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BBC News 2021 (Brasil), 9 detalhes curiosos escondidos em obras-primas

9 detalhes curiosos escondidos em obras-primas

Entrar num museu ou numa galeria e parar diante de uma obra prima representa, pra muita gente,

uma grande emoção. O tamanho, maior do que se pensava, ou mesmo menor, sempre impressiona

As cores, a técnica. E tem os detalhes. Tem gente que fica um tempão diante de uma obra,

comendo com os olhos, tentando guardar para sempre na memória justamente os detalhes

Pensando nas histórias e significados por trás dos detalhes de obras primas da Arte,

o historiador americano Kelly Grovier escreveu este livro aqui

A New Way of Seeing: The History of Art in Fifty seven Works. Ou, em tradução livre,

"Uma Nova Maneira de Ver: A História da Arte em cinquenta e sete Obras"

Meu nome é Rodrigo Pinto, da BBC News Brasil, e neste vídeo vou mostrar detalhes de oito

obras primas selecionados pelo historiador. Da célebre pintura Moça do Brinco de Pérola,

de Johanes Vermeer, ao delicado Beijo, de Gustav Klimt

De quebra, nós aqui na BBC Brasil escolhemos um detalhe de uma obra prima nacional, o Abapuru,

de Tarsila do Amaral, o mais valioso quadro pintado por um brasileiro. No caso uma brasileira

Então, vem comigo em uma viagem no tempo e nos detalhes destas obras primas

O primeiro detalhe fascinante apontado por Kelly Grovier em seu livro está na Tapeçaria de Bayeux,

feita quase mil anos atrás. A tapeçaria tem 70 metros

de comprimento e meio metro de largura. O bordado retrata os eventos que precederam

a conquista da Inglaterra pelos normandos e que culminaram na célebre batalha de Hastings

Entre os franceses, reza a lenda de que o bordado foi feito pelas damas de companhia

da Rainha Matilda. Mas estudiosos dizem que é mais provável que tenha sido feita por profissionais, mesmo

O historiador Kelly Grovier chama a atenção para a flecha que perfura o olho do Rei Harold

A cena é um dispositivo metanarrativo, ou seja, funciona como a própria agulha

com a qual a história foi bordada. Ao agarrar a flecha, o ferido Harold

confunde sua própria identidade com a do artista e do observador, cujo próprio olho

é levado adiante, cena após cena. Com um único ponto, nosso olhar, o de Harold e o

da agulha da costureira se transformam em um só

A nossa lista continua com a pintura O Nascimento de Vênus, do italiano Sandro Botticelli.

Esta obra, que está em Florença, na Itália, levou três anos para ficar pronta.

O historiador Kelly Grovier chama nossa atenção para a espiral de cachos dourados suspensa no ombro direito de Vênus.

Ele diz que a curva logarítmica é perfeita, não apenas um ornamento

incidental ou acidental do pincel. No século 17, o matemático suíço

Jacob Bernoulli batizou essa forma de curl spira mirabilis, ou "espiral maravilhosa"

Na pintura de Botticelli — uma obra que celebra a elegância atemporal — a espiral impenetrável

sussurra no ouvido direito de Vênus, revelando a ela os segredos da verdade e da beleza

Agora entraremos no estranho mundo de Hieronymus Bosch. Em se tratando do pintor,

nascido onde hoje fica a Bélgica, especialistas concordam: não é uma surpresa que exista um ovo

no topo da cabeça de um cavaleiro. O surpreendente é que este ovo,

no centro do painel central do tríptico, é a chave para o significado mais verdadeiro da

obra-prima Jardim das Delícias Terrenas. E logo, veremos ovos em toda a parte

O que isso significa?

O historiador Kelly Grovier sugere que a gente feche os painéis laterais do tríptico

Assim, veremos na parte de trás o revestimento da obra

e a esfera fantasmagórica de um mundo frágil que Bosch retratou,

um globo transparente flutuando no éter, descobrimos que ele concebeu sua pintura como uma espécie

de ovo para ser quebrado e permanecer intacto indefinidamente, cada vez que

interagimos com a complexidade da obra. Ao abrir e fechar a pintura de Bosch,

estabelecemos alternadamente um mundo novo em movimento ou voltamos no tempo para antes da

criação, antes da nossa inocência ser perdida. Bosch levou cinco anos para terminar este

trabalho, um tríptico quatro metros de comprimento por dois de largura

Jardim das Delícias Terrenas fica no Museu do Prado, em Madrid

Agora, um clássico que já foi até parar no cinema. Moça Com Brinco de Pérola

A moça que usa um brinco de pérola reluzente no famoso quadro de Vermeer se volta perpetuamente

em nossa direção ou para longe de nós? Pense bem. O adereço em torno do qual gira o mistério da

pintura é apenas um pigmento da sua imaginação. O historiador Kelly Grovier afirma que com um

movimento de pulso e duas pinceladas habilidosas de tinta branca, o artista enganou o córtex visual

primário do lobo occipital de nossos cérebros. Se você prestar bastante atenção verá que

não existe um gancho ligando o ornamento à orelha. Sua própria esfericidade é uma farsa

Um brinco suspenso na ausência de gravidade? A joia preciosa de Vermeer é uma ilusão de

óptica opulenta, que se reflete em nossa própria presença ilusória no mundo

Avançamos no tempo e chegamos a um dos maiores, se não o maior mestre britânico. Turner, of course

Joseph Mallord William Turner é tão celebrado na Inglaterra, que seu

autorretrato estampa a nota de vinte libras. Mas é de outro trabalho que falaremos agora,

a pintura a óleo 'Chuva, Vapor e Velocidade: - A Grande Estrada de Ferro do Oeste"

Não é segredo que Turner escondeu uma lebre correndo no trilho

obscuro da locomotiva que se aproxima. O próprio artista chamou atenção para

este fato a um menino que visitou a Royal Academy no dia do envernizamento da obra,

quando o quadro estava prestes a ser exposto. Mas como aquele pequeno detalhe revela a vasta

reflexão de Turner sobre a tecnologia invasiva, o trem?

Desde a antiguidade, a lebre simboliza renascimento e esperança

As pessoas que viram a pintura quando foi exibida pela primeira vez, em 1844, ainda estavam sob impacto emocional

de uma tragédia ocorrida na véspera de Natal dois anos e meio antes

Um trem descarrilou a 16 quilômetros da ponte retratada na pintura — um acidente que matou nove passageiros da

terceira classe e mutilou outros 16

Com a pequena lebre, um artista famoso por ser grandioso transformou sua pintura em homenagem e reflexão sobre a fragilidade da vida

Do mesmo ano da pintura de Turner, o trabalho que a gente vai ver agora, do pintor francês

Georges Seurat, viria a ser retocado. E se tornaria, assim, um marco de uma nova técnica

Este foi um dos estudos que Seurat fez para a pintura. Repare os toques do pincel

A grande pintura que retrata parisienses desfrutando com preguiça a hora de

almoço às margens do rio Sena seria retocada, e ficaria assim

Nesta versão, o artista começou a aperfeiçoar sua técnica de aplicação de pequenos pontos

distintos que são coerentes ao olhar do observador quando vistos à distância. O chamado pontilhismo

Seurat deve sua técnica, em parte, às ideias de um químico francês,

Michel Eugène Chevreul, que descobriu que a justaposição de cores complementares pode

gerar uma persistência de tons em nossa imaginação. E isso nos leva a conectar os

pontos e ver representações de pessoas e paisagem repletas de nuances de cor

Um detalhe importantíssimo na pintura. As chaminés ao fundo são uma menção ao químico

Trata-se de uma fábrica de velas, outra inovação, desta vez industrial, da qual Chevreul foi responsável

Arte e ciência têm muito em comum, particularmente porque para ambas duas coisas

são imprescindíveis: a criatividade e a capacidade de imaginar o futuro

Vamos adiante alguns anos para uma das mais conhecidas obras da História. O Grito, quadro de Edvard Munch, é um arquétipo

de angústia que ainda povoa o imaginário popular mais de um século depois de ter sido criado

Há muito se supõe que a figura de O Grito reflete sobretudo a expressão de pavor congelada no rosto

a uma múmia peruana que o artista encontrou na Exposição Universal de 1889 em Paris

Mas o historiador da arte Kelly Grovier nos lembra que Munch era um artista mais preocupado com o

futuro do que com o passado. E especialmente ansioso em relação ao ritmo da tecnologia

Grovier afirma que Munch deve ter ficado ainda mais impressionado com um espetáculo de tirar

o fôlego na mesma exposição. Uma enorme lâmpada incandescente repleta de 20 mil lâmpadas menores

que se elevava em um pedestal sobre o pavilhão. Ou seja, o quadro, que teve diversas versões,

seria um tributo às ideias de Thomas Edison, inventor da lâmpada incandescente

O austríaco Gustav Klimt é o autor da próxima obra-prima

No ano em que Klimt pintou O beijo, Viena efervescia com as descobertas científicas

e o uso de microscópio. Plaquetas e células sanguíneas eram objeto de intenso estudo

O próprio Klimt fora convidado, anos antes, a criar pinturas baseadas em temas médicos

O imunologista Karl Landsteiner, o primeiro cientista a distinguir os grupos sanguíneos,

estava trabalhando duro para fazer as transfusões de sangue serem bem-sucedidas

Olhe mais de perto a curiosa estampa do vestido da mulher na pintura de Klimt

De repente, você constata o que são: placas de Petri pulsando com células,

como se o artista nos tivesse oferecido uma tomografia da sua alma

O Beijo é a biópsia luminosa do amor eterno de Klimt. Romântico, hein?

Bom, como havia dito a vocês, estas oito primeiras obras foram selecionadas pelo historiador da Arte Kelly Grovier

para o livro "Uma Nova Maneira de Ver: A História da Arte em cinquenta e sete Obras"

Nos baseamos no texto de Grovier para falar das obras até agora

Mas, nós aqui na BBC Brasil, tomamos uma liberdade e selecionamos uma obra-prima brasileira, para finalizar este vídeo

Quem não conhece O Abaporu? Em 1928 a artista paulistana Tarsila do Amaral

finalizou e deu de presente de aniversário este quadro a seu marido, o poeta Oswald de Andrade

O quadro acabou se tornando um dos símbolos do movimento antropofágico,

que pretendia absorver a cultura europeia, dominante, e transformá-la em algo nacional

O que chama mais atenção na pintura é a desproporção da figura. Mas como isso ocorreu?

Em 2019, a BBC Brasil perguntou à neta da pintora, Tarsilinha do Amaral,

a razão para esta abordagem da pintora. Tarsilinha, que escreveu o livro

"Abaporu: Uma Obra de Amor", descobriu que na casa onde a artista morava com Oswald, na região central de São Paulo,

havia um grande espelho que ficava inclinado no corredor que dava para seu quarto-ateliê

O reflexo, distorcido por conta da posição inclinada do espelho, mexeu com

a imaginação da artista, conta Tarsilinha. A cabeça dela aparecia bem pequena

O pé, gigante. A boca e os olhos quase sumindo, e a mão caída ao lado do pé grande… Que figura diferente!

Este é o auto-retrato de Tarsila do Amaral. Os quadro dela atingem valores recorde

para obras brasileiras no exterior. Estima-se que o Abaporu valha entre

45 e 200 milhões de dólares

Estas obras, embora importantíssimas, são apenas uma ínfima parte do que está disponível para visitação

No exterior e no Brasil

Todos os anos, milhões de pessoas vão a museus e galerias em todo o mundo

Os visitantes buscam exposições específicas, como por exemplo a do artista chinês Ai Weiwei,

a terceira mais vista do mundo, por mais de meio milhão de pessoas, em sua passagem pelo

Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro, em 2019

Aliás, o Brasil é recordista mundial de público em exposições individuais.

Bom, se você for uma destas pessoas que gosta de visitar

museus e galerias, e quiser compartilhar com a gente

o seu detalhe favorito de uma obra-prima, fica à vontade para usar os comentários pra isso

Se tiver sugestões de vídeos sobre arte e cultura, também

Espero que vocês tenham curtido a viagem. Caso sim, sigam a gente no canal da BBC Brasil no

YouTube e demais plataformas digitais. Até a próxima!

9 detalhes curiosos escondidos em obras-primas 9 curious details hidden in masterpieces 9 curiosos detalles ocultos en obras maestras

Entrar num museu ou numa galeria e parar diante  de uma obra prima representa, pra muita gente,

uma grande emoção. O tamanho, maior do que se  pensava, ou mesmo menor, sempre impressiona

As cores, a técnica. E tem os detalhes. Tem gente que fica um tempão diante de uma obra,

comendo com os olhos, tentando guardar para  sempre na memória justamente os detalhes

Pensando nas histórias e significados por  trás dos detalhes de obras primas da Arte,

o historiador americano Kelly  Grovier escreveu este livro aqui

A New Way of Seeing: The History of Art in  Fifty seven Works. Ou, em tradução livre,

"Uma Nova Maneira de Ver: A História  da Arte em cinquenta e sete Obras"

Meu nome é Rodrigo Pinto, da BBC News Brasil,  e neste vídeo vou mostrar detalhes de oito

obras primas selecionados pelo historiador. Da célebre pintura Moça do Brinco de Pérola,

de Johanes Vermeer, ao delicado  Beijo, de Gustav Klimt

De quebra, nós aqui na BBC Brasil escolhemos um  detalhe de uma obra prima nacional, o Abapuru,

de Tarsila do Amaral, o mais valioso quadro  pintado por um brasileiro. No caso uma brasileira

Então, vem comigo em uma viagem no tempo  e nos detalhes destas obras primas

O primeiro detalhe fascinante apontado por Kelly  Grovier em seu livro está na Tapeçaria de Bayeux,

feita quase mil anos atrás. A tapeçaria tem 70 metros

de comprimento e meio metro de largura. O  bordado retrata os eventos que precederam

a conquista da Inglaterra pelos normandos e  que culminaram na célebre batalha de Hastings

Entre os franceses, reza a lenda de que o  bordado foi feito pelas damas de companhia

da Rainha Matilda. Mas estudiosos dizem que é mais  provável que tenha sido feita por profissionais, mesmo

O historiador Kelly Grovier chama a atenção  para a flecha que perfura o olho do Rei Harold

A cena é um dispositivo metanarrativo,  ou seja, funciona como a própria agulha

com a qual a história foi bordada. Ao agarrar a flecha, o ferido Harold

confunde sua própria identidade com a do  artista e do observador, cujo próprio olho

é levado adiante, cena após cena. Com um  único ponto, nosso olhar, o de Harold e o

da agulha da costureira se transformam em um só

A nossa lista continua com a pintura O Nascimento de Vênus, do italiano Sandro Botticelli.

Esta obra, que está em Florença, na Itália, levou três anos para ficar pronta.

O historiador Kelly Grovier chama nossa atenção para a espiral de cachos  dourados suspensa no ombro direito de Vênus.

Ele diz que a curva logarítmica é  perfeita, não apenas um ornamento

incidental ou acidental do pincel. No século 17, o matemático suíço

Jacob Bernoulli batizou essa forma de curl  spira mirabilis, ou "espiral maravilhosa"

Na pintura de Botticelli — uma obra que celebra  a elegância atemporal — a espiral impenetrável

sussurra no ouvido direito de Vênus, revelando  a ela os segredos da verdade e da beleza

Agora entraremos no estranho mundo de  Hieronymus Bosch. Em se tratando do pintor,

nascido onde hoje fica a Bélgica, especialistas  concordam: não é uma surpresa que exista um ovo

no topo da cabeça de um cavaleiro. O surpreendente é que este ovo,

no centro do painel central do tríptico, é a  chave para o significado mais verdadeiro da

obra-prima Jardim das Delícias Terrenas. E logo, veremos ovos em toda a parte

O que isso significa?

O historiador Kelly Grovier sugere que a gente feche  os painéis laterais do tríptico

Assim, veremos na parte de trás o revestimento da obra

e a esfera fantasmagórica de um mundo frágil  que Bosch retratou,

um globo transparente flutuando no éter, descobrimos  que ele concebeu sua pintura como uma espécie

de ovo para ser quebrado e permanecer  intacto indefinidamente, cada vez que

interagimos com a complexidade da obra. Ao abrir e fechar a pintura de Bosch,

estabelecemos alternadamente um mundo novo em  movimento ou voltamos no tempo para antes da

criação, antes da nossa inocência ser perdida. Bosch levou cinco anos para terminar este

trabalho, um tríptico quatro metros  de comprimento por dois de largura

Jardim das Delícias Terrenas fica  no Museu do Prado, em Madrid

Agora, um clássico que já foi até parar  no cinema. Moça Com Brinco de Pérola

A moça que usa um brinco de pérola reluzente no  famoso quadro de Vermeer se volta perpetuamente

em nossa direção ou para longe de nós? Pense bem. O adereço em torno do qual gira o mistério da

pintura é apenas um pigmento da sua imaginação.  O historiador Kelly Grovier afirma que com um

movimento de pulso e duas pinceladas habilidosas  de tinta branca, o artista enganou o córtex visual

primário do lobo occipital de nossos cérebros. Se você prestar bastante atenção verá que

não existe um gancho ligando o ornamento à  orelha. Sua própria esfericidade é uma farsa

Um brinco suspenso na ausência de gravidade?  A joia preciosa de Vermeer é uma ilusão de

óptica opulenta, que se reflete em nossa  própria presença ilusória no mundo

Avançamos no tempo e chegamos a um dos maiores,  se não o maior mestre britânico. Turner, of course

Joseph Mallord William Turner é tão  celebrado na Inglaterra, que seu

autorretrato estampa a nota de vinte libras. Mas é de outro trabalho que falaremos agora,

a pintura a óleo 'Chuva, Vapor e Velocidade:  - A Grande Estrada de Ferro do Oeste"

Não é segredo que Turner escondeu  uma lebre correndo no trilho

obscuro da locomotiva que se aproxima. O próprio artista chamou atenção para

este fato a um menino que visitou a Royal  Academy no dia do envernizamento da obra,

quando o quadro estava prestes a ser exposto. Mas como aquele pequeno detalhe revela a vasta

reflexão de Turner sobre a  tecnologia invasiva, o trem?

Desde a antiguidade, a lebre simboliza  renascimento e esperança

As pessoas que viram a pintura quando foi exibida pela primeira  vez, em 1844, ainda estavam sob impacto emocional

de uma tragédia ocorrida na véspera de Natal  dois anos e meio antes

Um trem descarrilou a 16 quilômetros da ponte retratada na pintura  — um acidente que matou nove passageiros da

terceira classe e mutilou outros 16

Com a pequena lebre, um artista famoso por ser grandioso transformou sua pintura em homenagem e reflexão sobre a fragilidade da vida

Do mesmo ano da pintura de Turner, o trabalho  que a gente vai ver agora, do pintor francês

Georges Seurat, viria a ser retocado. E se  tornaria, assim, um marco de uma nova técnica

Este foi um dos estudos que Seurat fez  para a pintura. Repare os toques do pincel

A grande pintura que retrata parisienses  desfrutando com preguiça a hora de

almoço às margens do rio Sena  seria retocada, e ficaria assim

Nesta versão, o artista começou a aperfeiçoar  sua técnica de aplicação de pequenos pontos

distintos que são coerentes ao olhar do observador  quando vistos à distância. O chamado pontilhismo

Seurat deve sua técnica, em parte,  às ideias de um químico francês,

Michel Eugène Chevreul, que descobriu que  a justaposição de cores complementares pode

gerar uma persistência de tons em nossa  imaginação. E isso nos leva a conectar os

pontos e ver representações de pessoas  e paisagem repletas de nuances de cor

Um detalhe importantíssimo na pintura. As chaminés  ao fundo são uma menção ao químico

Trata-se de uma fábrica de velas, outra inovação, desta vez  industrial, da qual Chevreul foi responsável

Arte e ciência têm muito em comum,  particularmente porque para ambas duas coisas

são imprescindíveis: a criatividade e a capacidade de imaginar o futuro

Vamos adiante alguns anos para uma das mais conhecidas obras da História. O Grito, quadro de Edvard Munch, é um arquétipo

de angústia que ainda povoa o imaginário popular  mais de um século depois de ter sido criado

Há muito se supõe que a figura de O Grito reflete  sobretudo a expressão de pavor congelada no rosto

a uma múmia peruana que o artista encontrou  na Exposição Universal de 1889 em Paris

Mas o historiador da arte Kelly Grovier nos lembra  que Munch era um artista mais preocupado com o

futuro do que com o passado. E especialmente  ansioso em relação ao ritmo da tecnologia

Grovier afirma que Munch deve ter ficado ainda  mais impressionado com um espetáculo de tirar

o fôlego na mesma exposição. Uma enorme lâmpada  incandescente repleta de 20 mil lâmpadas menores

que se elevava em um pedestal sobre o pavilhão. Ou seja, o quadro, que teve diversas versões,

seria um tributo às ideias de Thomas  Edison, inventor da lâmpada incandescente

O austríaco Gustav Klimt é o  autor da próxima obra-prima

No ano em que Klimt pintou O beijo, Viena  efervescia com as descobertas científicas

e o uso de microscópio. Plaquetas e células  sanguíneas eram objeto de intenso estudo

O próprio Klimt fora convidado, anos antes,  a criar pinturas baseadas em temas médicos

O imunologista Karl Landsteiner, o primeiro  cientista a distinguir os grupos sanguíneos,

estava trabalhando duro para fazer as  transfusões de sangue serem bem-sucedidas

Olhe mais de perto a curiosa estampa do  vestido da mulher na pintura de Klimt

De repente, você constata o que são:  placas de Petri pulsando com células,

como se o artista nos tivesse oferecido  uma tomografia da sua alma

O Beijo é a biópsia luminosa do amor eterno de Klimt. Romântico, hein?

Bom, como havia dito a vocês, estas oito primeiras obras foram selecionadas pelo historiador da Arte Kelly Grovier

para o livro "Uma Nova Maneira de Ver: A História da  Arte em cinquenta e sete Obras"

Nos baseamos no texto de Grovier  para falar das obras até agora

Mas, nós aqui na BBC Brasil, tomamos uma liberdade e selecionamos uma obra-prima brasileira, para finalizar este vídeo

Quem não conhece O Abaporu? Em 1928 a artista paulistana Tarsila do Amaral

finalizou e deu de presente de aniversário este  quadro a seu marido, o poeta Oswald de Andrade

O quadro acabou se tornando um dos  símbolos do movimento antropofágico,

que pretendia absorver a cultura europeia,  dominante, e transformá-la em algo nacional

O que chama mais atenção na pintura é a  desproporção da figura. Mas como isso ocorreu?

Em 2019, a BBC Brasil perguntou à neta  da pintora, Tarsilinha do Amaral,

a razão para esta abordagem da pintora. Tarsilinha, que escreveu o livro

"Abaporu: Uma Obra de Amor", descobriu que na casa onde a artista  morava com Oswald, na região central de São Paulo,

havia um grande espelho que ficava inclinado  no corredor que dava para seu quarto-ateliê

O reflexo, distorcido por conta da  posição inclinada do espelho, mexeu com

a imaginação da artista, conta Tarsilinha.  A cabeça dela aparecia bem pequena

O pé, gigante. A boca e os olhos quase sumindo, e a mão  caída ao lado do pé grande… Que figura diferente!

Este é o auto-retrato de Tarsila do Amaral. Os quadro dela atingem valores recorde

para obras brasileiras no exterior. Estima-se que o Abaporu valha entre

45 e 200 milhões de dólares

Estas obras, embora importantíssimas, são apenas uma ínfima parte do que está disponível para visitação

No exterior e no Brasil

Todos os anos, milhões de pessoas vão  a museus e galerias em todo o mundo

Os visitantes buscam exposições específicas,  como por exemplo a do artista chinês Ai Weiwei,

a terceira mais vista do mundo, por mais de meio  milhão de pessoas, em sua passagem pelo

Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro,  em 2019

Aliás, o Brasil é recordista mundial de público em exposições individuais.

Bom, se você for uma destas pessoas que gosta de visitar

museus e galerias, e quiser compartilhar com a gente

o seu detalhe favorito de uma obra-prima, fica  à vontade para usar os comentários pra isso

Se tiver sugestões de vídeos  sobre arte e cultura, também

Espero que vocês tenham curtido a viagem. Caso  sim, sigam a gente no canal da BBC Brasil no

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