e roubam o barco deles.

E mais do que roubarem o barco deles, roubam os quatro canhões dos barcos deles e levam

os canhões pra praia.

E cavam cara, uma puta trincheira na... em Iguape, num lugar chamado, num lugar chamado

Icapaça... que é um, que é um riozinho, que é uma barra de um rio que se põe ali

no rio Iguape.

Eles cavam ali uma trincheira enorme e botam os quatro canhões e botam aquelas lança

tudo assim papapá papapá.

Passam os tais dez, quinze dias sei lá, que os portugueses tinham dado de prazo e eles

vem pra buscá-los e quando eles chegam em Cananeia tem uns índios lá dizendo "eles

tão tudo ali em Iguape, ó, é só ir ali pegar".

E o Pero de Góis vai cara, e chega lá...

COF... e eles criaram um ardil, um estratagema, e quando os cara vão pegar eles, eles tão

tudo entrincheirado com quatro canhões, cara, e com um monte de lança e PUM PUM PUM PUM...

Matam oitenta portugueses, cara, matam oitenta portugueses!

Inclusive o Pero Góis não morre, o Pero de Góis, mas leva uma flechada no olho e

perde o olho pra sempre.

Quando ele virou o donatário lá de São Tomé... que é outra história incrível

também, a vida desse cara, que ninguém conta pra gente.. ele vira donatário lá sem um

olho!

Porque ele perdeu um olho nesse, nesse confronto, que foi no verão de 1534.

Não se sabe exatamente quando, entre janeiro e fevereiro de 1534.

O que se sabe é que logo depois disso, logo depois disso cara, sabendo que São Vicente

só tinha cento e tantos... duzentos.. menos de duzentos habitantes... e que oitenta tinham

atacado Iguape e tinham sido quase todos mortos... que que o Bacharel e o Ruy Moschera fazem?

Pegam o barco francês, botam toda a tropa deles e vão até São Vicente, cara.

E chegam em São Vicente, que tá desguarnecida... e destroem a cidade inteira, cara!

Destroem a cidade inteira!

A cidade que era a primeira cidade brasileira, primeira vila fundada no Brasil, em 1532,

dois anos antes, pelo Martim Afonso de Sousa...

Mas com todo o dinheiro do Martim Afonso, com todo o apoio do Martim Afonso... portanto

já era uma vila bem estabelecida, de certa forma, pros padrões da época, com duzentos

habitantes...

Destroem, botam fogo na vila inteira, cara.

Destroem o pelourinho, que é o lugar onde os malfeitores eram punidos...

E acima de tudo, cara: queimam o cartório!

Porque no cartório já tavam registradas todas as escrituras de posse.. né, porque

os portugueses chegavam num lugar e tomavam posse dum lugar que era indígenas há milhares

de anos e aí dividem, assim, em terrenos.. "esse terreno é teu, esse terreno é teu,

esse terreno é teu"... e aí vão no cartório, pum, pum..

E o cara fica ali com a escritura, sou dono desse lugar aqui...

O Brás Cubas, o Henrique Montes, um monte de personagem que depois viria a ser famoso

na história do Brasil, né.

E eles queimam o cartório, cara, acabam com as escrituras...

Eles queimam a IGREJA, cara, eles destroem a cidade inteira, cara!

É inacreditável!

É a primeira luta, o primeiro confronto entre europeus travados, com certeza, na América

do Sul.

Aí voltam pra... pra Cananeia... e ninguém mais ataca eles em Cananeia, né, cara!

E esse evento atrasa em mais de dez anos a colonização do sul do Brasil, né.

Sendo que em 1542, dez anos, oito anos depois, quando eles tentam recriar São Vicente, vem

um MAREMOTO!

Teve um MAREMOTO, um maremoto GIGANTE em São Vicente, com ondas de dez metros de altura,

tsunami, que devastou o pouco que eles tinham construído de novo.

E sabe que que é o melhor dessa história, cara?

É que ela não tem fim!

Porque ninguém sabe que que aconteceu com o Bacharel, ninguém sabe o que que aconteceu

com o Ruy García Moschera.

Ninguém sabe nada, cara!

O fato é que esses caras continuaram vivendo anos em Cananeia, e o fato que até hoje Cananeia

é isolado, cara, Cananeia continua cercada de matas e de mistérios, cara...

Que nem é a tua cabeça sobre a história do Brasil: é só mata e é só mistério.

Ainda bem que eu sou um desbravador de trilhas e aí entra um pouco de luz nesse cérebro

cheio de musgo, né cara.

Hahaha.

Tá bom, cara, é isso, acabou a história da guerra de Iguape.

É legal, né, cara.

É legal.

Tá, tchau.

“O que você acaba de ver está repleto de generalizações e simplificações, mas

o quadro geral era esse aí mesmo!

Agora, se você quer saber como as coisas de fato foram...

Ah, então você vai ter que ler!".


A GUERRA DE IGUAPE - EDUARDO BUENO (2) LA GUERRE D'IGUAPE - EDUARDO BUENO (2)

força".

Daí os cara "tá bom".

Tipo "obrigado por ter me avisado a data", né cara.

E aí, meu, eles... aí acontece uma história incrível porque chega um navio francês,

chega um navio francês...

A costa brasileira já era muito ocupada por franceses nessa época.

Cara, nós tamos em 1533 e já tá acontecendo um monte de coisa na história do Brasil,

um monte de coisa que nunca te contaram, cara, eu que tenho que vir aqui te contar, impressionante,

e ainda gripado, e aí COF COF COF COF, tão velho e tão tossidor quando o Bacharel, tenho

que aqui gastar minha energia contando essa história pra ti só porque tu não sabe.

Aí esse navio francês chega pra pedir mantimentos e mulheres e escravos pro bacharel... e aí

cara, dois franceses descem, né, pra... pra pegar esse material, pra pedir, pra comprar...

e aí cara, eles voltam, o Bacharel e um monte de índio, mandam esses caras que já foram

feitos prisioneiros na frente.. e eles voltam de barquinho numa noite muito, mui obscura...

que nem tá num relato lá de época.

Uma noite muito escura, os caras voltam de barquinho e diz "estamos voltando a bordo,

joguem os cabos"..

E os franceses jogam os cabos pra eles subirem e aí sobe todo.. toda a turma do bacharel

e todos os índios do Bacharel, prendem os cara, matam alguns, pedem resgate por outros

e roubam o barco deles.

E mais do que roubarem o barco deles, roubam os quatro canhões dos barcos deles e levam

os canhões pra praia.

E cavam cara, uma puta trincheira na... em Iguape, num lugar chamado, num lugar chamado

Icapaça... que é um, que é um riozinho, que é uma barra de um rio que se põe ali

no rio Iguape.

Eles cavam ali uma trincheira enorme e botam os quatro canhões e botam aquelas lança

tudo assim papapá papapá.

Passam os tais dez, quinze dias sei lá, que os portugueses tinham dado de prazo e eles

vem pra buscá-los e quando eles chegam em Cananeia tem uns índios lá dizendo "eles

tão tudo ali em Iguape, ó, é só ir ali pegar".

E o Pero de Góis vai cara, e chega lá...

COF... e eles criaram um ardil, um estratagema, e quando os cara vão pegar eles, eles tão

tudo entrincheirado com quatro canhões, cara, e com um monte de lança e PUM PUM PUM PUM...

Matam oitenta portugueses, cara, matam oitenta portugueses!

Inclusive o Pero Góis não morre, o Pero de Góis, mas leva uma flechada no olho e

perde o olho pra sempre.

Quando ele virou o donatário lá de São Tomé... que é outra história incrível

também, a vida desse cara, que ninguém conta pra gente.. ele vira donatário lá sem um

olho!

Porque ele perdeu um olho nesse, nesse confronto, que foi no verão de 1534.

Não se sabe exatamente quando, entre janeiro e fevereiro de 1534.

O que se sabe é que logo depois disso, logo depois disso cara, sabendo que São Vicente

só tinha cento e tantos... duzentos.. menos de duzentos habitantes... e que oitenta tinham

atacado Iguape e tinham sido quase todos mortos... que que o Bacharel e o Ruy Moschera fazem?

Pegam o barco francês, botam toda a tropa deles e vão até São Vicente, cara.

E chegam em São Vicente, que tá desguarnecida... e destroem a cidade inteira, cara!

Destroem a cidade inteira!

A cidade que era a primeira cidade brasileira, primeira vila fundada no Brasil, em 1532,

dois anos antes, pelo Martim Afonso de Sousa...

Mas com todo o dinheiro do Martim Afonso, com todo o apoio do Martim Afonso... portanto

já era uma vila bem estabelecida, de certa forma, pros padrões da época, com duzentos

habitantes...

Destroem, botam fogo na vila inteira, cara.

Destroem o pelourinho, que é o lugar onde os malfeitores eram punidos...

E acima de tudo, cara: queimam o cartório!

Porque no cartório já tavam registradas todas as escrituras de posse.. né, porque

os portugueses chegavam num lugar e tomavam posse dum lugar que era indígenas há milhares

de anos e aí dividem, assim, em terrenos.. "esse terreno é teu, esse terreno é teu,

esse terreno é teu"... e aí vão no cartório, pum, pum..

E o cara fica ali com a escritura, sou dono desse lugar aqui...

O Brás Cubas, o Henrique Montes, um monte de personagem que depois viria a ser famoso

na história do Brasil, né.

E eles queimam o cartório, cara, acabam com as escrituras...

Eles queimam a IGREJA, cara, eles destroem a cidade inteira, cara!

É inacreditável!

É a primeira luta, o primeiro confronto entre europeus travados, com certeza, na América

do Sul.

Aí voltam pra... pra Cananeia... e ninguém mais ataca eles em Cananeia, né, cara!

E esse evento atrasa em mais de dez anos a colonização do sul do Brasil, né.

Sendo que em 1542, dez anos, oito anos depois, quando eles tentam recriar São Vicente, vem

um MAREMOTO!

Teve um MAREMOTO, um maremoto GIGANTE em São Vicente, com ondas de dez metros de altura,

tsunami, que devastou o pouco que eles tinham construído de novo.

E sabe que que é o melhor dessa história, cara?

É que ela não tem fim!

Porque ninguém sabe que que aconteceu com o Bacharel, ninguém sabe o que que aconteceu

com o Ruy García Moschera.

Ninguém sabe nada, cara!

O fato é que esses caras continuaram vivendo anos em Cananeia, e o fato que até hoje Cananeia

é isolado, cara, Cananeia continua cercada de matas e de mistérios, cara...

Que nem é a tua cabeça sobre a história do Brasil: é só mata e é só mistério.

Ainda bem que eu sou um desbravador de trilhas e aí entra um pouco de luz nesse cérebro

cheio de musgo, né cara.

Hahaha.

Tá bom, cara, é isso, acabou a história da guerra de Iguape.

É legal, né, cara.

É legal.

Tá, tchau.

“O que você acaba de ver está repleto de generalizações e simplificações, mas

o quadro geral era esse aí mesmo!

Agora, se você quer saber como as coisas de fato foram...

Ah, então você vai ter que ler!".