×

We use cookies to help make LingQ better. By visiting the site, you agree to our cookie policy.


image

O Assunto (*Generated Transcript*), 28.06.23-O agronegócio e o desafio da sustentabilidade

28.06.23-O agronegócio e o desafio da sustentabilidade

Nós temos hoje um plano safra recorde de só na agricultura empresarial, pequenos e

médios produtores, 360,2 bilhões de reais disponíveis.

20 e 7% maior do que o plano safra do ano passado.

Vamos fortalecer o meio ambiente, os prêmios começam a acontecer.

Nós queríamos dar 2% de prêmio, 3, várias áreas, mas vamos começar com 1%, é isso

hoje?

Vamos começar e isso já vai gerar prêmio para 12 bilhões de reais nos custeios daqueles

que têm boas práticas, quer ser carno, canalizado, sem passivo, mas também boas práticas, uso

de biológico, de manter o programa sempre verde, regeneração de terras com calcário,

com rochagem.

O plano safra, maior incentivo à produção agrícola no Brasil, tem um braço para financiar

quem produz, protegendo o meio ambiente.

Mostrando que a união entre produção agrícola e proteção ambiental é um caminho sem volta.

Estamos dando um passo certo, largo e irreversível rumo à transformação do nosso plano safra

em um dos maiores problemas globais de transição para uma agropecuária de baixa emissão de

carbono e ao mesmo tempo que caminhamos a passos firmes rumo ao desmatamento zero.

E se não é um caminho para quem desmata, certamente é um caminho para quem compra

produtos brasileiros lá fora.

O parlamento francês disse que não vai votar o acordo Mercosul-União Europeia por causa

da quantidade de veneno utilizado nos produtos agrícolas brasileiros.

É importante a gente levar em conta que ser racional, cuidar da agricultura de boa

qualidade é uma necessidade competitiva do Brasil.

Da redação do G1, eu sou Ana Tuzaneri e o assunto hoje é o agronegócio sustentável.

Quais os desafios para que a produção agrícola cresça ainda mais alinhada com a preservação

do meio ambiente?

Neste episódio, eu converso com Roberto Rodrigues, professor emérito e coordenador do Centro

de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas e que foi ministro da Agricultura do primeiro

governo Lula entre 2003 e 2006.

E com Marcelo Morandi, ex-chefe da Inbrapa, um meio ambiente que pesquisou a união entre

agropecuária e o meio ambiente por mais de 20 anos.

Quarta-feira, 28 de junho.

Marcelo, o governo anunciou o novo Plano Safra, valores recordes de R$ 364 bilhões

em incentivo para produtores rurais e tem um braço específico para a produção agropecuária

de baixa emissão, ou seja, que causa menos danos ao meio ambiente.

Então eu te pergunto, quais são os benefícios de se ter uma produção sustentável?

Toda a atividade econômica traz um certo impacto para a natureza.

E a agricultura tem exatamente esse componente que você falou, a questão da segurança

alimentar.

Então é muito importante, a gente tem uma necessidade crescente do aumento de alimentos,

mas a gente tem que ter esse aumento com base em práticas sustentáveis.

É preciso ficar claro nisso, que nós não precisamos derrubar uma árvore para criar

uma cabeça de gado ou para plantar um hectare de soja.

Nós temos mais de 30 milhões de hectares de terras degradadas que podem ser recuperadas

e que a gente pode dobrar a nossa produção agrícola.

Por exemplo, de fixação biológica de nitrogênio nos permite a redução do uso do fertilizante

nitrogênio químico, especialmente nas culturas leguminosas hoje, na soja, por exemplo, é

o mais importante para a gente nesse sentido.

Então, por exemplo, quando a gente diz que nós temos hoje até 30 milhões de hectares

utilizando fixação biológica de nitrogênio, isso significa que nós temos uma redução

muito considerável das emissões de óxido nitroso, que é um dos principais gases de

efeito estudo.

Se a gente pensar também na questão dos sistemas integrados, a gente tem um efeito

muito importante que é o efeito poupa-terra, ou seja, para que a gente obtenha a mesma

produção que nós temos esse ano, por exemplo, nós estamos tendo uma produção recorde

de grãos.

O PIB brasileiro cresceu 1,9% nos três primeiros meses do ano.

A agropecuária foi a maior responsável pelo resultado melhor do que se previa, principalmente

por causa da safra de grãos.

E no começo desse ano, os resultados no campo, principalmente a boa safra da soja, fizeram

a agropecuária ter a maior alta do setor desde 1996, com crescimento de mais de 21%.

E isso deu impulso para outros setores.

Nós precisaríamos ter uma área muito maior se nós não tivéssemos tido os ganhos de

produtividade que nós tivemos ao longo desse período com o uso de tecnologia.

Então esse efeito poupa-terra é um componente também importantíssimo da sustentabilidade.

Agora, por isso é que faz sentido um braço para incentivar esse tipo de produção, é isso?

Exatamente, porque nós estamos falando que nós temos disponível o conhecimento da tecnologia

desenvolvida pela ciência para uma agricultura tropical, mas para isso virar realidade ela

tem que ser adotada.

E para ser adotada, nós precisamos de alguns elementos.

Um deles é a capacitação técnica, a transferência de tecnologia, e o outro é o financiamento

dessas atividades.

Então, o plano safra traz esse componente de incentivar a adoção por meio de um crédito

diferenciado para quem usa essas tecnologias reconhecidamente de baixa emissão de carbono.

Os valores são destinados como crédito rural para produtores enquadrados naquele programa

chamado Pronamp, que é o Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural.

O total representa um aumento de aproximadamente 27% em relação ao financiamento anterior.

Lula disse que o programa terá uma média de 10% de juros ao ano.

E de maneira simplificada, como é que se dá uma produção sustentável na prática?

A base da nossa produção é a qualidade dos nossos solos.

Então, um solo saudável é um solo que sequestra carbono, ou seja, reduz emissões

de gás de efeito estufa, e nos permite ter produtividade.

Então, todas essas práticas que nos permitem reduzir a perda da qualidade do solo, reduzir

a erosão, reduzir a perda da biodiversidade, da vida do solo, dos micro-organismos, das

minocas, dos elementos do solo, que dão vida ao solo.

A capacidade de infiltração de água com a chuva, todos esses processos nos permitem

ter um solo de qualidade.

Nós tendo um solo de qualidade, nós conseguimos ter uma produção de alimentos também mais

sustentável e que nos permite também reduzir as emissões de gás de efeito estufa.

Lembrando que o solo é um importante sumidouro de carbono.

As plantas, elas fazem fotossíntese, elas retiram o carbono do solo.

Então, quando a gente consegue ter um solo de qualidade, onde as plantas crescem bem,

produzem raízes, nós estamos acumulando também carbono nesse solo e mantendo essa

longevidade do nosso sistema de produção.

Desde 2010, antes do Acordo de Paris, portanto, que cria uma série de metas para redução

de emissão, o Plano Safra tem já esse braço para incentivar a produção agropecuária

de baixa emissão.

Então, eu te peço para falar sobre as mudanças já alcançadas por esse braço do plano e

quais são as metas para o próximo ciclo que vai até 2030.

Esse é o primeiro ciclo do Plano ABC, que começou em 2010 até 2020.

Ele começou com um conjunto de seis tecnologias principais e tinha uma meta de redução de

emissões e de adaptação às mudanças climáticas na ordem de 200 milhões de toneladas

de CO2 equivalente.

Então, isso incluía a questão do incentivo à adoção de práticas, por exemplo, como

o plantio direto, como os sistemas integrados, lavoura, pecuária, floresta, a fixação

biológica de nitrogênio, a questão do tratamento de dejetos animais e também florestas plantadas.

Essas metas foram alcançadas dentro desse prazo de 10 anos.

Nessa época, Natuza, eram metas voluntárias do Brasil.

O Brasil ainda não tinha as obrigações da INDC, ou seja, do Acordo de Paris.

Então, eram metas voluntárias e o Brasil cumpriu essas metas.

Chegar até 2020 reduzindo em 668 milhões de toneladas as emissões de dióxido de carbono

na atmosfera, só com ações de combate ao desmatamento na Amazônia e no Cerrado.

Essa foi a meta internacional assumida voluntariamente pelo Brasil em 2010.

Faltando dois anos para o fim do prazo, o Ministério do Meio Ambiente anunciou que o

objetivo já foi alcançado com sobra.

Imagens de satélite registraram uma perda de mais de 4 milhões de hectares de florestas

tropicais em 2022 no planeta.

É como se a cada minuto uma área equivalente a 11 campos de futebol fosse desmatada.

O Brasil concentra a maior parte do problema.

A alta foi de 15%.

É a maior taxa de perdas sem relação com incêndios desde 2005.

Florestas primárias são importantes para armazenar carbono, regular o ciclo das chuvas

e proteger a biodiversidade.

Chegamos ao final desse ciclo com por volta de estimado nem 17 milhões de hectares adotando

algum tipo de sistema integrado.

Nós tivemos mais de 30 milhões de hectares com o uso de fixação biológica de nitrogênio

e outros alcances que foram desse primeiro ciclo.

Esse segundo ciclo do ABC, que é o ABC+, ele veio até um pouco mais ousado em termos

de metas.

Então ele incorporou novas tecnologias como, por exemplo, os bioinsumos, um incentivo ao

uso de bioinsumos na agricultura, além das tecnologias já presentes, e trouxe também

um componente de olhar para a propriedade como um todo, um ambiente de produção mais

amplo.

E ele traz como meta de mitigação ou de redução de emissões de gás de efeito de

estufa na ordem de um gigaton, ou seja, cinco vezes mais do que era a meta da primeira fase

do ABC.

E ele está muito conectado, esse novo plano, com as ambições de adaptação do Brasil,

também dentro dos nossos compromissos internacionais.

A gente sabe que a agricultura é vulnerável às mudanças climáticas, ela tem um componente,

obviamente, de emissões, mas ela tem uma vulnerabilidade muito grande às mudanças

do clima pela própria natureza da atividade agrícola.

Marcelo, super obrigada pelas explicações, eu sei que você estava numa reunião, saiu

para falar com a gente aqui do assunto, te agradeço muito, bom trabalho para você.

Muito obrigado, Natuza, sempre à disposição.

Espera um pouquinho que eu já volto para falar com o Roberto Rodrigues.

Roberto, eu queria começar te perguntando sobre quem é o agro.

O agro é um setor profissional, mais o setor que desmata, o agronegócio é só o setor

profissional, localiza quem nos ouve nessa discussão, porque muitas vezes se junta no

mesmo balaio e acho que essa não é uma tradução fidedigna do que é o agro, então

eu queria que você, por favor, nos explicasse.

Agronegócio é a soma das cadeias produtivas cuja coluna dorsal é a atividade agropecuária,

rural.

E o que é uma cadeia produtiva?

Uma cadeia produtiva é a soma dos atos e atores que começam na prancheta de um cientista

e terminam na gôndola de um supermercado.

Exemplo, calça jeans.

Calça jeans é um exemplo de agronegócio.

Começa com um cientista desenvolvendo variedades de algodão adequadas para as diferentes regiões

do país, adequadas para o ponto de vista de clima, solo, temperatura, etc.

Esse cientista produz uma variedade adequada, uma semente adequada para cada região do

país.

Aí alguém planta com máquinas, com equipamentos, com fertilizantes, com defensivos, com calcário,

com insumo ou serviço, com crédito, segura, etc.

Planta, cultiva e colhe.

Para onde que vai aquela colheita?

Vai para uma indústria que transforma o faro de algodão em fibra.

Essa fibra vai para uma tecelagem que faz o tecido.

Esse tecido vai para uma fábrica onde tem a fabricação de roupas que faz a calça

jeans.

Essa calça jeans vai para uma loja que vende para um consumidor.

Então, isso é uma cadeia produtiva.

A cadeia produtiva do algodão se soma com a da cerveja, a do açúcar, a do peixe, a

da carne, a da soja e a soma das produtivas todas compõe o agronegócio.

Portanto, o agronegócio é formado por profissionais de cadeias produtivas cuja atividade começa

lá atrás na pesquisa e termina aqui na frente no consumo.

São, portanto, profissionais, técnicos, gestores, etc.

O que existe de desmatamento ilegal, incêndio criminoso, invasão de terra ou grilagem de

terra ou garimpo clandestino, tudo que é ilegal é feito por aventureiros ilegais e

não por agricultores.

Não significa que não existe uma significante minoria que também pratica um crime.

Há um estudo mostrando que 2% do desmatamento ilegal no Brasil é feito por agricultores.

98% é feito por gente que não é agricultora.

Então, não pode confundir o aventureiro, o desmatador, aquele que pratica crimes, com

o produtor rural brasileiro que é sério, competente e sustentável.

Ainda que o criminoso produza um estrago enorme ao meio ambiente e também a própria

imagem do agronegócio que é profissional e que você nos explicava aqui.

Aí eu quero entrar um pouco mais fundo nessa temática, porque a sustentabilidade ela aparece

como um item obrigatório em diversos acordos internacionais e é um ponto que tem dificultado,

por exemplo, negociações do acordo entre Mercosul e União Europeia e por aí vai.

Você afirma que a agricultura brasileira já é uma das mais sustentáveis do mundo.

Então, o que falta para o Brasil ampliar sua participação no mercado internacional

e o que falta para o Brasil ganhar ainda mais a confiança desse mercado internacional de

que nós aqui protegemos o meio ambiente?

O que a gente precisa fazer para ganhar mercados lá fora?

Acabar com as ilegalidades todas.

A verdade é que todo mundo sabe, nosso concorrente sabe perfeitamente quão sustentáveis nós

somos.

Só que eu quero para você compreender isso.

O número de grãos.

Do plano COBRES, desde 1990 até hoje, por 33 anos, a área de produção de grãos no

Brasil cresceu 103% e a produção cresceu 447%.

Ou seja, a produção cresceu quatro vezes e meia mais do que a área plantada.

O que é isso?

É tecnologia que garantiu sustentabilidade.

Como que eu provo isso?

Da seguinte maneira.

Hoje, o Brasil produz grãos em 77 milhões de hectares.

Na verdade, são 50 milhões de hectares.

Mas o Brasil é o único país do mundo que faz duas e até três safras de grãos na

mesma área.

Porque tem uma tecnologia que permite fazer isso e não temos um inverno rigoroso no hemisfério

norte.

Então, fazemos duas até três safras, quando é irrigado, na mesma área.

A soma dessas mesmas áreas, no mesmo ano, dá 77 milhões de hectares.

Se nós tivéssemos hoje a tecnologia que tínhamos em 1990, seriam necessárias mais

129 milhões de hectares para colher a safra desse ano.

Ou seja, nós preservamos 129 milhões de hectares desmatamento com a natureza.

Isso não é promessa, não é um sonho metalista.

É uma conquista feita pela ciência e pelos produtores lá brasileiros e algumas políticas

públicas levaram a esse tipo de processo.

Então, isso dá uma demonstração evidente de como somos sustentáveis.

O presidente comemorou hoje a redução do desmatamento no país.

A Amazônia perdeu, em 2010, uma área de 6.450 quilômetros quadrados de floresta.

Na comparação com 2009, houve uma redução de 14%.

É o menor número desde 88, quando o levantamento começou.

O que é importante é que o compromisso que nós assumimos aqui no Brasil, nós estamos

cumprindo.

E não precisamos de favor para cumprir.

Nós vamos cumprir porque é nossa obrigação cumprir.

O Brasil, no ano 2000, exportou do agronegócio 21 bilhões de dólares.

21 no ano 2000.

O ano passado, 22 anos depois, 160 bilhões de dólares.

Aumentamos oito vezes em 22 anos, quando no mundo inteiro houve uma redução de comércio

internacional.

Ora, exportar em 20 anos oito vezes mais significa que tomou o mercado de alguém.

Alguém perdeu o mercado para nós, que somos competitivos e sustentáveis.

Quem perde mercado não fica feliz e cria regras e mecanismos competitivos de retomar

o mercado.

Todo mundo sabe que o Brasil é um país sustentável, de fato, competitivo e eficiente.

Mas, então, o que se faz?

Usa-se o argumento legítimo, todo o meio legítimo, que é a defesa do meio ambiente,

para transformar esse argumento numa barreira não tarifária, misturando estação.

O presidente Lula criticou hoje na França exigências ambientais da União Europeia

para concluir o acordo com o Mercosul.

Na França, diante de líderes do mundo todo, ele chamou de ameaças essas novas imposições.

Eu estou doido para fazer um acordo com a União Europeia, mas não é possível.

A carta adicional que foi feita pela União Europeia não permite que se faça um acordo.

O concorrente sabe que somos sustentáveis, mas o construtor não sabe.

Então, ele mistura o desmatamento ilegal cometido por criminosos aventureiros com a

arquitetura sustentável, dizendo que não podemos comprar porque é feito desmatamento ilegal.

São coisas diferentes, mas são usadas. A vida é assim.

Mas, então, concordamos que o criminoso queima o filme do produtor legal,

que faz tudo dentro da cartilha como deve ser.

Claramente. Acabar com o criminoso, acabar com o crime, cumprir a lei.

Agora, qual é a contribuição que o agroprofissional pode dar para ajudar nesse propósito?

Porque uma coisa são as leis, a polícia que vai lá e prende,

o judiciário que decide por condenações e por aí vai.

Outra coisa é o que pode caber ao setor produtivo brasileiro.

Nessa Seara, o que o agro pode fazer para ajudar o Estado a lidar com queda de desmatamento,

a lidar com queda de garimpo ilegal e por aí vai?

O agro só pode fazer uma coisa, cumprir a lei, trabalhar dentro da lei, de acordo com a lei.

O resto é papel do governo, quem fiscaliza, quem controla, não é o agro, é o governo.

Ele tem que cuidar dessa parte, governo federal, governos estaduais, governo municipal.

Por outro lado, a sociedade, de maneira geral, tem que contribuir com a sua opinião.

Não pode eleger quem não trabalha contra as ilegalidades,

não pode defender quem é contra as legalidades.

Então, isso é um papel do agro, da sociedade como um todo, não é só do agro.

O agro faz a sua parte ao cumprir a lei rigorosamente

e ao ser uma atividade sustentável que o mundo inteiro sabe.

Agora, um ponto que me chamou atenção no anúncio do Plano Safra,

e eu vou aqui voltar no tempo e me lembrar da minha época de jovem repórter,

quando você era ministro da agricultura e eu tinha que cobrir o Plano Safra, o anúncio do Plano Safra.

Naquele momento era comum a titular ou o titular do meio ambiente,

o ministro do meio ambiente ou a ministra do meio ambiente participar do anúncio do Plano Safra

porque me chamou a atenção que Marina Silva estava lá dessa vez.

Não, não era comum, naquele tempo não era comum, era uma coisa, na verdade,

era um anúncio feito pelo governo, sempre o Plano Safra foi anunciado no Palácio Planalto.

E vários ministros apareciam no anúncio, o ministro da fazenda aparecia,

o planejamento aparecia, as relações internacionais apareciam,

então vários ministros apareciam, inclusive os do meio ambiente,

mas não havia um destaque para este ou aquele ministro.

No caso do Plano Safra, tenho tido a alegria de conversar regularmente com todos os ministérios aqui

representados nesse dispositivo, de forma a encontrar os mecanismos viáveis

para que essa importante política de apoio ao setor agropecuário brasileiro

possa conter os instrumentos adequados para incentivar os produtores rurais

a aderirem a uma transição para uma economia de baixo carbono, uma agricultura de baixo carbono.

O que muda claramente, Natuza, é a afirmação, a informação de que vamos fazer mais pela sustentabilidade.

Mas já naquele tempo isso era um tema buscado pela agricultura.

Nós reduzimos a exploração do Amazonas vigorosamente, no acordo do governo como um todo,

mas foi esse processo também, temos a mesma função.

O que há é que o mundo inteiro, e o Brasil entrou nessa senda claramente,

é que caminhamos de uma economia tradicional para a economia verde.

E a ponte de passagem se chama descarbonização.

E aí toda a questão do carbono, de como a coisa vai ser feita, é tratada sob a égide da tecnologia.

É com tecnologia que fazemos isso.

Então, quando a gente discute aqui se os europeus estão fazendo uma coisa hipócrita,

criando um plano, eu não acho hipócrita.

Eles estão defendendo o interesse deles, europeus, está certo.

Compete a nós, defendendo o nosso interesse.

E o nosso interesse, como?

Acabando com o que é ilegal e tocando na cadeia quem for aventureiro e bandido.

É não fazer o que diz o Timaia na sua música, não dá motivo para desculpa.

Exatamente. Se você oferece o lado, bom, eu não fiz isso, mas alguém fez, meu filho.

Então você não pode pedir o que quer que alguém faça.

Você tem que interferir junto ao governo, junto ao Legislativo, junto ao Judiciário,

para que isso acabe, que a tua imagem seja perturbada e misturada com o que é ilegal.

E você não é ilegal.

Sim, eu quero criar aqui dois cenários, tá?

Um cenário em que uma agricultura mais alinhada com o propósito de preservação ambiental

pode ter que tipo de ganhos, cenário número um.

E o cenário número dois, se nada for feito, se a partir de agora parasse tudo,

os índices de desmatamento nos atuais patamares, ou eventualmente até crescendo,

escândalos de extermínio de comunidades indígenas ou de etnias indígenas

e a imagem do Brasil muito, muito prejudicada lá fora.

Qual seria no cenário um os ganhos e quais seriam no cenário dois as perdas para o Brasil, Roberto?

No cenário um, acesso a mercados, mais mercados, mais produção, mais riqueza,

mais renda para o país como um todo.

No cenário número dois, crescimento de mercados, mais miséria, mais sofrimento, menos chance para isso crescer.

E é isso que estamos fazendo aqui hoje, estabelecendo etapas para que o produtor brasileiro

voluntariamente possa decidir-se por um modelo de produção que,

sem deixar de ser economicamente atrativo, economicamente próspero,

esteja também em sintonia com as necessidades e as demandas globais.

Porque nós queremos que a agricultura brasileira continue produzindo, continue plantando cada vez mais,

para a gente continuar exportando cada vez mais.

Veja bem, a gente fala que a agricultura está muito bem, está crescendo muito, está funcionando muito bem,

é o setor mais desenvolvido do país, e é verdade.

Mas não tem agricultura, não tem agricultura sem tratores, sem equipamentos,

sem plantadeiras, sem colhedeiras, sem defensivos, sem fertilizantes.

Então a produção disso é industrial.

Não tem agricultura sem os alimentos que transforma, que embala, que leva para o supermercado,

que faz serviços, que exporta.

Tudo isso é indústria e serviço.

Então a agricultura não é uma atividade isolada, é o agronegócio que compõe essa cadeia toda

e dá emprego também na indústria, antes da ponteira da fazenda e depois da ponteira da fazenda.

Então para que haja um mercado crescente, gerando empregos, gerando uma indústria mais produtiva,

a indústria de alimentos brasileira, hoje tem uma ideia na dúvida,

a indústria de alimentos brasileira compra hoje 57% da salva brasileira, mais da metade,

e exporta a indústria de alimentos, não é a agricultura, alimentos processados,

para mais de 190 países no mundo inteiro.

Portanto tem mercado cativo que gosta do produto que a gente faz.

Então a agricultura não é uma coisa isolada, o que importa é a cadeia produtiva,

a indústria e os serviços que estão no entorno da agricultura também ganha com o mercado.

De modo que fazer coisas erradas, ilegais, tira mercados, não do agro, do agronegócio brasileiro.

E empregos urbanos, motores de caminhão, fábricas de caminhões, de tratores,

fábricas de fertilizante defensivo, fábrica de sementes, bancos, seguradoras,

perdem mercado se o Brasil perder mercado agro,

porque criminosos mancham a grande e sustentável agricultura brasileira.

Roberto Rodrigues, muito obrigada por ter arrumado um tempinho para falar comigo,

foi um prazer grande receber você aqui no Assunto.

Natu, eu que agradeço, um beijo.

Este foi o Assunto, podcast diário disponível no G1, no Globoplay, no Youtube

ou na sua plataforma de áudio preferida.

Vale a pena seguir o podcast na Amazon ou no Spotify,

assinar no Apple Podcasts, se inscrever no Google Podcasts ou no Castbox

e favoritar na Deezer, assim você recebe uma notificação sempre que tiver um novo episódio.

Comigo na equipe do Assunto estão Mônica Mariotti, Amanda Polato,

Lorena Lara, Luiz Felipe Silva, Thiago Kazurowski, Gabriel de Campos,

Guilherme Romero e Nayara Fernandes.

Eu sou Natu Zaneri e fico por aqui. Até o próximo Assunto.

Legendas pela comunidade Amara.org

28.06.23-O agronegócio e o desafio da sustentabilidade 28.06.23-Agrarindustrie und die Herausforderung der Nachhaltigkeit 28.06.23-Agribusiness and the challenge of sustainability

Nós temos hoje um plano safra recorde de só na agricultura empresarial, pequenos e

médios produtores, 360,2 bilhões de reais disponíveis.

20 e 7% maior do que o plano safra do ano passado.

Vamos fortalecer o meio ambiente, os prêmios começam a acontecer.

Nós queríamos dar 2% de prêmio, 3, várias áreas, mas vamos começar com 1%, é isso

hoje?

Vamos começar e isso já vai gerar prêmio para 12 bilhões de reais nos custeios daqueles

que têm boas práticas, quer ser carno, canalizado, sem passivo, mas também boas práticas, uso

de biológico, de manter o programa sempre verde, regeneração de terras com calcário,

com rochagem.

O plano safra, maior incentivo à produção agrícola no Brasil, tem um braço para financiar

quem produz, protegendo o meio ambiente.

Mostrando que a união entre produção agrícola e proteção ambiental é um caminho sem volta.

Estamos dando um passo certo, largo e irreversível rumo à transformação do nosso plano safra

em um dos maiores problemas globais de transição para uma agropecuária de baixa emissão de

carbono e ao mesmo tempo que caminhamos a passos firmes rumo ao desmatamento zero.

E se não é um caminho para quem desmata, certamente é um caminho para quem compra

produtos brasileiros lá fora.

O parlamento francês disse que não vai votar o acordo Mercosul-União Europeia por causa

da quantidade de veneno utilizado nos produtos agrícolas brasileiros.

É importante a gente levar em conta que ser racional, cuidar da agricultura de boa

qualidade é uma necessidade competitiva do Brasil.

Da redação do G1, eu sou Ana Tuzaneri e o assunto hoje é o agronegócio sustentável.

Quais os desafios para que a produção agrícola cresça ainda mais alinhada com a preservação

do meio ambiente?

Neste episódio, eu converso com Roberto Rodrigues, professor emérito e coordenador do Centro

de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas e que foi ministro da Agricultura do primeiro

governo Lula entre 2003 e 2006.

E com Marcelo Morandi, ex-chefe da Inbrapa, um meio ambiente que pesquisou a união entre

agropecuária e o meio ambiente por mais de 20 anos.

Quarta-feira, 28 de junho.

Marcelo, o governo anunciou o novo Plano Safra, valores recordes de R$ 364 bilhões

em incentivo para produtores rurais e tem um braço específico para a produção agropecuária

de baixa emissão, ou seja, que causa menos danos ao meio ambiente.

Então eu te pergunto, quais são os benefícios de se ter uma produção sustentável?

Toda a atividade econômica traz um certo impacto para a natureza.

E a agricultura tem exatamente esse componente que você falou, a questão da segurança

alimentar.

Então é muito importante, a gente tem uma necessidade crescente do aumento de alimentos,

mas a gente tem que ter esse aumento com base em práticas sustentáveis.

É preciso ficar claro nisso, que nós não precisamos derrubar uma árvore para criar

uma cabeça de gado ou para plantar um hectare de soja.

Nós temos mais de 30 milhões de hectares de terras degradadas que podem ser recuperadas

e que a gente pode dobrar a nossa produção agrícola.

Por exemplo, de fixação biológica de nitrogênio nos permite a redução do uso do fertilizante

nitrogênio químico, especialmente nas culturas leguminosas hoje, na soja, por exemplo, é

o mais importante para a gente nesse sentido.

Então, por exemplo, quando a gente diz que nós temos hoje até 30 milhões de hectares

utilizando fixação biológica de nitrogênio, isso significa que nós temos uma redução

muito considerável das emissões de óxido nitroso, que é um dos principais gases de

efeito estudo.

Se a gente pensar também na questão dos sistemas integrados, a gente tem um efeito

muito importante que é o efeito poupa-terra, ou seja, para que a gente obtenha a mesma

produção que nós temos esse ano, por exemplo, nós estamos tendo uma produção recorde

de grãos.

O PIB brasileiro cresceu 1,9% nos três primeiros meses do ano.

A agropecuária foi a maior responsável pelo resultado melhor do que se previa, principalmente

por causa da safra de grãos.

E no começo desse ano, os resultados no campo, principalmente a boa safra da soja, fizeram

a agropecuária ter a maior alta do setor desde 1996, com crescimento de mais de 21%.

E isso deu impulso para outros setores.

Nós precisaríamos ter uma área muito maior se nós não tivéssemos tido os ganhos de

produtividade que nós tivemos ao longo desse período com o uso de tecnologia.

Então esse efeito poupa-terra é um componente também importantíssimo da sustentabilidade.

Agora, por isso é que faz sentido um braço para incentivar esse tipo de produção, é isso?

Exatamente, porque nós estamos falando que nós temos disponível o conhecimento da tecnologia

desenvolvida pela ciência para uma agricultura tropical, mas para isso virar realidade ela

tem que ser adotada.

E para ser adotada, nós precisamos de alguns elementos.

Um deles é a capacitação técnica, a transferência de tecnologia, e o outro é o financiamento

dessas atividades.

Então, o plano safra traz esse componente de incentivar a adoção por meio de um crédito

diferenciado para quem usa essas tecnologias reconhecidamente de baixa emissão de carbono.

Os valores são destinados como crédito rural para produtores enquadrados naquele programa

chamado Pronamp, que é o Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural.

O total representa um aumento de aproximadamente 27% em relação ao financiamento anterior.

Lula disse que o programa terá uma média de 10% de juros ao ano.

E de maneira simplificada, como é que se dá uma produção sustentável na prática?

A base da nossa produção é a qualidade dos nossos solos.

Então, um solo saudável é um solo que sequestra carbono, ou seja, reduz emissões

de gás de efeito estufa, e nos permite ter produtividade.

Então, todas essas práticas que nos permitem reduzir a perda da qualidade do solo, reduzir

a erosão, reduzir a perda da biodiversidade, da vida do solo, dos micro-organismos, das

minocas, dos elementos do solo, que dão vida ao solo.

A capacidade de infiltração de água com a chuva, todos esses processos nos permitem

ter um solo de qualidade.

Nós tendo um solo de qualidade, nós conseguimos ter uma produção de alimentos também mais

sustentável e que nos permite também reduzir as emissões de gás de efeito estufa.

Lembrando que o solo é um importante sumidouro de carbono.

As plantas, elas fazem fotossíntese, elas retiram o carbono do solo.

Então, quando a gente consegue ter um solo de qualidade, onde as plantas crescem bem,

produzem raízes, nós estamos acumulando também carbono nesse solo e mantendo essa

longevidade do nosso sistema de produção.

Desde 2010, antes do Acordo de Paris, portanto, que cria uma série de metas para redução

de emissão, o Plano Safra tem já esse braço para incentivar a produção agropecuária

de baixa emissão.

Então, eu te peço para falar sobre as mudanças já alcançadas por esse braço do plano e

quais são as metas para o próximo ciclo que vai até 2030.

Esse é o primeiro ciclo do Plano ABC, que começou em 2010 até 2020.

Ele começou com um conjunto de seis tecnologias principais e tinha uma meta de redução de

emissões e de adaptação às mudanças climáticas na ordem de 200 milhões de toneladas

de CO2 equivalente.

Então, isso incluía a questão do incentivo à adoção de práticas, por exemplo, como

o plantio direto, como os sistemas integrados, lavoura, pecuária, floresta, a fixação

biológica de nitrogênio, a questão do tratamento de dejetos animais e também florestas plantadas.

Essas metas foram alcançadas dentro desse prazo de 10 anos.

Nessa época, Natuza, eram metas voluntárias do Brasil.

O Brasil ainda não tinha as obrigações da INDC, ou seja, do Acordo de Paris.

Então, eram metas voluntárias e o Brasil cumpriu essas metas.

Chegar até 2020 reduzindo em 668 milhões de toneladas as emissões de dióxido de carbono

na atmosfera, só com ações de combate ao desmatamento na Amazônia e no Cerrado.

Essa foi a meta internacional assumida voluntariamente pelo Brasil em 2010.

Faltando dois anos para o fim do prazo, o Ministério do Meio Ambiente anunciou que o

objetivo já foi alcançado com sobra.

Imagens de satélite registraram uma perda de mais de 4 milhões de hectares de florestas

tropicais em 2022 no planeta.

É como se a cada minuto uma área equivalente a 11 campos de futebol fosse desmatada.

O Brasil concentra a maior parte do problema.

A alta foi de 15%.

É a maior taxa de perdas sem relação com incêndios desde 2005.

Florestas primárias são importantes para armazenar carbono, regular o ciclo das chuvas

e proteger a biodiversidade.

Chegamos ao final desse ciclo com por volta de estimado nem 17 milhões de hectares adotando

algum tipo de sistema integrado.

Nós tivemos mais de 30 milhões de hectares com o uso de fixação biológica de nitrogênio

e outros alcances que foram desse primeiro ciclo.

Esse segundo ciclo do ABC, que é o ABC+, ele veio até um pouco mais ousado em termos

de metas.

Então ele incorporou novas tecnologias como, por exemplo, os bioinsumos, um incentivo ao

uso de bioinsumos na agricultura, além das tecnologias já presentes, e trouxe também

um componente de olhar para a propriedade como um todo, um ambiente de produção mais

amplo.

E ele traz como meta de mitigação ou de redução de emissões de gás de efeito de

estufa na ordem de um gigaton, ou seja, cinco vezes mais do que era a meta da primeira fase

do ABC.

E ele está muito conectado, esse novo plano, com as ambições de adaptação do Brasil,

também dentro dos nossos compromissos internacionais.

A gente sabe que a agricultura é vulnerável às mudanças climáticas, ela tem um componente,

obviamente, de emissões, mas ela tem uma vulnerabilidade muito grande às mudanças

do clima pela própria natureza da atividade agrícola.

Marcelo, super obrigada pelas explicações, eu sei que você estava numa reunião, saiu

para falar com a gente aqui do assunto, te agradeço muito, bom trabalho para você.

Muito obrigado, Natuza, sempre à disposição.

Espera um pouquinho que eu já volto para falar com o Roberto Rodrigues.

Roberto, eu queria começar te perguntando sobre quem é o agro.

O agro é um setor profissional, mais o setor que desmata, o agronegócio é só o setor

profissional, localiza quem nos ouve nessa discussão, porque muitas vezes se junta no

mesmo balaio e acho que essa não é uma tradução fidedigna do que é o agro, então

eu queria que você, por favor, nos explicasse.

Agronegócio é a soma das cadeias produtivas cuja coluna dorsal é a atividade agropecuária,

rural.

E o que é uma cadeia produtiva?

Uma cadeia produtiva é a soma dos atos e atores que começam na prancheta de um cientista

e terminam na gôndola de um supermercado.

Exemplo, calça jeans.

Calça jeans é um exemplo de agronegócio.

Começa com um cientista desenvolvendo variedades de algodão adequadas para as diferentes regiões

do país, adequadas para o ponto de vista de clima, solo, temperatura, etc.

Esse cientista produz uma variedade adequada, uma semente adequada para cada região do

país.

Aí alguém planta com máquinas, com equipamentos, com fertilizantes, com defensivos, com calcário,

com insumo ou serviço, com crédito, segura, etc.

Planta, cultiva e colhe.

Para onde que vai aquela colheita?

Vai para uma indústria que transforma o faro de algodão em fibra.

Essa fibra vai para uma tecelagem que faz o tecido.

Esse tecido vai para uma fábrica onde tem a fabricação de roupas que faz a calça

jeans.

Essa calça jeans vai para uma loja que vende para um consumidor.

Então, isso é uma cadeia produtiva.

A cadeia produtiva do algodão se soma com a da cerveja, a do açúcar, a do peixe, a

da carne, a da soja e a soma das produtivas todas compõe o agronegócio.

Portanto, o agronegócio é formado por profissionais de cadeias produtivas cuja atividade começa

lá atrás na pesquisa e termina aqui na frente no consumo.

São, portanto, profissionais, técnicos, gestores, etc.

O que existe de desmatamento ilegal, incêndio criminoso, invasão de terra ou grilagem de

terra ou garimpo clandestino, tudo que é ilegal é feito por aventureiros ilegais e

não por agricultores.

Não significa que não existe uma significante minoria que também pratica um crime.

Há um estudo mostrando que 2% do desmatamento ilegal no Brasil é feito por agricultores.

98% é feito por gente que não é agricultora.

Então, não pode confundir o aventureiro, o desmatador, aquele que pratica crimes, com

o produtor rural brasileiro que é sério, competente e sustentável.

Ainda que o criminoso produza um estrago enorme ao meio ambiente e também a própria

imagem do agronegócio que é profissional e que você nos explicava aqui.

Aí eu quero entrar um pouco mais fundo nessa temática, porque a sustentabilidade ela aparece

como um item obrigatório em diversos acordos internacionais e é um ponto que tem dificultado,

por exemplo, negociações do acordo entre Mercosul e União Europeia e por aí vai.

Você afirma que a agricultura brasileira já é uma das mais sustentáveis do mundo.

Então, o que falta para o Brasil ampliar sua participação no mercado internacional

e o que falta para o Brasil ganhar ainda mais a confiança desse mercado internacional de

que nós aqui protegemos o meio ambiente?

O que a gente precisa fazer para ganhar mercados lá fora?

Acabar com as ilegalidades todas.

A verdade é que todo mundo sabe, nosso concorrente sabe perfeitamente quão sustentáveis nós

somos.

Só que eu quero para você compreender isso.

O número de grãos.

Do plano COBRES, desde 1990 até hoje, por 33 anos, a área de produção de grãos no

Brasil cresceu 103% e a produção cresceu 447%.

Ou seja, a produção cresceu quatro vezes e meia mais do que a área plantada.

O que é isso?

É tecnologia que garantiu sustentabilidade.

Como que eu provo isso?

Da seguinte maneira.

Hoje, o Brasil produz grãos em 77 milhões de hectares.

Na verdade, são 50 milhões de hectares.

Mas o Brasil é o único país do mundo que faz duas e até três safras de grãos na

mesma área.

Porque tem uma tecnologia que permite fazer isso e não temos um inverno rigoroso no hemisfério

norte.

Então, fazemos duas até três safras, quando é irrigado, na mesma área.

A soma dessas mesmas áreas, no mesmo ano, dá 77 milhões de hectares.

Se nós tivéssemos hoje a tecnologia que tínhamos em 1990, seriam necessárias mais

129 milhões de hectares para colher a safra desse ano.

Ou seja, nós preservamos 129 milhões de hectares desmatamento com a natureza.

Isso não é promessa, não é um sonho metalista.

É uma conquista feita pela ciência e pelos produtores lá brasileiros e algumas políticas

públicas levaram a esse tipo de processo.

Então, isso dá uma demonstração evidente de como somos sustentáveis.

O presidente comemorou hoje a redução do desmatamento no país.

A Amazônia perdeu, em 2010, uma área de 6.450 quilômetros quadrados de floresta.

Na comparação com 2009, houve uma redução de 14%.

É o menor número desde 88, quando o levantamento começou.

O que é importante é que o compromisso que nós assumimos aqui no Brasil, nós estamos

cumprindo.

E não precisamos de favor para cumprir.

Nós vamos cumprir porque é nossa obrigação cumprir.

O Brasil, no ano 2000, exportou do agronegócio 21 bilhões de dólares.

21 no ano 2000.

O ano passado, 22 anos depois, 160 bilhões de dólares.

Aumentamos oito vezes em 22 anos, quando no mundo inteiro houve uma redução de comércio

internacional.

Ora, exportar em 20 anos oito vezes mais significa que tomou o mercado de alguém.

Alguém perdeu o mercado para nós, que somos competitivos e sustentáveis.

Quem perde mercado não fica feliz e cria regras e mecanismos competitivos de retomar

o mercado.

Todo mundo sabe que o Brasil é um país sustentável, de fato, competitivo e eficiente.

Mas, então, o que se faz?

Usa-se o argumento legítimo, todo o meio legítimo, que é a defesa do meio ambiente,

para transformar esse argumento numa barreira não tarifária, misturando estação.

O presidente Lula criticou hoje na França exigências ambientais da União Europeia

para concluir o acordo com o Mercosul.

Na França, diante de líderes do mundo todo, ele chamou de ameaças essas novas imposições.

Eu estou doido para fazer um acordo com a União Europeia, mas não é possível.

A carta adicional que foi feita pela União Europeia não permite que se faça um acordo.

O concorrente sabe que somos sustentáveis, mas o construtor não sabe.

Então, ele mistura o desmatamento ilegal cometido por criminosos aventureiros com a

arquitetura sustentável, dizendo que não podemos comprar porque é feito desmatamento ilegal.

São coisas diferentes, mas são usadas. A vida é assim.

Mas, então, concordamos que o criminoso queima o filme do produtor legal,

que faz tudo dentro da cartilha como deve ser.

Claramente. Acabar com o criminoso, acabar com o crime, cumprir a lei.

Agora, qual é a contribuição que o agroprofissional pode dar para ajudar nesse propósito?

Porque uma coisa são as leis, a polícia que vai lá e prende,

o judiciário que decide por condenações e por aí vai.

Outra coisa é o que pode caber ao setor produtivo brasileiro.

Nessa Seara, o que o agro pode fazer para ajudar o Estado a lidar com queda de desmatamento,

a lidar com queda de garimpo ilegal e por aí vai?

O agro só pode fazer uma coisa, cumprir a lei, trabalhar dentro da lei, de acordo com a lei.

O resto é papel do governo, quem fiscaliza, quem controla, não é o agro, é o governo.

Ele tem que cuidar dessa parte, governo federal, governos estaduais, governo municipal.

Por outro lado, a sociedade, de maneira geral, tem que contribuir com a sua opinião.

Não pode eleger quem não trabalha contra as ilegalidades,

não pode defender quem é contra as legalidades.

Então, isso é um papel do agro, da sociedade como um todo, não é só do agro.

O agro faz a sua parte ao cumprir a lei rigorosamente

e ao ser uma atividade sustentável que o mundo inteiro sabe.

Agora, um ponto que me chamou atenção no anúncio do Plano Safra,

e eu vou aqui voltar no tempo e me lembrar da minha época de jovem repórter,

quando você era ministro da agricultura e eu tinha que cobrir o Plano Safra, o anúncio do Plano Safra.

Naquele momento era comum a titular ou o titular do meio ambiente,

o ministro do meio ambiente ou a ministra do meio ambiente participar do anúncio do Plano Safra

porque me chamou a atenção que Marina Silva estava lá dessa vez.

Não, não era comum, naquele tempo não era comum, era uma coisa, na verdade,

era um anúncio feito pelo governo, sempre o Plano Safra foi anunciado no Palácio Planalto.

E vários ministros apareciam no anúncio, o ministro da fazenda aparecia,

o planejamento aparecia, as relações internacionais apareciam,

então vários ministros apareciam, inclusive os do meio ambiente,

mas não havia um destaque para este ou aquele ministro.

No caso do Plano Safra, tenho tido a alegria de conversar regularmente com todos os ministérios aqui

representados nesse dispositivo, de forma a encontrar os mecanismos viáveis

para que essa importante política de apoio ao setor agropecuário brasileiro

possa conter os instrumentos adequados para incentivar os produtores rurais

a aderirem a uma transição para uma economia de baixo carbono, uma agricultura de baixo carbono.

O que muda claramente, Natuza, é a afirmação, a informação de que vamos fazer mais pela sustentabilidade.

Mas já naquele tempo isso era um tema buscado pela agricultura.

Nós reduzimos a exploração do Amazonas vigorosamente, no acordo do governo como um todo,

mas foi esse processo também, temos a mesma função.

O que há é que o mundo inteiro, e o Brasil entrou nessa senda claramente,

é que caminhamos de uma economia tradicional para a economia verde.

E a ponte de passagem se chama descarbonização.

E aí toda a questão do carbono, de como a coisa vai ser feita, é tratada sob a égide da tecnologia.

É com tecnologia que fazemos isso.

Então, quando a gente discute aqui se os europeus estão fazendo uma coisa hipócrita,

criando um plano, eu não acho hipócrita.

Eles estão defendendo o interesse deles, europeus, está certo.

Compete a nós, defendendo o nosso interesse.

E o nosso interesse, como?

Acabando com o que é ilegal e tocando na cadeia quem for aventureiro e bandido.

É não fazer o que diz o Timaia na sua música, não dá motivo para desculpa.

Exatamente. Se você oferece o lado, bom, eu não fiz isso, mas alguém fez, meu filho.

Então você não pode pedir o que quer que alguém faça.

Você tem que interferir junto ao governo, junto ao Legislativo, junto ao Judiciário,

para que isso acabe, que a tua imagem seja perturbada e misturada com o que é ilegal.

E você não é ilegal.

Sim, eu quero criar aqui dois cenários, tá?

Um cenário em que uma agricultura mais alinhada com o propósito de preservação ambiental

pode ter que tipo de ganhos, cenário número um.

E o cenário número dois, se nada for feito, se a partir de agora parasse tudo,

os índices de desmatamento nos atuais patamares, ou eventualmente até crescendo,

escândalos de extermínio de comunidades indígenas ou de etnias indígenas

e a imagem do Brasil muito, muito prejudicada lá fora.

Qual seria no cenário um os ganhos e quais seriam no cenário dois as perdas para o Brasil, Roberto?

No cenário um, acesso a mercados, mais mercados, mais produção, mais riqueza,

mais renda para o país como um todo.

No cenário número dois, crescimento de mercados, mais miséria, mais sofrimento, menos chance para isso crescer.

E é isso que estamos fazendo aqui hoje, estabelecendo etapas para que o produtor brasileiro

voluntariamente possa decidir-se por um modelo de produção que,

sem deixar de ser economicamente atrativo, economicamente próspero,

esteja também em sintonia com as necessidades e as demandas globais.

Porque nós queremos que a agricultura brasileira continue produzindo, continue plantando cada vez mais,

para a gente continuar exportando cada vez mais.

Veja bem, a gente fala que a agricultura está muito bem, está crescendo muito, está funcionando muito bem,

é o setor mais desenvolvido do país, e é verdade.

Mas não tem agricultura, não tem agricultura sem tratores, sem equipamentos,

sem plantadeiras, sem colhedeiras, sem defensivos, sem fertilizantes.

Então a produção disso é industrial.

Não tem agricultura sem os alimentos que transforma, que embala, que leva para o supermercado,

que faz serviços, que exporta.

Tudo isso é indústria e serviço.

Então a agricultura não é uma atividade isolada, é o agronegócio que compõe essa cadeia toda

e dá emprego também na indústria, antes da ponteira da fazenda e depois da ponteira da fazenda.

Então para que haja um mercado crescente, gerando empregos, gerando uma indústria mais produtiva,

a indústria de alimentos brasileira, hoje tem uma ideia na dúvida,

a indústria de alimentos brasileira compra hoje 57% da salva brasileira, mais da metade,

e exporta a indústria de alimentos, não é a agricultura, alimentos processados,

para mais de 190 países no mundo inteiro.

Portanto tem mercado cativo que gosta do produto que a gente faz.

Então a agricultura não é uma coisa isolada, o que importa é a cadeia produtiva,

a indústria e os serviços que estão no entorno da agricultura também ganha com o mercado.

De modo que fazer coisas erradas, ilegais, tira mercados, não do agro, do agronegócio brasileiro.

E empregos urbanos, motores de caminhão, fábricas de caminhões, de tratores,

fábricas de fertilizante defensivo, fábrica de sementes, bancos, seguradoras,

perdem mercado se o Brasil perder mercado agro,

porque criminosos mancham a grande e sustentável agricultura brasileira.

Roberto Rodrigues, muito obrigada por ter arrumado um tempinho para falar comigo,

foi um prazer grande receber você aqui no Assunto.

Natu, eu que agradeço, um beijo.

Este foi o Assunto, podcast diário disponível no G1, no Globoplay, no Youtube

ou na sua plataforma de áudio preferida.

Vale a pena seguir o podcast na Amazon ou no Spotify,

assinar no Apple Podcasts, se inscrever no Google Podcasts ou no Castbox

e favoritar na Deezer, assim você recebe uma notificação sempre que tiver um novo episódio.

Comigo na equipe do Assunto estão Mônica Mariotti, Amanda Polato,

Lorena Lara, Luiz Felipe Silva, Thiago Kazurowski, Gabriel de Campos,

Guilherme Romero e Nayara Fernandes.

Eu sou Natu Zaneri e fico por aqui. Até o próximo Assunto.

Legendas pela comunidade Amara.org