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O Assunto (*Generated Transcript*), 12.06.23 - O desafio da alfabetização no Brasil

12.06.23 - O desafio da alfabetização no Brasil

O MEC concluiu que apenas 4 em cada 10 crianças do segundo ano do ensino fundamental estavam

alfabetizadas no país em 2021. Antes da pandemia, em 2019, o número era melhor. 6 em cada 10

crianças estavam alfabetizadas. 40% dos estudantes estão com dificuldades no processo de alfabetização.

É o que mostra um estudo feito com pais de alunos, encomendado pelo Itaú Social,

Fundação Lema e Bide, que avaliou o primeiro ano de aula da retomada presencial. Um desafio

potencializado pela pandemia, somado a uma desigualdade persistente. O percentual de

estudantes que estão conseguindo avançar na alfabetização, conforme o esperado,

é de 53% nas famílias que vivem com até um salário mínimo. Já nas famílias que vivem

com mais de 5 salários mínimos, esse percentual é maior, chega a quase 80%. Colocando crianças

brasileiras na largada da vida escolar em posição de desvantagem, como mostrou uma

recente avaliação internacional sobre habilidades de leitura. Entre os 65 países avaliados nesse

teste, o Brasil está lá na posição 58, abaixo da linha média da pontuação de 500 entre todos

os países. Ou seja, um resultado muito ruim. O Brasil tem mostrado que os alunos, no final do

quarto ano, não conseguem compreender informações simples e retirar essas informações de textos. E

fazendo soar um alerta. As escolas e redes estão vivenciando muitas lacunas de aprendizagem,

a recomposição é fundamental para que as crianças e adolescentes não sejam ainda mais excluídos e

não desistam da escola, na medida que não conseguem acompanhar os conteúdos, o que está sendo ensinado.

Da redação do G1, eu sou Natuzaneri e o assunto hoje é o desafio de alfabetizar as crianças brasileiras.

Quais são os principais problemas enfrentados pelas escolas públicas e o que pode ser feito para mudar

o cenário ainda nesta geração? Neste episódio, eu converso com a pedagoga Isabel Frade, presidente

emérita da Associação Brasileira de Alfabetização e pesquisadora do Centro de Alfabetização, Leitura

e Escrita da UFMG. E Gabriel Correia, economista e diretor de políticas públicas no Todos pela Educação.

Segunda-feira, 12 de junho.

Isabel, eu quero conversar contigo começando, te pedindo para nos dar um contexto aprofundado

para as pessoas que nos ouvem, no seguinte sentido, o que uma criança deve saber para ser considerada

alfabetizada? Se você, por exemplo, puder nos explicar por que não se trata apenas de decifrar palavras,

vai nos ajudar um montão a ilustrar o que a gente está querendo abordar nesse episódio de hoje.

Eu vou ter que voltar um pouquinho no tempo para dizer o que era alfabetizado em outras épocas.

Era considerado alfabetizado quem assinava o próprio nome. E depois a escola passou a considerar

alfabetizado aquela criança que decifra o sistema alfabético de escrita, transformando uma palavra

em sons e transformando sons em palavras. É uma habilidade muito básica e estável na definição

da alfabetização, que é o domínio do sistema alfabético e parte do sistema ortográfico da escrita do português.

Mas, enquanto a gente tem essa estabilidade dessa definição, nós temos uma mudança muito grande

nos usos da escrita na sociedade. Então, tempo atrás, não era previsto que as crianças também

soubessem ler e produzir determinados tipos de texto de uso social. E hoje há essa expectativa

de que, além de decifrar o sistema de escrita e além de dominar alguns instrumentos de escrita,

dominar o uso do lápis, da borracha, do caderno, que elas também sejam leitoras e produtoras de texto.

E aí a gente entra no conceito de letramento, que coloca mais uma camada nessa definição de alfabetização.

Então, não se espera que a criança apenas domine essas habilidades básicas, mas que ela faça uso disso em situações sociais.

O MEC criou um padrão, um consenso do que a criança precisa saber para ser considerada alfabetizada.

Ela precisa, por exemplo, saber ler e escrever frases e pequenos textos, como bilhetes, tirinhas e histórias em quadrinhos.

E também localizar informações em um texto.

Eu acho que há nuances, porque tem o processo de cada criança, tem a trajetória de cada uma,

tem as oportunidades que cada uma teve ou não teve, mas em linhas gerais é preciso, de alguma forma,

definir para estabelecer metas a serem alcançadas nos sistemas de ensino.

Nós estamos falando de alfabetização, de alfabetismo funcional e de letramento ao mesmo tempo.

Agora, Isabel, eu queria dar trechos de uma pesquisa recente do MEC.

56% dos estudantes do segundo ano do ensino fundamental, ou seja, alunos com idades entre 7 e 8 anos,

não estavam alfabetizados em 2021. E a gente está falando de um período crítico que foi justamente o da pandemia.

E o Brasil foi o país que fechou as escolas por mais tempo no mundo todo.

Mas mesmo antes disso, o desafio já existia. Isso não é, como você bem indicou,

não é uma novidade para nós, infelizmente.

Então eu queria te perguntar o seguinte, quais são os principais problemas que as escolas públicas enfrentam

e como é que dá para formar professores que estejam em grandes condições de atacar esse problema da alfabetização?

O que dá para fazer nesse momento?

Bem, a alfabetização é uma conquista cultural e social, não é apenas de ordem individual.

Então não é uma questão de meritocracia.

Uma criança, pelos poderes cognitivos, por uma maior capacidade, consegue aprender melhor.

A gente tem que olhar a alfabetização no contexto das oportunidades educacionais.

E esses índices que são divulgados, eles são muito, eu acho que são pouco interpretados em relação às variáveis

que estão sendo postas em questão nesse resultado.

Porque esse índice de 56,4% foi um índice aferido após a pandemia.

E o nosso país realmente não teve uma política que atacasse a questão da alfabetização no período pandêmico.

Houve um descaso do governo, o governo continuou com sua política chamada Política Nacional de Alfabetização,

que é um caso à parte, que precisa ser discutido, porque foi na contramão de todo o desenvolvimento da alfabetização brasileira,

ao mesmo tempo em que não se fez nada em relação à alfabetização propriamente dita.

Na faixa etária de 5 a 9 anos, a parcela de alunos fora da escola, que era de menos de 2% nas redes pública e privada do país,

cresceu bastante no fim do primeiro ano da pandemia.

Chegou a 5,51%.

Despencamos praticamente ao mesmo nível de 2006.

No ano passado, a parcela de alunos nessa faixa etária fora da escola diminuiu um pouco, para 4,25%.

Mas ainda é mais do que o dobro da taxa de 2019, antes da pandemia.

Isso é algo que precisa reverter, isso gera evasão, isso gera reprovação, isso gera abandono da escola.

E nós temos o Brasil hoje perto de milhões de crianças e jovens ao longo do ensino básico.

Estamos fechando a torneira disso.

Nós queremos garantir que não perdem nenhuma criança ou nenhum jovem da educação básica brasileira.

A alfabetização em um sentido mais amplo exige conhecimentos e saberes profissionais.

Exige um tete-a-tete também dos professores com as crianças,

para interpretar o que essas crianças precisam em determinado momento ali na sala de aula.

E a pandemia acabou com a noção de grupo, acabou com a história que podia ser relembrada,

que gera um pertencimento de grupo para aquelas crianças.

Porque embora a gente tenha as habilidades e os conhecimentos que a gente trabalha na alfabetização,

tudo isso é trabalhado em função dos temas e contextos daquela sala de aula.

Isso tudo ficou perdido.

O percentual de crianças que não foram alfabetizadas durante a pandemia é o maior dos últimos 10 anos.

Na pandemia aumentou em 66,3% o número de crianças de 6 e 7 anos que não sabem ler e escrever.

E o impacto maior está entre as crianças mais pobres.

E para psicólogos, pedagogos e neurocientistas, é nessa fase, na infância,

que a gente começa a aprender a socializar, a lidar com as emoções, a compreender o mundo.

É por isso que até as crianças pequenininhas perdem com a necessidade de isolamento.

A gente tinha muita falta de estudar.

Quando a gente estuda, a gente pode ficar inteligente.

Então nós tivemos dois anos desastrosos para a alfabetização brasileira.

E tanto esses dados do MEC, que foram publicados logo pós pandemia,

como os resultados de provas como o PERUS e outras,

tem que ser contextualizado em relação a esse momento.

Essa é uma questão.

A segunda é que a alfabetização na idade certa também varia com relação ao que se espera de uma alfabetização.

Na década de 70, as crianças eram reprovadas no primeiro ano na faixa de 50%,

porque não aprendiam a decifrar, a ler e escrever palavras naquele ano.

Eu fui um caso desse.

Eu sou uma criança da década de 70 que reprovou no primeiro ano.

Pois é.

Então, contra essa opressão do sistema de ensino seriado,

houve uma série de políticas de tentativa de dilatar um pouco mais esse prazo,

porque às vezes a criança era reprovada no final de um ano

e no fevereiro do outro ano ela tinha aquela reação positiva,

mas o dano já estava feito e ela tinha que repetir tudo.

Em 2019, 1 milhão e 400 mil crianças tinham problemas com alfabetização.

Em 2021, 2,4 milhões.

Portanto, aí um incremento para 40,8%.

Eu penso que alguns caminhos a gente pode seguir,

como a relação da alfabetização com a vida do aluno,

questões relacionadas ao que o aluno vive, o contexto, como a gente diz.

Outra coisa é fazer um passagem de alfabetização

que não se restringe exatamente ao que se chama idade certa,

porque não tem uma idade certa.

A gente tem crianças com alfabetização com 5, com 6, com 8.

Então, a ideia de trabalhar com ciclos,

a ideia de trabalhar num ciclo de 3 anos que vigorou em várias políticas,

que acabaram determinando coleções de livro didático,

determinando políticas de formação,

acabaram expandindo esse processo até os 8 anos

para poder fazer mais exigências em relação a essa alfabetização expandida

que eu falei antes.

A gente universalizou a escola na década de 90,

mas a universalização nem sempre levou a essa promoção da alfabetização,

porque precisa de ter mais elementos aí,

condições de trabalho, formação de professores,

materiais, metodologias, no plural.

E se você não tem uma frequência escola anterior,

você pega uma criança de 6 anos que está começando,

em tese, pegaria criança de 6 anos no começo de um processo de escolarização.

Então, daí a ideia de um ciclo mais amplo, com exigências maiores,

que ficou no Plano Nacional de Educação, está previsto 3 anos,

e na política partido Temer foram estabelecidos 2 anos.

Tanto que a base nacional comum curricular foi alterada

para incorporar essa ideia de 2 anos.

E tem também o peso da desigualdade, né?

É lógico que a alfabetização não é só uma questão pedagógica,

não é só uma questão de gestão do sistema de ensino,

a alfabetização, o mapa do analfabetismo é o mapa da desigualdade social brasileira.

Basta olhar o primeiro censo no Brasil,

onde é que tinha índice de alfabetizado no final do século XIX,

e olhar hoje.

Quais são os grupos, quais são as regiões,

quais são os estados que têm maior ou menor índice de alfabetização,

quais são os analfabetos, são pretos e pardos.

Entre as crianças mais pobres, o percentual das que não sabiam ler e escrever

aumentou de 33% para 51% entre 2019 e 2021.

E entre as mais ricas, o aumento foi de 11% para 16%.

A classificação de crianças como brancas, ainda segundo a pesquisa do IBGE,

35,1% das crianças entre 6 e 7 anos não sabiam ler e escrever.

Pela classificação do IBGE como crianças pardas,

definição da pesquisa, 44,5%.

Também na classificação do IBGE, crianças classificadas como pretas,

47,4% das crianças.

Para ver que tem questões mais amplas envolvendo outras políticas públicas,

políticas que realmente incluam a população,

não apenas na expectativa de ser alfabetizado,

mas na expectativa de continuidade da escolarização.

Mas a desigualdade tem que ser colocada em primeiro plano,

porque senão a gente faz uma análise muito ingênua,

como se bastasse uma metodologia inovadora,

como se bastasse uma gestão ou uma premiação de escolas

que tenha o melhor resultado para entender.

Ontem saiu uma nova pesquisa do PNAD,

mostrando que o maior índice de analfabetismo do país ainda é o do Nordeste,

mas que o Nordeste conseguiu reduzir mais do que os outros estados

o índice de analfabetismo no período.

Então, a gente tem situações muito estáveis no Sudeste,

mas o Sudeste também tem um índice de analfabetismo

que fica cada vez mais difícil de romper,

porque a gente está lidando com gerações de jovens e adultos

que não tiveram direito à escolarização,

e temos esforços grandes em regiões que estão conseguindo

aumentar o índice de analfabetização,

mas assim, no meio de muita desigualdade ainda.

Isabel, eu te agradeço demais por ter vindo falar com a gente

de um tema tão importante.

Muito obrigada, bom trabalho, viu, para todos.

Espera um pouquinho que eu já volto para falar com o Gabriel Corrêa.

Gabriel, eu falava agora com a Isabel sobre o tamanho do desafio

que é alfabetizar as crianças aqui no Brasil.

E pensando do ponto de vista da política pública,

o que comprovadamente funciona para ampliar,

e ao mesmo tempo, melhorar a alfabetização?

Sempre que a gente pensa em política pública para melhorar

a aprendizagem dos estudantes, e nesse caso,

a alfabetização das crianças,

a gente tem que olhar para a sala de aula,

para a sala de aula em que as milhares de professoras e professores do Brasil

trabalham cotidianamente para apoiar esse trabalho que está sendo feito lá.

Por que eu digo isso?

Porque se uma política pública não passar por toda essa cadeia

de implementação para apoiar o trabalho dessas professoras e professores,

ela vai ter sido inócua, não vai ter efeito.

Então, a partir disso que a gente pergunta,

mas o que as evidências científicas,

o que as experiências nacionais e internacionais apontam que dá certo?

A gente não tem uma bala de prata para resolver a alfabetização no Brasil,

mas temos um conjunto de ações que são fundamentais

e que todas as redes de ensino, secretarias de educação,

que conseguiram avançar, fizeram.

Destacar rapidamente aqui, em primeiro lugar,

o apoio e a formação de professores e professoras.

Como qualquer profissão, os professores e professoras precisam se desenvolver,

ter o desenvolvimento profissional ao longo do tempo

e com muito apoio com condição de trabalho.

E que tipo de apoio é esse?

Bons materiais didáticos, livros de leitura para criança,

matérias que possam apoiar esse trabalho das professoras,

avaliações são muito importantes, não no sentido punitivo,

mas para ajudar professoras a identificar quais crianças

que ainda não aprenderam, que deveriam ter aprendido

e que precisam de algum reforço.

Uma boa gestão da escola para incentivar o trabalho colaborativo,

coletivo dos professores e dos profissionais de educação

que trabalham na escola.

Então esse conjunto de ações é fundamental.

Agora, os municípios são os entes da federação responsáveis

pela grande maioria das escolas dos anos iniciais do ensino fundamental.

Então a reflexão que fica é, para além dos municípios,

o que será que os estados e o governo federal podem fazer?

Porque eles têm sim um papel muito relevante de apoiar

e dar mais incentivo para os municípios avançarem.

Você deu uma deixa importante,

que é o estabelecimento de uma colaboração com municípios.

E o governo anuncia nesta segunda-feira,

justamente para estabelecer um pacto com estados e municípios

para ver no que dá para avançar, no que dá para melhorar.

O que precisa fazer?

Onde é que estão os gargalos?

Onde é que estão as boas práticas?

Como é que você resolve o problema?

O gargalo é investimento ou há outros que não são tão óbvios

para quem não é especialista como você no assunto?

A ampliação de investimentos em educação é sempre muito importante.

Mas a boa notícia é que o novo Fundeb,

que é um sistema de financiamento da educação básica,

ele vem ampliando os recursos disponíveis para as redes municipais,

que são as redes diretamente responsáveis pelos primeiros anos

do ensino fundamental, que é onde acontece a alfabetização.

Em relação ao Fundeb, eu quero entender a saída do Fundeb.

Por que colocar o Fundeb no arcabouço?

Eu não entendi até agora por que essa mudança.

Segundo o relator, não há prejuízo, é o fundo.

Segundo alguns outros, há um prejuízo.

Quando a gente fala dessa colaboração entre o governo estadual e os municípios

com o apoio do governo federal,

a gente deve falar especialmente em duas grandes avenidas.

E essas duas grandes avenidas são muito inspiradas no caso do Ceará,

que é um caso que já deu certo,

em que o governo estadual de fato apoiou os seus municípios.

E o ministro vem do Estado, né?

E o ministro da Educação vem do Estado,

a secretária executiva do Ministério da Educação vem do Estado.

Então eles lançam esse compromisso muito inspirado na política cearense.

Nas dez melhores escolas do Brasil nos anos iniciais, todas são cearenses.

O Estado também se destaca na avaliação dos anos finais do ensino fundamental,

do sexto ao nono ano.

Das dez melhores escolas, oito são daqui.

Que é uma política que vários outros estados também já têm se embasado,

se inspirado no lançamento de suas ações.

Essa política, ela por um lado tem um apoio muito forte dos governos estaduais,

ou seja, das secretarias estaduais de educação, para as prefeituras.

Oferecendo material, oferecendo formação para gestores e para professores,

oferecendo avaliações para os estudantes.

Então tem um apoio muito forte que é dado.

Mas tem uma outra avenida que anda junto e é fundamental,

que é do incentivo.

Do incentivo à priorização política.

A gente sabe que nem sempre a alfabetização tem um compromisso político no Brasil.

Como se dá esse incentivo?

Os recursos do ICMS, que é um imposto importantíssimo arrecadado pelos estados,

mas que parcela dele, precisa ser repassado para as prefeituras.

Esse repasse no Ceará,

grande parte dele é calculado pelos avanços na alfabetização.

Então as prefeituras que mais avançam os seus indicadores, mais recebem recurso.

Isso gera um incentivo muito forte para que a alfabetização

realmente vire uma pauta prioritária.

O ministro da Educação, Camilo Santana, disse que o governo vai lançar um pacto nacional

para melhorar os índices de alfabetização.

Então tem que ser um esforço que tem que ser coletivo,

que tem que haver uma união de esforços de todas as esferas desse país,

da sociedade civil organizada, das entidades de classe, enfim, da sociedade como um todo.

Vários outros estados estão começando a avançar nesse caminho

e um impulso do governo federal nesse sentido seria extremamente importante para o Brasil.

E, Gabriel, como é que se salva uma geração inteira de crianças?

Eu explico a minha pergunta.

Quando a criança não é alfabetizada nos primeiros anos do ensino fundamental,

ela chega depois desse período com lacunas em diferentes matérias, em diferentes disciplinas.

Então eu te pergunto o que dá para fazer em caráter emergencial até,

para que não se perca uma geração?

Isso é muito importante.

A gente precisa, no Brasil, chamar mais atenção para essa tragédia silenciosa,

que é o fato de a gente não conseguir alfabetizar todas as nossas crianças.

Porque isso tem um impacto imenso na trajetória escolar delas nos anos subsequentes,

mas também na própria vida desses estudantes,

que vão tender à evasão escolar, ao subemprego

e a várias outras dimensões de suas vidas que ficam extremamente prejudicadas.

É muito importante um esforço emergencial na alfabetização dos estudantes,

especialmente nesses anos agora que a gente acabou de sair de uma pandemia extremamente crítica.

Então o Ministério da Educação, com os estados, com os municípios,

precisam identificar quais são realmente as crianças que não foram alfabetizadas,

que não são só as crianças no segundo ano,

mas também tem crianças no terceiro, no quarto, no quinto, no sexto ano do ensino fundamental

que não foram alfabetizadas, e ter políticas específicas para elas.

Com mais tempo na escola, com professor dedicado para poucos alunos,

com material didático específico para essa alfabetização, muitas vezes tardia.

Uma avaliação feita com 250 mil crianças de 7 anos mostrou que 73% delas não leem

ou leem no máximo 9 palavras por minuto.

Apenas 7% são leitoras fluentes nessa idade.

O impacto que isso tem para a trajetória escolar dos alunos é muito grande.

Se o aluno não se alfabetiza na idade certa, é muito difícil você imaginar

que ele consegue acompanhar e consegue aprender os diferentes componentes curriculares

ao longo do resto da vida escolar que ele vai ter.

Dá para fazer, Natuza. Essas crianças não estão condenadas a serem alfabetas para sempre,

mas precisa de muito comprometimento para que isso de fato aconteça.

Gabriel, super obrigada pela participação.

Foi um prazer participar com vocês e obrigado por trazerem um tema tão relevante para o país.

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Comigo na equipe do Assunto estão Mônica Mariotti, Amanda Polato, Thiago Aguiar, Luiz

Filipe Silva, Tiago Kaczorowski, Gabriel de Campos, Nayara Fernandes e Guilherme Romero.

Eu sou Natuzaneri e fico por aqui.

Até o próximo Assunto.

Legenda Adriana Zanotto


12.06.23 - O desafio da alfabetização no Brasil 12.06.23 - Die Herausforderung der Alphabetisierung in Brasilien 06.12.23 - The Literacy Challenge in Brazil 12.06.23 - El reto de la alfabetización en Brasil 12.06.23 - La sfida dell'alfabetizzazione in Brasile 12.06.23 - Brezilya'da okuryazarlık sorunu 23 年 12 月 6 日-巴西的扫盲挑战

O MEC concluiu que apenas 4 em cada 10 crianças do segundo ano do ensino fundamental estavam

alfabetizadas no país em 2021. Antes da pandemia, em 2019, o número era melhor. 6 em cada 10 literate in the country in 2021. Before the pandemic, in 2019, the number was better. 6 out of 10

crianças estavam alfabetizadas. 40% dos estudantes estão com dificuldades no processo de alfabetização. children were literate. 40% of the students are having difficulties in the literacy process.

É o que mostra um estudo feito com pais de alunos, encomendado pelo Itaú Social,

Fundação Lema e Bide, que avaliou o primeiro ano de aula da retomada presencial. Um desafio

potencializado pela pandemia, somado a uma desigualdade persistente. O percentual de

estudantes que estão conseguindo avançar na alfabetização, conforme o esperado,

é de 53% nas famílias que vivem com até um salário mínimo. Já nas famílias que vivem

com mais de 5 salários mínimos, esse percentual é maior, chega a quase 80%. Colocando crianças

brasileiras na largada da vida escolar em posição de desvantagem, como mostrou uma

recente avaliação internacional sobre habilidades de leitura. Entre os 65 países avaliados nesse

teste, o Brasil está lá na posição 58, abaixo da linha média da pontuação de 500 entre todos

os países. Ou seja, um resultado muito ruim. O Brasil tem mostrado que os alunos, no final do

quarto ano, não conseguem compreender informações simples e retirar essas informações de textos. E

fazendo soar um alerta. As escolas e redes estão vivenciando muitas lacunas de aprendizagem,

a recomposição é fundamental para que as crianças e adolescentes não sejam ainda mais excluídos e

não desistam da escola, na medida que não conseguem acompanhar os conteúdos, o que está sendo ensinado.

Da redação do G1, eu sou Natuzaneri e o assunto hoje é o desafio de alfabetizar as crianças brasileiras.

Quais são os principais problemas enfrentados pelas escolas públicas e o que pode ser feito para mudar

o cenário ainda nesta geração? Neste episódio, eu converso com a pedagoga Isabel Frade, presidente

emérita da Associação Brasileira de Alfabetização e pesquisadora do Centro de Alfabetização, Leitura

e Escrita da UFMG. E Gabriel Correia, economista e diretor de políticas públicas no Todos pela Educação.

Segunda-feira, 12 de junho.

Isabel, eu quero conversar contigo começando, te pedindo para nos dar um contexto aprofundado Isabel, quiero hablar contigo primero, para pedirte que nos contextualices en profundidad

para as pessoas que nos ouvem, no seguinte sentido, o que uma criança deve saber para ser considerada

alfabetizada? Se você, por exemplo, puder nos explicar por que não se trata apenas de decifrar palavras,

vai nos ajudar um montão a ilustrar o que a gente está querendo abordar nesse episódio de hoje.

Eu vou ter que voltar um pouquinho no tempo para dizer o que era alfabetizado em outras épocas.

Era considerado alfabetizado quem assinava o próprio nome. E depois a escola passou a considerar

alfabetizado aquela criança que decifra o sistema alfabético de escrita, transformando uma palavra

em sons e transformando sons em palavras. É uma habilidade muito básica e estável na definição

da alfabetização, que é o domínio do sistema alfabético e parte do sistema ortográfico da escrita do português.

Mas, enquanto a gente tem essa estabilidade dessa definição, nós temos uma mudança muito grande

nos usos da escrita na sociedade. Então, tempo atrás, não era previsto que as crianças também

soubessem ler e produzir determinados tipos de texto de uso social. E hoje há essa expectativa

de que, além de decifrar o sistema de escrita e além de dominar alguns instrumentos de escrita,

dominar o uso do lápis, da borracha, do caderno, que elas também sejam leitoras e produtoras de texto.

E aí a gente entra no conceito de letramento, que coloca mais uma camada nessa definição de alfabetização.

Então, não se espera que a criança apenas domine essas habilidades básicas, mas que ela faça uso disso em situações sociais.

O MEC criou um padrão, um consenso do que a criança precisa saber para ser considerada alfabetizada.

Ela precisa, por exemplo, saber ler e escrever frases e pequenos textos, como bilhetes, tirinhas e histórias em quadrinhos.

E também localizar informações em um texto.

Eu acho que há nuances, porque tem o processo de cada criança, tem a trajetória de cada uma,

tem as oportunidades que cada uma teve ou não teve, mas em linhas gerais é preciso, de alguma forma,

definir para estabelecer metas a serem alcançadas nos sistemas de ensino.

Nós estamos falando de alfabetização, de alfabetismo funcional e de letramento ao mesmo tempo.

Agora, Isabel, eu queria dar trechos de uma pesquisa recente do MEC.

56% dos estudantes do segundo ano do ensino fundamental, ou seja, alunos com idades entre 7 e 8 anos,

não estavam alfabetizados em 2021. E a gente está falando de um período crítico que foi justamente o da pandemia.

E o Brasil foi o país que fechou as escolas por mais tempo no mundo todo.

Mas mesmo antes disso, o desafio já existia. Isso não é, como você bem indicou,

não é uma novidade para nós, infelizmente.

Então eu queria te perguntar o seguinte, quais são os principais problemas que as escolas públicas enfrentam

e como é que dá para formar professores que estejam em grandes condições de atacar esse problema da alfabetização?

O que dá para fazer nesse momento?

Bem, a alfabetização é uma conquista cultural e social, não é apenas de ordem individual.

Então não é uma questão de meritocracia.

Uma criança, pelos poderes cognitivos, por uma maior capacidade, consegue aprender melhor.

A gente tem que olhar a alfabetização no contexto das oportunidades educacionais.

E esses índices que são divulgados, eles são muito, eu acho que são pouco interpretados em relação às variáveis

que estão sendo postas em questão nesse resultado.

Porque esse índice de 56,4% foi um índice aferido após a pandemia.

E o nosso país realmente não teve uma política que atacasse a questão da alfabetização no período pandêmico.

Houve um descaso do governo, o governo continuou com sua política chamada Política Nacional de Alfabetização,

que é um caso à parte, que precisa ser discutido, porque foi na contramão de todo o desenvolvimento da alfabetização brasileira,

ao mesmo tempo em que não se fez nada em relação à alfabetização propriamente dita.

Na faixa etária de 5 a 9 anos, a parcela de alunos fora da escola, que era de menos de 2% nas redes pública e privada do país,

cresceu bastante no fim do primeiro ano da pandemia.

Chegou a 5,51%.

Despencamos praticamente ao mesmo nível de 2006.

No ano passado, a parcela de alunos nessa faixa etária fora da escola diminuiu um pouco, para 4,25%.

Mas ainda é mais do que o dobro da taxa de 2019, antes da pandemia.

Isso é algo que precisa reverter, isso gera evasão, isso gera reprovação, isso gera abandono da escola.

E nós temos o Brasil hoje perto de milhões de crianças e jovens ao longo do ensino básico.

Estamos fechando a torneira disso.

Nós queremos garantir que não perdem nenhuma criança ou nenhum jovem da educação básica brasileira.

A alfabetização em um sentido mais amplo exige conhecimentos e saberes profissionais.

Exige um tete-a-tete também dos professores com as crianças,

para interpretar o que essas crianças precisam em determinado momento ali na sala de aula.

E a pandemia acabou com a noção de grupo, acabou com a história que podia ser relembrada,

que gera um pertencimento de grupo para aquelas crianças.

Porque embora a gente tenha as habilidades e os conhecimentos que a gente trabalha na alfabetização,

tudo isso é trabalhado em função dos temas e contextos daquela sala de aula.

Isso tudo ficou perdido.

O percentual de crianças que não foram alfabetizadas durante a pandemia é o maior dos últimos 10 anos.

Na pandemia aumentou em 66,3% o número de crianças de 6 e 7 anos que não sabem ler e escrever.

E o impacto maior está entre as crianças mais pobres.

E para psicólogos, pedagogos e neurocientistas, é nessa fase, na infância,

que a gente começa a aprender a socializar, a lidar com as emoções, a compreender o mundo.

É por isso que até as crianças pequenininhas perdem com a necessidade de isolamento.

A gente tinha muita falta de estudar.

Quando a gente estuda, a gente pode ficar inteligente.

Então nós tivemos dois anos desastrosos para a alfabetização brasileira.

E tanto esses dados do MEC, que foram publicados logo pós pandemia,

como os resultados de provas como o PERUS e outras,

tem que ser contextualizado em relação a esse momento.

Essa é uma questão.

A segunda é que a alfabetização na idade certa também varia com relação ao que se espera de uma alfabetização.

Na década de 70, as crianças eram reprovadas no primeiro ano na faixa de 50%,

porque não aprendiam a decifrar, a ler e escrever palavras naquele ano.

Eu fui um caso desse.

Eu sou uma criança da década de 70 que reprovou no primeiro ano.

Pois é.

Então, contra essa opressão do sistema de ensino seriado,

houve uma série de políticas de tentativa de dilatar um pouco mais esse prazo,

porque às vezes a criança era reprovada no final de um ano

e no fevereiro do outro ano ela tinha aquela reação positiva,

mas o dano já estava feito e ela tinha que repetir tudo.

Em 2019, 1 milhão e 400 mil crianças tinham problemas com alfabetização.

Em 2021, 2,4 milhões.

Portanto, aí um incremento para 40,8%.

Eu penso que alguns caminhos a gente pode seguir,

como a relação da alfabetização com a vida do aluno,

questões relacionadas ao que o aluno vive, o contexto, como a gente diz.

Outra coisa é fazer um passagem de alfabetização

que não se restringe exatamente ao que se chama idade certa,

porque não tem uma idade certa.

A gente tem crianças com alfabetização com 5, com 6, com 8.

Então, a ideia de trabalhar com ciclos,

a ideia de trabalhar num ciclo de 3 anos que vigorou em várias políticas,

que acabaram determinando coleções de livro didático,

determinando políticas de formação,

acabaram expandindo esse processo até os 8 anos

para poder fazer mais exigências em relação a essa alfabetização expandida

que eu falei antes.

A gente universalizou a escola na década de 90,

mas a universalização nem sempre levou a essa promoção da alfabetização,

porque precisa de ter mais elementos aí,

condições de trabalho, formação de professores,

materiais, metodologias, no plural.

E se você não tem uma frequência escola anterior,

você pega uma criança de 6 anos que está começando,

em tese, pegaria criança de 6 anos no começo de um processo de escolarização.

Então, daí a ideia de um ciclo mais amplo, com exigências maiores,

que ficou no Plano Nacional de Educação, está previsto 3 anos,

e na política partido Temer foram estabelecidos 2 anos.

Tanto que a base nacional comum curricular foi alterada

para incorporar essa ideia de 2 anos.

E tem também o peso da desigualdade, né?

É lógico que a alfabetização não é só uma questão pedagógica,

não é só uma questão de gestão do sistema de ensino, no es sólo una cuestión de gestión del sistema educativo,

a alfabetização, o mapa do analfabetismo é o mapa da desigualdade social brasileira.

Basta olhar o primeiro censo no Brasil,

onde é que tinha índice de alfabetizado no final do século XIX,

e olhar hoje.

Quais são os grupos, quais são as regiões,

quais são os estados que têm maior ou menor índice de alfabetização,

quais são os analfabetos, são pretos e pardos.

Entre as crianças mais pobres, o percentual das que não sabiam ler e escrever

aumentou de 33% para 51% entre 2019 e 2021.

E entre as mais ricas, o aumento foi de 11% para 16%.

A classificação de crianças como brancas, ainda segundo a pesquisa do IBGE,

35,1% das crianças entre 6 e 7 anos não sabiam ler e escrever.

Pela classificação do IBGE como crianças pardas,

definição da pesquisa, 44,5%.

Também na classificação do IBGE, crianças classificadas como pretas,

47,4% das crianças.

Para ver que tem questões mais amplas envolvendo outras políticas públicas,

políticas que realmente incluam a população,

não apenas na expectativa de ser alfabetizado,

mas na expectativa de continuidade da escolarização.

Mas a desigualdade tem que ser colocada em primeiro plano,

porque senão a gente faz uma análise muito ingênua,

como se bastasse uma metodologia inovadora,

como se bastasse uma gestão ou uma premiação de escolas

que tenha o melhor resultado para entender.

Ontem saiu uma nova pesquisa do PNAD,

mostrando que o maior índice de analfabetismo do país ainda é o do Nordeste,

mas que o Nordeste conseguiu reduzir mais do que os outros estados

o índice de analfabetismo no período.

Então, a gente tem situações muito estáveis no Sudeste, Así pues, tenemos situaciones muy estables en el sudeste,

mas o Sudeste também tem um índice de analfabetismo

que fica cada vez mais difícil de romper,

porque a gente está lidando com gerações de jovens e adultos

que não tiveram direito à escolarização,

e temos esforços grandes em regiões que estão conseguindo

aumentar o índice de analfabetização,

mas assim, no meio de muita desigualdade ainda.

Isabel, eu te agradeço demais por ter vindo falar com a gente

de um tema tão importante.

Muito obrigada, bom trabalho, viu, para todos.

Espera um pouquinho que eu já volto para falar com o Gabriel Corrêa.

Gabriel, eu falava agora com a Isabel sobre o tamanho do desafio

que é alfabetizar as crianças aqui no Brasil.

E pensando do ponto de vista da política pública,

o que comprovadamente funciona para ampliar,

e ao mesmo tempo, melhorar a alfabetização?

Sempre que a gente pensa em política pública para melhorar

a aprendizagem dos estudantes, e nesse caso,

a alfabetização das crianças,

a gente tem que olhar para a sala de aula,

para a sala de aula em que as milhares de professoras e professores do Brasil

trabalham cotidianamente para apoiar esse trabalho que está sendo feito lá.

Por que eu digo isso?

Porque se uma política pública não passar por toda essa cadeia

de implementação para apoiar o trabalho dessas professoras e professores,

ela vai ter sido inócua, não vai ter efeito.

Então, a partir disso que a gente pergunta,

mas o que as evidências científicas,

o que as experiências nacionais e internacionais apontam que dá certo?

A gente não tem uma bala de prata para resolver a alfabetização no Brasil,

mas temos um conjunto de ações que são fundamentais

e que todas as redes de ensino, secretarias de educação,

que conseguiram avançar, fizeram.

Destacar rapidamente aqui, em primeiro lugar,

o apoio e a formação de professores e professoras.

Como qualquer profissão, os professores e professoras precisam se desenvolver,

ter o desenvolvimento profissional ao longo do tempo

e com muito apoio com condição de trabalho.

E que tipo de apoio é esse?

Bons materiais didáticos, livros de leitura para criança,

matérias que possam apoiar esse trabalho das professoras,

avaliações são muito importantes, não no sentido punitivo,

mas para ajudar professoras a identificar quais crianças

que ainda não aprenderam, que deveriam ter aprendido

e que precisam de algum reforço.

Uma boa gestão da escola para incentivar o trabalho colaborativo,

coletivo dos professores e dos profissionais de educação

que trabalham na escola.

Então esse conjunto de ações é fundamental.

Agora, os municípios são os entes da federação responsáveis

pela grande maioria das escolas dos anos iniciais do ensino fundamental.

Então a reflexão que fica é, para além dos municípios,

o que será que os estados e o governo federal podem fazer?

Porque eles têm sim um papel muito relevante de apoiar

e dar mais incentivo para os municípios avançarem.

Você deu uma deixa importante,

que é o estabelecimento de uma colaboração com municípios.

E o governo anuncia nesta segunda-feira,

justamente para estabelecer um pacto com estados e municípios

para ver no que dá para avançar, no que dá para melhorar.

O que precisa fazer?

Onde é que estão os gargalos?

Onde é que estão as boas práticas?

Como é que você resolve o problema?

O gargalo é investimento ou há outros que não são tão óbvios

para quem não é especialista como você no assunto?

A ampliação de investimentos em educação é sempre muito importante.

Mas a boa notícia é que o novo Fundeb,

que é um sistema de financiamento da educação básica,

ele vem ampliando os recursos disponíveis para as redes municipais,

que são as redes diretamente responsáveis pelos primeiros anos

do ensino fundamental, que é onde acontece a alfabetização.

Em relação ao Fundeb, eu quero entender a saída do Fundeb.

Por que colocar o Fundeb no arcabouço?

Eu não entendi até agora por que essa mudança.

Segundo o relator, não há prejuízo, é o fundo.

Segundo alguns outros, há um prejuízo.

Quando a gente fala dessa colaboração entre o governo estadual e os municípios

com o apoio do governo federal,

a gente deve falar especialmente em duas grandes avenidas.

E essas duas grandes avenidas são muito inspiradas no caso do Ceará,

que é um caso que já deu certo,

em que o governo estadual de fato apoiou os seus municípios.

E o ministro vem do Estado, né?

E o ministro da Educação vem do Estado,

a secretária executiva do Ministério da Educação vem do Estado.

Então eles lançam esse compromisso muito inspirado na política cearense.

Nas dez melhores escolas do Brasil nos anos iniciais, todas são cearenses.

O Estado também se destaca na avaliação dos anos finais do ensino fundamental,

do sexto ao nono ano.

Das dez melhores escolas, oito são daqui.

Que é uma política que vários outros estados também já têm se embasado,

se inspirado no lançamento de suas ações.

Essa política, ela por um lado tem um apoio muito forte dos governos estaduais,

ou seja, das secretarias estaduais de educação, para as prefeituras.

Oferecendo material, oferecendo formação para gestores e para professores,

oferecendo avaliações para os estudantes.

Então tem um apoio muito forte que é dado.

Mas tem uma outra avenida que anda junto e é fundamental,

que é do incentivo.

Do incentivo à priorização política.

A gente sabe que nem sempre a alfabetização tem um compromisso político no Brasil.

Como se dá esse incentivo?

Os recursos do ICMS, que é um imposto importantíssimo arrecadado pelos estados,

mas que parcela dele, precisa ser repassado para as prefeituras. pero esa parte hay que pasársela a los municipios.

Esse repasse no Ceará,

grande parte dele é calculado pelos avanços na alfabetização.

Então as prefeituras que mais avançam os seus indicadores, mais recebem recurso.

Isso gera um incentivo muito forte para que a alfabetização

realmente vire uma pauta prioritária.

O ministro da Educação, Camilo Santana, disse que o governo vai lançar um pacto nacional

para melhorar os índices de alfabetização.

Então tem que ser um esforço que tem que ser coletivo,

que tem que haver uma união de esforços de todas as esferas desse país,

da sociedade civil organizada, das entidades de classe, enfim, da sociedade como um todo.

Vários outros estados estão começando a avançar nesse caminho

e um impulso do governo federal nesse sentido seria extremamente importante para o Brasil.

E, Gabriel, como é que se salva uma geração inteira de crianças?

Eu explico a minha pergunta.

Quando a criança não é alfabetizada nos primeiros anos do ensino fundamental,

ela chega depois desse período com lacunas em diferentes matérias, em diferentes disciplinas.

Então eu te pergunto o que dá para fazer em caráter emergencial até,

para que não se perca uma geração?

Isso é muito importante.

A gente precisa, no Brasil, chamar mais atenção para essa tragédia silenciosa,

que é o fato de a gente não conseguir alfabetizar todas as nossas crianças.

Porque isso tem um impacto imenso na trajetória escolar delas nos anos subsequentes,

mas também na própria vida desses estudantes,

que vão tender à evasão escolar, ao subemprego

e a várias outras dimensões de suas vidas que ficam extremamente prejudicadas.

É muito importante um esforço emergencial na alfabetização dos estudantes,

especialmente nesses anos agora que a gente acabou de sair de uma pandemia extremamente crítica.

Então o Ministério da Educação, com os estados, com os municípios,

precisam identificar quais são realmente as crianças que não foram alfabetizadas,

que não são só as crianças no segundo ano,

mas também tem crianças no terceiro, no quarto, no quinto, no sexto ano do ensino fundamental

que não foram alfabetizadas, e ter políticas específicas para elas.

Com mais tempo na escola, com professor dedicado para poucos alunos,

com material didático específico para essa alfabetização, muitas vezes tardia.

Uma avaliação feita com 250 mil crianças de 7 anos mostrou que 73% delas não leem

ou leem no máximo 9 palavras por minuto.

Apenas 7% são leitoras fluentes nessa idade.

O impacto que isso tem para a trajetória escolar dos alunos é muito grande.

Se o aluno não se alfabetiza na idade certa, é muito difícil você imaginar

que ele consegue acompanhar e consegue aprender os diferentes componentes curriculares

ao longo do resto da vida escolar que ele vai ter.

Dá para fazer, Natuza. Essas crianças não estão condenadas a serem alfabetas para sempre,

mas precisa de muito comprometimento para que isso de fato aconteça.

Gabriel, super obrigada pela participação.

Foi um prazer participar com vocês e obrigado por trazerem um tema tão relevante para o país.

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Até o próximo Assunto.

Legenda Adriana Zanotto