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O Assunto (*Generated Transcript*), A coroação de Rei Charles III 🎧 O ASSUNTO I g1

A coroação de Rei Charles III 🎧 O ASSUNTO I g1

A 70 anos, a Rainha Elizabeth II era coroada numa luxuosa cerimônia na abadia de Westminster,

em Londres.

De uma das galerias, seu primogênito Charles, então com 4 anos, observava a consagração

ao lado de religiosos e chefes de estado do mundo todo.

Neste sábado, dia 6, é a vez de Charles ser o protagonista da celebração, repleta

de rituais que remontam à Idade Média.

Os ritos incluem juramento, a unção com um óleo especial e a investidura com a coroa

de Santo Eduardo, além da entrega de um anel e joias da coroa britânica.

Símbolos de um império que se dissolveu, mas com tradições que ainda atraem muitos

olhares.

Nós estamos aqui em frente ao palácio de Buckingham, onde acontece uma parte desse

evento da coroação.

Tem muita gente acampada, são dezenas e dezenas de barracas.

As pessoas estão aqui tentando pegar um lugar privilegiado para ver de perto a família

real.

Com 74 anos, Charles é o mais velho a ascender ao trono e também foi o herdeiro que mais

tempo esperou por esse momento.

Agora me comprometo solenemente, durante todo o tempo que Deus me conceder, a defender os

princípios constitucionais do coração de nossa nação.

Vou me esforçar para servir vocês com lealdade, respeito e amor, como tenho feito ao longo

de minha vida.

Como tenho feito ao longo da minha vida.

Da redação do G1, eu sou Ana Tuzaneri e o assunto hoje é a coroação do rei Charles

III.

O que esperar da cerimônia histórica, as críticas que a família real enfrenta e os

desafios para manter vivo o interesse dos britânicos mais jovens na monarquia.

Neste episódio, eu converso com Cecília Malan, repórter da TV Globo em Londres, e

Renato de Almeida Vieira e Silva, doutor em comunicação e especialista em realeza

britânica.

Sexta-feira, 5 de maio.

Cecília eu quero começar te perguntando como é que está o clima em Londres as vésperas

da coroação do rei Charles III?

Bom, a cidade está toda enfeitada.

A gente vê o rosto de Charles estampado nas vitrines, nas lembrancinhas, nas capas de

livros, revistas e jornais.

E é claro que perto dos pontos da cerimônia, Palácio de Buckingham, Abadia de Westminster,

tem muito turista, muito admirador da realeza.

Eu gravei hoje de cedo perto do palácio, por exemplo, e conversei com turistas acampados

desde segunda-feira já ao longo do trajeto do cortejo e todos falaram da oportunidade

única que é fazer parte desse momento, a primeira coroação em 70 anos.

Essa coroação vai ser o maior evento cerimonial em 70 anos e a maior operação policial em

décadas com mais de 11.500 agentes.

Tudo coordenado de um centro subterrâneo à prova de bombas.

Esse centro foi montado perto de Abadia.

Um pouco depois da meia-noite e 20, o Palácio de Buckingham ficou todo iluminado.

Membros dos cinco regimentos de guarda a pé, vestido com as tradicionais túnicas e usando

aqueles chapéus de pele de urso, se alinharam do lado de fora.

Centenas de militares do Exército, da Marinha e da Força Aérea ensaiaram o cortejo que

vai sair daqui do Palácio de Buckingham, vai até Abadia de Westminster, onde o Rei

Charles vai ser coroado ao lado da rainha consorte Camilla.

Agora é claro que quem não é fã, quem não tem interesse na Família Real não vai

estar nesses lugares e vai inclusive aproveitar o feriado de segunda-feira para sair de Londres,

para fingir que nada está acontecendo.

E tem gente que se prepara para fazer o oposto, para estar presente, mas não para admirar,

para fazer manifestação contra a monarquia, né?

Sim, sim.

Tem um protesto previsto para sábado de manhã, que foi organizado, está sendo organizado

pelo movimento republicano, que pede o fim da monarquia, o fim de privilégios hereditários

e a eleição democrática de um chefe de Estado.

Eu entrevistei o diretor desse grupo, Graham Smith.

Ele argumenta que a realeza não traz absolutamente nenhum benefício para o Reino Unido, que

a instituição é só um peso morto, nas palavras dele.

É um discurso meio radical demais, que pode atrapalhar mais do que ajudar a causa republicana,

já que, na minha opinião, o debate em torno da monarquia tem muitas camadas, tem nuances.

É muito difícil dissociar a Família Real da identidade britânica, da história, da

cultura daqui.

E é difícil também ignorar os milhões de turistas que vêm todos os anos para cá,

muitos interessados justamente na história da realeza, nos monumentos ligados à realeza.

Eu acho que a monarquia já deu, né?

Eu acho que é bom.

Eu acho que é bom ter um chefe de Estado não político.

Tem uma simbologia de unidade nacional.

Você acha que eles não estarão por aí em 100 anos, por exemplo?

Eu deveria esperar que não.

Agora, o rei Charles III assumiu o cargo logo depois da morte da mãe dele, a rainha Elizabeth

II, em setembro do ano passado.

Olha como o tempo já passou muito rapidamente.

Por que a cerimônia de coroação é só agora, tanto tempo depois?

Bom, ele virou rei assim que a mãe faleceu.

Não pode haver um vácuo, um vazio.

A coroação demora alguns meses, primeiro para respeitar o período de luto, tanto o

nacional como o da Família Real, né?

Afinal, eles perderam uma bisavó, uma avó, uma mãe.

Lordes e membros da Câmara dos Comuns, estou profundamente grato pelos seus mensagens

de condolências da Câmara dos Lordes e da Câmara dos Comuns, que de forma tão sensível

falam sobre quanto a rainha, minha mãe, significou para todos nós.

Desde muito jovem, ela prometeu servir o seu país e o seu povo e manter os princípios

do governo constitucional que são o coração da nossa nação.

E também porque, apesar de já ter tudo organizado e tonejado no papel, leva tempo para pôr

em prática.

Estamos falando do maior evento cerimonial em sete décadas, a maior operação policial

também, são mais de 11.500 agentes que vão patrulhar as ruas no sábado, cerca de

100 chefes de Estado que vão desembarcar na capital britânica, entre eles o presidente

Lula, integrantes de outras famílias reais e, claro, centenas de milhares de espectadores.

E a cerimônia tem um apelo a mais, digamos assim, porque é algo que já não acontece

mais nas outras monarquias europeias, só aqui.

E os britânicos vão fazer o que fazem melhor do que ninguém, pompa, luxo, pontualidade,

precisão, uma coreografia ensaiada à exaustão para fazer bonito e para vender a imagem do

Reino Unido para o mundo todo.

Você mencionou que a última coroação foi há 70 anos e eu queria muito colocar as duas

em perspectiva.

O que a cerimônia marcada para esse sábado tem de diferente da cerimônia realizada 70

anos atrás?

Bom, em 1953 foi uma cerimônia longa, de quase 4 horas de duração, com 8 mil convidados,

seguida por um demorado cortejo que cortou a cidade.

Eu os agradeço de coração inteiro.

Deus os abençoe.

Charles optou por um evento mais enxuto, mais inclusivo, menos políticos e aristocratas,

representantes da sociedade civil e de grupos religiosos.

Serão cerca de 2.200 convidados.

É uma tentativa de refletir a sociedade britânica de hoje.

O toque de modernidade da coroação da mãe foi o fato da cerimônia ter sido transmitida

ao vivo, pela primeira vez, sugestão do marido dela, o príncipe Philip.

A modernidade agora vai ser na inclusão, pela primeira vez, de bispas e de algumas

canções que vão ser cantadas em galês, também pela primeira vez.

Charles foi, só lembrando rapidamente, o príncipe de Gales durante muitos anos, que

é o título dado ao herdeiro direto ao trono, agora no caso o príncipe William.

E o que dá para colocar em termos de diferença em relação à popularidade da monarquia

naquela época, naquela ocasião e agora?

Bom, são contextos muito diferentes.

Elizabeth foi coroada no período pós-guerra, uma jovem rainha, serviu como um prenúncio

de dias melhores.

O chefe de governo à época era o experiente Winston Churchill.

Agora o Reino Unido vive uma grave crise econômica, com a maior inflação dos últimos 40 anos,

que arrasa o poder de compra dos britânicos.

O primeiro-ministro é jovem, sem muito capital político.

Talvez não seja o momento mais fácil de defender uma instituição cara, cercada de

privilégios.

E isso se reflete mesmo nas pesquisas mais recentes.

Entre os mais jovens, por exemplo, há cada vez menos certeza de que a realeza é uma

coisa boa para o Reino Unido.

Agora, a reinvenção de Charles é muito impressionante.

Ele chegou a ser uma das pessoas mais impopulares do Reino Unido, logo depois da morte trágica

da ex-mulher dele, Diana.

E ele conseguiu dar uma volta por cima, uma transformação.

Ele sempre falou de assuntos que hoje estão em pauta, conservação do meio ambiente,

oportunidades para jovens.

Charles recebeu o título de príncipe em 1958, quando tinha 10 anos.

Mas a cerimônia oficial só seria realizada 11 anos depois, no país de Gales.

Ao sair da marinha, ele se engajou no ativismo.

Veja um trecho desse discurso que Charles fez em 1970.

Nesta ilha existem 55 milhões de nós usando garrafas descartáveis e embalagens plásticas

indestrutíveis.

Não é difícil imaginar as montanhas de rejeitos com as quais, de algum modo, vamos

ter que lidar.

Em 1976, Charles criou uma fundação que apoia jovens no trabalho e na educação.

Então é uma transformação curiosa de se ver e isso se reflete também nas pesquisas

de opinião.

Ele não é o royal mais popular, mas ele vem crescendo na opinião dos súbditos.

E o que mais você pode nos contar, Cecília, sobre a cerimônia?

Curiosidades que te chamam a atenção, por exemplo?

Para mim, pessoalmente, as joias da realeza, Natuza.

Joias, cetros, orbes, são relíquias que ficam normalmente expostas na Torre de Londres,

que são admiradas por turistas do mundo todo e que agora a gente vai ver em uso e não

somente expostas como peças de museu.

Os ativistas sul-africanos estão pedindo a devolução desse aí, que é o maior diamante

do mundo e que está no cetro real, que Charles III vai usar na coroação.

Esse diamante foi descoberto na África do Sul, em 1905, quando o país era uma colônia

britânica e foi dado de presente ao Reino Unido.

Vai ter também o momento em que Charles vai ser ungido com óleo sagrado, essa é a única

parte privada da cerimônia, longe dos olhos do público.

Tem as carruagens, o rei e a rainha viajam do Palácio de Buckingham até a Abadia na

carruagem do Jubileu, que é uma mais moderna, com ar-condicionado até, e depois, na segunda

parte, já depois da cerimônia, no trajeto inverso, de volta à residência oficial,

na carruagem dourada, que foi usada na coroação da mãe, 70 anos atrás, e que dizem ser muito

mais desconfortável.

Sem falar nos trajes, túnicas bordadas com fio de ouro, aquele exagero, aquele luxo,

aquela pompa toda.

Mas eu acho que o grande destaque mesmo vai ficar por conta das coroas.

Tanto a coroa que o arcebispo da Cantuária vai colocar na cabeça de Charles, que é a

coroa de Saint Edward, uma reine líquia do século XVII, como também a coroa imperial

que ele vai usar para deixar a Abadia, que a gente vê todos os anos na abertura do Parlamento,

e tem ainda a coroa que vai ser usada pela rainha Camila, todas essas cravejadas com

milhões de diamantes e pedras preciosas.

Tem uma particular curiosidade sobre ela.

Como é que é a popularidade dela, tendo em vista que Charles tinha uma relação extraconjugal

com ela, na época da Diane, enfim, como é que é a imagem dela?

Depende muito para quem você pergunta.

Sim, entre a geração, entre os mais velhos, gostam muito da Camila, acham que ela é de

fato o amor da vida de Charles, sempre esteve ao lado dele, companheira, que eles fazem

bem um ao outro.

Já os mais jovens não acham muita graça.

E o nível de popularidade dela não é dos mais altos, mas vem crescendo, está no nível

mais alto dela.

Camila e Charles se casaram em 2005, depois de idas e vindas num relacionamento iniciado

na década de 1970.

As gerações mais novas não viveram o drama do passado, não viveram o drama do divórcio

da irmã da rainha, por exemplo, os divórcios dos filhos da rainha, isso já ficou meio

longe e só através de séries mais recentes, de filmes mais recentes é que puderam ter

essa visão dos dramas familiares, dessa família dysfunctional, como dizem aqui.

Agora, mudando um pouquinho de assunto, o Guardian fez uma extensa investigação sobre

a riqueza do rei Charles III e chegou a uma fortuna de 1,8 bilhão de libras, que é o

equivalente a mais de 11 bilhões de reais.

E segundo noticiado pela imprensa, a coroação vai custar entre 57 milhões e 113 milhões

de euros, ou seja, até cerca de 620 milhões de reais.

Por que mesmo o rei sendo tão rico, quem paga por boa parte dos custos dessa coroação

é o povo britânico?

É, o governo britânico assume essa conta entendendo que isso é uma oportunidade única,

rara de vender a imagem do Reino Unido, mundo afora, com a cobertura internacional, jornalística,

jornalistas do mundo todo, programas especiais sendo transmitidos, turistas vindo para o

país, para viajar pelo país, visitando justamente residências reais, palácios, castelos, comprando,

movimentando a economia britânica.

Então, claro que são muitos gastos, mas a família real também gera dinheiro para

o governo.

Essa investigação do Guardian foi muito interessante porque ela revelou todo um aparato

de sigilo que dificulta o acesso a informações sobre a riqueza pessoal dos integrantes da

família real.

Porque os gastos da monarquia estão publicados na internet para quem quiser se dar o trabalho

de ver.

Tem lá os orçamentos, tem lá quanto é gasto com manutenção das residências reais, com

pagamento de funcionários, que como você pode imaginar é um mini exército para manter

essa engrenagem de pé.

Os gastos estão lá detalhados, mas não há informações sobre a riqueza pessoal

dos integrantes.

E é isso que gera muitas críticas, de que eles não são tratados como mero mortais

e que eles têm uma série de privilégios nesse sentido que não se aplica a todos os

outros residentes do Reino Unido.

Marília, muito obrigada, não posso terminar sem te perguntar da Meghan Markle, ela não

vai mesmo né?

Ela não vem, ela não estará em Londres, ela foi convidada, mas foi uma decisão lá

do casal, imagino, para ela ficar na Califórnia com os filhos.

É inclusive aniversário do filho mais velho deles, o príncipe Orchie, no sábado, no

mesmo dia da coroação.

Mas o príncipe Harry vem, não poderia faltar ao dia mais importante da vida do pai né?

Sim, dúvida nenhuma.

Bom, depois eu vou querer saber como é que foi fazer essa cobertura, primeira coroação

que você cobre na vida, a gente volta a se falar.

Claro, vai ser um prazer.

Obrigada pela oportunidade de conversar com vocês.

Boa cobertura, tchau tchau.

Um beijo.

Espera um pouquinho que eu já volto para falar com o Renato.

Renato, o momento do Reino Unido agora é muito diferente de quando a Elizabeth II assumiu

sete décadas atrás.

Como é que está o apoio da opinião pública em relação à monarquia na Commonwealth?

E aqui eu me refiro aos povos que são representados pelo rei Charles como chefe de Estado.

Bom, aí nós temos dois grupos, os 56 países que fazem parte da Commonwealth e tem 14 países

que hoje tem o rei como seu chefe de Estado.

É claro que toda transferência de poder você tem naturalmente um impacto, justamente

dos grupos que são contrários à monarquia ou qualquer coisa que lembre ou ainda se

admita de um passado colonial.

Vamos dizer que daquele grupo que hoje tem o rei como seu chefe de Estado, eu diria que

Jamaica e Austrália devem encabeçar algum movimento mais forte.

Os demais têm alguma sinalização como a Nova Zelândia, vizinha da Austrália, e

alguns outros países.

Agora, tem que lembrar também que alguns desses países são realmente países muito

pouco desenvolvidos e dependentes muitas das vezes até de uma ajuda de um país mais

desenvolvido como é o caso do Reino Unido.

Em relação à Commonwealth como um todo, que aí já estamos falando do grupo que reúne

esse país que tem o rei como seu chefe de Estado e mais aqueles que mantêm relações,

vamos dizer assim, mais culturais e diplomáticas com o Reino Unido, vai depender muito de como

Charles se coloque diante e principalmente o próprio governo britânico.

Tem que lembrar que Charles nesse momento é muito mais um porta-voz das ações diplomáticas

do governo britânico do que necessariamente um governante isolado.

Tem uma coisa interessante.

Eu diria que essa pegada dele em relação ao meio ambiente deu um link muito interessante

e ele é um defensor histórico disso, desse posicionamento.

Historicamente, o próprio rei Charles, ainda príncipe Charles, sempre foi um entusiasta

das questões climáticas, tem ali um dos primeiros protótipos de carros elétricos,

tem observado essas mudanças também de cenário global de muitos países que vêm buscando

um aprimoramento nessa conversa.

O presidente Lula conversou por telefone com o rei Charles III do Reino Unido na pauta

as mudanças climáticas, que é um foco de interesse do rei e também a coroação dele.

Ele convidou Lula para ir à coroação.

E essa conversa com o presidente Lula você tem também, é claro, um esforço do governo

brasileiro, claro, para tentar ali garantir um aporte também do Reino Unido para o fundo Amazônia.

Então, como esse é um tema, vamos dizer, que está na pauta do mundo como um todo

e tende a ser cada vez mais discutido, eu diria que alguns desses temas poderão também

fazer parte dos interesses que serão tratados ou discutidos, ou até reforçados, pela própria comunidade.

Renato, vale a pena a gente abordar um ponto que é recorrentemente alvo de críticas

quando se avalia o período passado de escravidão nas ex-colônias britânicas.

Como a família real e mais especificamente o rei Charles têm olhado e se posicionado

diante desse debate sobre a reparação pela colonização?

Bom, a família real tem se posicionado de uma forma extremamente diplomática até pela

posição que eles possuem diante desse tema, que é um tema de governam, mas que de certa

forma cai também nas visitas de Estado.

Recentemente, acho que há dois anos atrás, o príncipe William visitou Belize, que é

um protetorado britânico.

E nessa visita houve realmente muitas manifestações contrárias à família real, inclusive a

fazendo alusão ao passado da colonização, a questão também da escravidão e dizendo

que não aceitariam, ou talvez há um movimento de não aceitação, de que o rei continue

sendo o chefe de Estado de Belize.

E o príncipe William fez uma colocação muito interessante, que lamentava que a escravidão

não tenha existido e que espera que ela não exista na face da terra e que, caso seja

do desejo do povo de Belize em que eles deixem de ser também chefe de Estado do país, eles

podem perfeitamente adotar uma nova forma de governo e que a família real estará lá para apoiar.

Então, não entrando num revisionismo histórico, que isso tende a tomar conta, vamos dizer,

de algumas visitas e tudo, o que é interessante é que o Charles III tem se posicionado de

uma forma, eu diria, um pouco mais avançada do que foi a política de Estado até então

praticada pela sua mãe.

Vamos dizer que a reunião de países em torno da Commonwealth ou de um ideal comum,

de certa forma funcionou, mas tende a esvaziar, porque há um passado cultural diplomático,

de relacionamento e até mesmo questões relacionadas à economia e finanças, porém, vamos dizer,

alguns desses países estão um tanto ansiosos em relação a reparações ou a reconhecimento

aos públicos.

O maior aumento econômico do Reino Unido é de inflação de dois dígitos e de crescimento

baixo, vai em linha com muitos países mundo afora, que estão sofrendo situação semelhante.

Além das questões econômicas como essa que eu acabei de citar, quais são os principais

desafios da monarquia nos próximos anos, tentando olhar um pouco para o futuro?

O maior desafio é se tornar relevante no século XXI.

Por causa da longevidade de Elizabeth II, inclusive do próprio período de reinado,

Elizabeth II praticamente reuniu uma característica muito interessante, que era uma parte do

antigo império, vamos dizer, trazendo o século XIX para o século XX, o próprio século

XX e as suas, vamos dizer, crises, guerras e toda essa movimentação, que foi muito

de descolonização, entre outros fatos, e agora o início do XXI.

Então vai ter que acertar o tom.

E como é que, vamos dizer, é possível acertar o tom?

Eu diria que é falar, ter uma linguagem ou ter um posicionamento mais próximo possível,

principalmente das pessoas mais jovens.

E eu diria que nesse momento, pelas próprias características demográficas do Reino Unido,

tem mais algumas coisas que, além da questão do meio ambiente, poderão fazer com que reforce

o posicionamento da monarquia, especialmente do rei, junto a essas populações.

É o trabalho junto à diversidade, e essa questão da diversidade inclui culturas, línguas,

religiões, e isso já estará demonstrado dentro do universo simbólico da coroação,

como representante das diferentes religiões.

E é interessante a gente observar que o primeiro ministro da Inglaterra é hindu,

então professam hinduísmo.

O da Escócia é muçulmano, então já temos aí algo a considerar.

Uma outra questão também é administrar a unidade do Reino Unido diante de uma, eu

diria que uma atitude precipitada, que foi o Brexit.

Numa votação apertada em 2016, os britânicos decidiram deixar a União Europeia, criada

para integrar o continente e facilitar o trânsito de mercadorias e de pessoas.

Desde que saiu formalmente da União Europeia, o Reino Unido perdeu mais de 460 mil trabalhadores

europeus.

E apenas 30% dessa força de trabalho foi compensada com gente de outros países.

Uma pesquisa mostra que cerca de 20% dos que votaram pela saída da União Europeia estão

arrependidos.

A principal resposta é que as coisas ficaram piores.

Uma atitude muito impensada.

Eu diria que hoje o Reino Unido teve muito mais a perder do que necessariamente se manter,

mas eu acredito que isso ainda passe por uma reforma, uma revisão.

Agora manter essa unidade funcionando não depende apenas, vamos dizer, da atitude do

rei, vai depender muito de para onde vai o governo britânico para administrar também

essas questões internas.

Renato, muito obrigada pela sua participação aqui no assunto.

Foi um prazer recebê-lo.

Ok, muito obrigado e um grande prazer em falar com você.

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Comigo na equipe do assunto estão Monica Mariotti, Amanda Polato, Tiago Aguiar, Luiz

Felipe Silva, Tiago Kaczorowski, Gabriel de Campos, Nayara Fernandes e Guilherme Romero.

Eu sou Ana Tuzaneri e fico por aqui.

Até o próximo assunto.

Legendas pela comunidade Amara.org


A coroação de Rei Charles III 🎧 O ASSUNTO I g1 Die Krönung von König Karl III 🎧 DAS THEMA I g1 The coronation of King Charles III 🎧 THE SUBJECT I g1 La coronación del rey Carlos III 🎧 EL TEMA I g1 チャールズ3世の戴冠式 🎧 主題 I g1 Коронація короля Карла ІІІ 🎧 ТЕМА I g1

A 70 anos, a Rainha Elizabeth II era coroada numa luxuosa cerimônia na abadia de Westminster,

em Londres.

De uma das galerias, seu primogênito Charles, então com 4 anos, observava a consagração

ao lado de religiosos e chefes de estado do mundo todo.

Neste sábado, dia 6, é a vez de Charles ser o protagonista da celebração, repleta

de rituais que remontam à Idade Média.

Os ritos incluem juramento, a unção com um óleo especial e a investidura com a coroa

de Santo Eduardo, além da entrega de um anel e joias da coroa britânica.

Símbolos de um império que se dissolveu, mas com tradições que ainda atraem muitos

olhares.

Nós estamos aqui em frente ao palácio de Buckingham, onde acontece uma parte desse

evento da coroação.

Tem muita gente acampada, são dezenas e dezenas de barracas.

As pessoas estão aqui tentando pegar um lugar privilegiado para ver de perto a família

real.

Com 74 anos, Charles é o mais velho a ascender ao trono e também foi o herdeiro que mais

tempo esperou por esse momento.

Agora me comprometo solenemente, durante todo o tempo que Deus me conceder, a defender os

princípios constitucionais do coração de nossa nação.

Vou me esforçar para servir vocês com lealdade, respeito e amor, como tenho feito ao longo

de minha vida.

Como tenho feito ao longo da minha vida.

Da redação do G1, eu sou Ana Tuzaneri e o assunto hoje é a coroação do rei Charles

III.

O que esperar da cerimônia histórica, as críticas que a família real enfrenta e os

desafios para manter vivo o interesse dos britânicos mais jovens na monarquia.

Neste episódio, eu converso com Cecília Malan, repórter da TV Globo em Londres, e

Renato de Almeida Vieira e Silva, doutor em comunicação e especialista em realeza

britânica.

Sexta-feira, 5 de maio.

Cecília eu quero começar te perguntando como é que está o clima em Londres as vésperas

da coroação do rei Charles III?

Bom, a cidade está toda enfeitada.

A gente vê o rosto de Charles estampado nas vitrines, nas lembrancinhas, nas capas de

livros, revistas e jornais.

E é claro que perto dos pontos da cerimônia, Palácio de Buckingham, Abadia de Westminster,

tem muito turista, muito admirador da realeza.

Eu gravei hoje de cedo perto do palácio, por exemplo, e conversei com turistas acampados

desde segunda-feira já ao longo do trajeto do cortejo e todos falaram da oportunidade

única que é fazer parte desse momento, a primeira coroação em 70 anos.

Essa coroação vai ser o maior evento cerimonial em 70 anos e a maior operação policial em

décadas com mais de 11.500 agentes.

Tudo coordenado de um centro subterrâneo à prova de bombas.

Esse centro foi montado perto de Abadia.

Um pouco depois da meia-noite e 20, o Palácio de Buckingham ficou todo iluminado.

Membros dos cinco regimentos de guarda a pé, vestido com as tradicionais túnicas e usando

aqueles chapéus de pele de urso, se alinharam do lado de fora.

Centenas de militares do Exército, da Marinha e da Força Aérea ensaiaram o cortejo que

vai sair daqui do Palácio de Buckingham, vai até Abadia de Westminster, onde o Rei

Charles vai ser coroado ao lado da rainha consorte Camilla.

Agora é claro que quem não é fã, quem não tem interesse na Família Real não vai

estar nesses lugares e vai inclusive aproveitar o feriado de segunda-feira para sair de Londres,

para fingir que nada está acontecendo.

E tem gente que se prepara para fazer o oposto, para estar presente, mas não para admirar,

para fazer manifestação contra a monarquia, né?

Sim, sim.

Tem um protesto previsto para sábado de manhã, que foi organizado, está sendo organizado

pelo movimento republicano, que pede o fim da monarquia, o fim de privilégios hereditários

e a eleição democrática de um chefe de Estado.

Eu entrevistei o diretor desse grupo, Graham Smith.

Ele argumenta que a realeza não traz absolutamente nenhum benefício para o Reino Unido, que

a instituição é só um peso morto, nas palavras dele.

É um discurso meio radical demais, que pode atrapalhar mais do que ajudar a causa republicana,

já que, na minha opinião, o debate em torno da monarquia tem muitas camadas, tem nuances.

É muito difícil dissociar a Família Real da identidade britânica, da história, da

cultura daqui.

E é difícil também ignorar os milhões de turistas que vêm todos os anos para cá,

muitos interessados justamente na história da realeza, nos monumentos ligados à realeza.

Eu acho que a monarquia já deu, né?

Eu acho que é bom.

Eu acho que é bom ter um chefe de Estado não político.

Tem uma simbologia de unidade nacional.

Você acha que eles não estarão por aí em 100 anos, por exemplo?

Eu deveria esperar que não.

Agora, o rei Charles III assumiu o cargo logo depois da morte da mãe dele, a rainha Elizabeth

II, em setembro do ano passado.

Olha como o tempo já passou muito rapidamente.

Por que a cerimônia de coroação é só agora, tanto tempo depois?

Bom, ele virou rei assim que a mãe faleceu.

Não pode haver um vácuo, um vazio.

A coroação demora alguns meses, primeiro para respeitar o período de luto, tanto o

nacional como o da Família Real, né?

Afinal, eles perderam uma bisavó, uma avó, uma mãe.

Lordes e membros da Câmara dos Comuns, estou profundamente grato pelos seus mensagens

de condolências da Câmara dos Lordes e da Câmara dos Comuns, que de forma tão sensível

falam sobre quanto a rainha, minha mãe, significou para todos nós.

Desde muito jovem, ela prometeu servir o seu país e o seu povo e manter os princípios

do governo constitucional que são o coração da nossa nação.

E também porque, apesar de já ter tudo organizado e tonejado no papel, leva tempo para pôr

em prática.

Estamos falando do maior evento cerimonial em sete décadas, a maior operação policial

também, são mais de 11.500 agentes que vão patrulhar as ruas no sábado, cerca de

100 chefes de Estado que vão desembarcar na capital britânica, entre eles o presidente

Lula, integrantes de outras famílias reais e, claro, centenas de milhares de espectadores.

E a cerimônia tem um apelo a mais, digamos assim, porque é algo que já não acontece

mais nas outras monarquias europeias, só aqui.

E os britânicos vão fazer o que fazem melhor do que ninguém, pompa, luxo, pontualidade,

precisão, uma coreografia ensaiada à exaustão para fazer bonito e para vender a imagem do

Reino Unido para o mundo todo.

Você mencionou que a última coroação foi há 70 anos e eu queria muito colocar as duas

em perspectiva.

O que a cerimônia marcada para esse sábado tem de diferente da cerimônia realizada 70

anos atrás?

Bom, em 1953 foi uma cerimônia longa, de quase 4 horas de duração, com 8 mil convidados,

seguida por um demorado cortejo que cortou a cidade.

Eu os agradeço de coração inteiro.

Deus os abençoe.

Charles optou por um evento mais enxuto, mais inclusivo, menos políticos e aristocratas,

representantes da sociedade civil e de grupos religiosos.

Serão cerca de 2.200 convidados.

É uma tentativa de refletir a sociedade britânica de hoje.

O toque de modernidade da coroação da mãe foi o fato da cerimônia ter sido transmitida

ao vivo, pela primeira vez, sugestão do marido dela, o príncipe Philip.

A modernidade agora vai ser na inclusão, pela primeira vez, de bispas e de algumas

canções que vão ser cantadas em galês, também pela primeira vez.

Charles foi, só lembrando rapidamente, o príncipe de Gales durante muitos anos, que

é o título dado ao herdeiro direto ao trono, agora no caso o príncipe William.

E o que dá para colocar em termos de diferença em relação à popularidade da monarquia

naquela época, naquela ocasião e agora?

Bom, são contextos muito diferentes.

Elizabeth foi coroada no período pós-guerra, uma jovem rainha, serviu como um prenúncio

de dias melhores.

O chefe de governo à época era o experiente Winston Churchill.

Agora o Reino Unido vive uma grave crise econômica, com a maior inflação dos últimos 40 anos,

que arrasa o poder de compra dos britânicos.

O primeiro-ministro é jovem, sem muito capital político.

Talvez não seja o momento mais fácil de defender uma instituição cara, cercada de

privilégios.

E isso se reflete mesmo nas pesquisas mais recentes.

Entre os mais jovens, por exemplo, há cada vez menos certeza de que a realeza é uma

coisa boa para o Reino Unido.

Agora, a reinvenção de Charles é muito impressionante.

Ele chegou a ser uma das pessoas mais impopulares do Reino Unido, logo depois da morte trágica

da ex-mulher dele, Diana.

E ele conseguiu dar uma volta por cima, uma transformação.

Ele sempre falou de assuntos que hoje estão em pauta, conservação do meio ambiente,

oportunidades para jovens.

Charles recebeu o título de príncipe em 1958, quando tinha 10 anos.

Mas a cerimônia oficial só seria realizada 11 anos depois, no país de Gales.

Ao sair da marinha, ele se engajou no ativismo.

Veja um trecho desse discurso que Charles fez em 1970.

Nesta ilha existem 55 milhões de nós usando garrafas descartáveis e embalagens plásticas

indestrutíveis.

Não é difícil imaginar as montanhas de rejeitos com as quais, de algum modo, vamos

ter que lidar.

Em 1976, Charles criou uma fundação que apoia jovens no trabalho e na educação.

Então é uma transformação curiosa de se ver e isso se reflete também nas pesquisas

de opinião.

Ele não é o royal mais popular, mas ele vem crescendo na opinião dos súbditos.

E o que mais você pode nos contar, Cecília, sobre a cerimônia?

Curiosidades que te chamam a atenção, por exemplo?

Para mim, pessoalmente, as joias da realeza, Natuza.

Joias, cetros, orbes, são relíquias que ficam normalmente expostas na Torre de Londres,

que são admiradas por turistas do mundo todo e que agora a gente vai ver em uso e não

somente expostas como peças de museu.

Os ativistas sul-africanos estão pedindo a devolução desse aí, que é o maior diamante

do mundo e que está no cetro real, que Charles III vai usar na coroação.

Esse diamante foi descoberto na África do Sul, em 1905, quando o país era uma colônia

britânica e foi dado de presente ao Reino Unido.

Vai ter também o momento em que Charles vai ser ungido com óleo sagrado, essa é a única

parte privada da cerimônia, longe dos olhos do público.

Tem as carruagens, o rei e a rainha viajam do Palácio de Buckingham até a Abadia na

carruagem do Jubileu, que é uma mais moderna, com ar-condicionado até, e depois, na segunda

parte, já depois da cerimônia, no trajeto inverso, de volta à residência oficial,

na carruagem dourada, que foi usada na coroação da mãe, 70 anos atrás, e que dizem ser muito

mais desconfortável.

Sem falar nos trajes, túnicas bordadas com fio de ouro, aquele exagero, aquele luxo,

aquela pompa toda.

Mas eu acho que o grande destaque mesmo vai ficar por conta das coroas.

Tanto a coroa que o arcebispo da Cantuária vai colocar na cabeça de Charles, que é a

coroa de Saint Edward, uma reine líquia do século XVII, como também a coroa imperial

que ele vai usar para deixar a Abadia, que a gente vê todos os anos na abertura do Parlamento,

e tem ainda a coroa que vai ser usada pela rainha Camila, todas essas cravejadas com

milhões de diamantes e pedras preciosas.

Tem uma particular curiosidade sobre ela.

Como é que é a popularidade dela, tendo em vista que Charles tinha uma relação extraconjugal

com ela, na época da Diane, enfim, como é que é a imagem dela?

Depende muito para quem você pergunta.

Sim, entre a geração, entre os mais velhos, gostam muito da Camila, acham que ela é de

fato o amor da vida de Charles, sempre esteve ao lado dele, companheira, que eles fazem

bem um ao outro.

Já os mais jovens não acham muita graça.

E o nível de popularidade dela não é dos mais altos, mas vem crescendo, está no nível

mais alto dela.

Camila e Charles se casaram em 2005, depois de idas e vindas num relacionamento iniciado

na década de 1970.

As gerações mais novas não viveram o drama do passado, não viveram o drama do divórcio

da irmã da rainha, por exemplo, os divórcios dos filhos da rainha, isso já ficou meio

longe e só através de séries mais recentes, de filmes mais recentes é que puderam ter

essa visão dos dramas familiares, dessa família dysfunctional, como dizem aqui.

Agora, mudando um pouquinho de assunto, o Guardian fez uma extensa investigação sobre

a riqueza do rei Charles III e chegou a uma fortuna de 1,8 bilhão de libras, que é o

equivalente a mais de 11 bilhões de reais.

E segundo noticiado pela imprensa, a coroação vai custar entre 57 milhões e 113 milhões

de euros, ou seja, até cerca de 620 milhões de reais.

Por que mesmo o rei sendo tão rico, quem paga por boa parte dos custos dessa coroação

é o povo britânico?

É, o governo britânico assume essa conta entendendo que isso é uma oportunidade única,

rara de vender a imagem do Reino Unido, mundo afora, com a cobertura internacional, jornalística,

jornalistas do mundo todo, programas especiais sendo transmitidos, turistas vindo para o

país, para viajar pelo país, visitando justamente residências reais, palácios, castelos, comprando,

movimentando a economia britânica.

Então, claro que são muitos gastos, mas a família real também gera dinheiro para

o governo.

Essa investigação do Guardian foi muito interessante porque ela revelou todo um aparato

de sigilo que dificulta o acesso a informações sobre a riqueza pessoal dos integrantes da

família real.

Porque os gastos da monarquia estão publicados na internet para quem quiser se dar o trabalho

de ver.

Tem lá os orçamentos, tem lá quanto é gasto com manutenção das residências reais, com

pagamento de funcionários, que como você pode imaginar é um mini exército para manter

essa engrenagem de pé.

Os gastos estão lá detalhados, mas não há informações sobre a riqueza pessoal

dos integrantes.

E é isso que gera muitas críticas, de que eles não são tratados como mero mortais

e que eles têm uma série de privilégios nesse sentido que não se aplica a todos os

outros residentes do Reino Unido.

Marília, muito obrigada, não posso terminar sem te perguntar da Meghan Markle, ela não

vai mesmo né?

Ela não vem, ela não estará em Londres, ela foi convidada, mas foi uma decisão lá

do casal, imagino, para ela ficar na Califórnia com os filhos.

É inclusive aniversário do filho mais velho deles, o príncipe Orchie, no sábado, no

mesmo dia da coroação.

Mas o príncipe Harry vem, não poderia faltar ao dia mais importante da vida do pai né?

Sim, dúvida nenhuma.

Bom, depois eu vou querer saber como é que foi fazer essa cobertura, primeira coroação

que você cobre na vida, a gente volta a se falar.

Claro, vai ser um prazer.

Obrigada pela oportunidade de conversar com vocês.

Boa cobertura, tchau tchau.

Um beijo.

Espera um pouquinho que eu já volto para falar com o Renato.

Renato, o momento do Reino Unido agora é muito diferente de quando a Elizabeth II assumiu

sete décadas atrás.

Como é que está o apoio da opinião pública em relação à monarquia na Commonwealth?

E aqui eu me refiro aos povos que são representados pelo rei Charles como chefe de Estado.

Bom, aí nós temos dois grupos, os 56 países que fazem parte da Commonwealth e tem 14 países

que hoje tem o rei como seu chefe de Estado.

É claro que toda transferência de poder você tem naturalmente um impacto, justamente

dos grupos que são contrários à monarquia ou qualquer coisa que lembre ou ainda se

admita de um passado colonial.

Vamos dizer que daquele grupo que hoje tem o rei como seu chefe de Estado, eu diria que

Jamaica e Austrália devem encabeçar algum movimento mais forte.

Os demais têm alguma sinalização como a Nova Zelândia, vizinha da Austrália, e

alguns outros países.

Agora, tem que lembrar também que alguns desses países são realmente países muito

pouco desenvolvidos e dependentes muitas das vezes até de uma ajuda de um país mais

desenvolvido como é o caso do Reino Unido.

Em relação à Commonwealth como um todo, que aí já estamos falando do grupo que reúne

esse país que tem o rei como seu chefe de Estado e mais aqueles que mantêm relações,

vamos dizer assim, mais culturais e diplomáticas com o Reino Unido, vai depender muito de como

Charles se coloque diante e principalmente o próprio governo britânico.

Tem que lembrar que Charles nesse momento é muito mais um porta-voz das ações diplomáticas

do governo britânico do que necessariamente um governante isolado.

Tem uma coisa interessante.

Eu diria que essa pegada dele em relação ao meio ambiente deu um link muito interessante

e ele é um defensor histórico disso, desse posicionamento.

Historicamente, o próprio rei Charles, ainda príncipe Charles, sempre foi um entusiasta

das questões climáticas, tem ali um dos primeiros protótipos de carros elétricos,

tem observado essas mudanças também de cenário global de muitos países que vêm buscando

um aprimoramento nessa conversa.

O presidente Lula conversou por telefone com o rei Charles III do Reino Unido na pauta

as mudanças climáticas, que é um foco de interesse do rei e também a coroação dele.

Ele convidou Lula para ir à coroação.

E essa conversa com o presidente Lula você tem também, é claro, um esforço do governo

brasileiro, claro, para tentar ali garantir um aporte também do Reino Unido para o fundo Amazônia.

Então, como esse é um tema, vamos dizer, que está na pauta do mundo como um todo

e tende a ser cada vez mais discutido, eu diria que alguns desses temas poderão também

fazer parte dos interesses que serão tratados ou discutidos, ou até reforçados, pela própria comunidade.

Renato, vale a pena a gente abordar um ponto que é recorrentemente alvo de críticas

quando se avalia o período passado de escravidão nas ex-colônias britânicas.

Como a família real e mais especificamente o rei Charles têm olhado e se posicionado

diante desse debate sobre a reparação pela colonização?

Bom, a família real tem se posicionado de uma forma extremamente diplomática até pela

posição que eles possuem diante desse tema, que é um tema de governam, mas que de certa

forma cai também nas visitas de Estado.

Recentemente, acho que há dois anos atrás, o príncipe William visitou Belize, que é

um protetorado britânico.

E nessa visita houve realmente muitas manifestações contrárias à família real, inclusive a

fazendo alusão ao passado da colonização, a questão também da escravidão e dizendo

que não aceitariam, ou talvez há um movimento de não aceitação, de que o rei continue

sendo o chefe de Estado de Belize.

E o príncipe William fez uma colocação muito interessante, que lamentava que a escravidão

não tenha existido e que espera que ela não exista na face da terra e que, caso seja

do desejo do povo de Belize em que eles deixem de ser também chefe de Estado do país, eles

podem perfeitamente adotar uma nova forma de governo e que a família real estará lá para apoiar.

Então, não entrando num revisionismo histórico, que isso tende a tomar conta, vamos dizer,

de algumas visitas e tudo, o que é interessante é que o Charles III tem se posicionado de

uma forma, eu diria, um pouco mais avançada do que foi a política de Estado até então

praticada pela sua mãe.

Vamos dizer que a reunião de países em torno da Commonwealth ou de um ideal comum,

de certa forma funcionou, mas tende a esvaziar, porque há um passado cultural diplomático,

de relacionamento e até mesmo questões relacionadas à economia e finanças, porém, vamos dizer,

alguns desses países estão um tanto ansiosos em relação a reparações ou a reconhecimento

aos públicos.

O maior aumento econômico do Reino Unido é de inflação de dois dígitos e de crescimento

baixo, vai em linha com muitos países mundo afora, que estão sofrendo situação semelhante.

Além das questões econômicas como essa que eu acabei de citar, quais são os principais

desafios da monarquia nos próximos anos, tentando olhar um pouco para o futuro?

O maior desafio é se tornar relevante no século XXI.

Por causa da longevidade de Elizabeth II, inclusive do próprio período de reinado,

Elizabeth II praticamente reuniu uma característica muito interessante, que era uma parte do

antigo império, vamos dizer, trazendo o século XIX para o século XX, o próprio século

XX e as suas, vamos dizer, crises, guerras e toda essa movimentação, que foi muito

de descolonização, entre outros fatos, e agora o início do XXI.

Então vai ter que acertar o tom.

E como é que, vamos dizer, é possível acertar o tom?

Eu diria que é falar, ter uma linguagem ou ter um posicionamento mais próximo possível,

principalmente das pessoas mais jovens.

E eu diria que nesse momento, pelas próprias características demográficas do Reino Unido,

tem mais algumas coisas que, além da questão do meio ambiente, poderão fazer com que reforce

o posicionamento da monarquia, especialmente do rei, junto a essas populações.

É o trabalho junto à diversidade, e essa questão da diversidade inclui culturas, línguas,

religiões, e isso já estará demonstrado dentro do universo simbólico da coroação,

como representante das diferentes religiões.

E é interessante a gente observar que o primeiro ministro da Inglaterra é hindu,

então professam hinduísmo.

O da Escócia é muçulmano, então já temos aí algo a considerar.

Uma outra questão também é administrar a unidade do Reino Unido diante de uma, eu

diria que uma atitude precipitada, que foi o Brexit.

Numa votação apertada em 2016, os britânicos decidiram deixar a União Europeia, criada

para integrar o continente e facilitar o trânsito de mercadorias e de pessoas.

Desde que saiu formalmente da União Europeia, o Reino Unido perdeu mais de 460 mil trabalhadores

europeus.

E apenas 30% dessa força de trabalho foi compensada com gente de outros países.

Uma pesquisa mostra que cerca de 20% dos que votaram pela saída da União Europeia estão

arrependidos.

A principal resposta é que as coisas ficaram piores.

Uma atitude muito impensada.

Eu diria que hoje o Reino Unido teve muito mais a perder do que necessariamente se manter,

mas eu acredito que isso ainda passe por uma reforma, uma revisão.

Agora manter essa unidade funcionando não depende apenas, vamos dizer, da atitude do

rei, vai depender muito de para onde vai o governo britânico para administrar também

essas questões internas.

Renato, muito obrigada pela sua participação aqui no assunto.

Foi um prazer recebê-lo.

Ok, muito obrigado e um grande prazer em falar com você.

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Até o próximo assunto.

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