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BBC Brasil 2020 (Áudio/Vídeo+CC), Pix: novo meio de pagamento desafia indústria de cartões, maquininhas e bancos

Pix: novo meio de pagamento desafia indústria de cartões, maquininhas e bancos

[Oct 6, 2020].

Você já deve ter ouvido falar do Pix.

Seja pelos e-mails insistentes do seu banco, convidando você pra fazer o pré-cadastro, ou pelas propagandas na TV e nas redes sociais.

O novo meio de pagamento eletrônico instantâneo que vem sendo desenvolvido pelo Banco Central será lançado em 16 de novembro e o registro começa agora em outubro.

Você também já deve ter ouvido falar que ele vai permitir a realização de transferências bancárias em qualquer dia - inclusive feriado -, a qualquer hora e sem custo.

O fim da TED e do DOC.

É verdade, mas não é só isso.

Há quem diga que ele pode provocar mudanças profundas na forma como a gente faz e recebe pagamentos.

Sou Camilla Veras Mota, na BBC News Brasil, e vou explicar nesse vídeo o que é o Pix, o quão seguro ele é e o que significa para todos nós e para o mercado de pagamentos eletrônicos, que movimentou quase R$ 2 trilhões no Brasil só no ano passado.

Bom, vamos começar pelos consumidores, como esse negócio pode afetar a sua vida.

Além das transferências instantâneas, que eu mencionei lá no começo (a TED e o DOC), o Pix também ameaça o futuro do boleto bancário e é um candidato a substituir o cartão nas compras feitas no débito e o dinheiro (nas compras em espécie).

Isso porque ele também vai permitir a realização de operações usando QR code, que você consegue manipular usando seu celular.

Vou explicar.

No caso do boleto, o pagamento passa a ser feito pelo aplicativo do banco ou de uma carteira eletrônica, aquelas e-wallets, como PicPay ou Mercado Pago.

Por exemplo: quando o cliente faz uma compra online, para efetuar o pagamento ele só precisa abrir o app e ler o QR Code do Pix.

Ao contrário do boleto, a transação é processada instantaneamente, o que é menos uma dor de cabeça pro comércio.

As compras em dinheiro ou débito seguem a mesma lógica.

Em um estabelecimento comercial físico, por exemplo, o lojista pode gerar o QR Code ou imprimi-lo e deixá-lo no balcão — como já acontece hoje em estabelecimentos que aceitam pagamentos instantâneos de carteiras eletrônicas.

A gente falou da função débito do cartão.

E o crédito?

Bom, por enquanto, ele tende a ser pouco afetado, porque o Pix processa transações instantâneas, e não a prazo.

Existe a previsão de um Pix agendado, que seria algo semelhante a uma compra com cartão de crédito, mas, pelas regras atuais, ele acaba tendo pouco apelo, porque a operação é cancelada caso não haja dinheiro na conta quando ele for processado.

Sem garantia de recebimento, não é uma modalidade interessante para o comércio nesse momento.

Agora vamos à “parte operacional”.

Para que uma pessoa física use o Pix ela só precisa ter uma conta corrente, conta poupança ou uma carteira eletrônica.

O cadastro é feito por meio da instituição que gerencia a conta e o serviço não tem custo, é de graça.

O cliente tem a possibilidade de cadastrar uma “chave Pix” para facilitar as transações — uma espécie de “apelido” que vai ser usado para identificá-lo nas transações, como CPF, e-mail e telefone.

Isso quer dizer que não vai ser mais preciso ficar escrevendo aquele catatau de informações sempre que for fazer uma transferência: número da conta, agência, CPF… É só colocar a chave Pix.

A pessoa física pode ter “chaves Pix” em mais de uma instituição bancária, mas só pode ter uma modalidade por instituição.

Ou seja, se você cadastrou o CPF em um determinado banco, por exemplo, ele só pode ser usado como chave Pix naquele banco.

Você pode usar seu e-mail em outro banco, por exemplo.

E se eu não fizer uma chave, vou poder usar o Pix? Vai.

Mas o Banco Central recomenda o cadastro de uma.

Agora vamos passar a quem está do outro lado do balcão, os estabelecimentos comerciais.

Gratuito para a pessoa física, o Pix vai ser cobrado da pessoa jurídica.

Mas o custo tende a ser muito menor do que aquele em que se incorre hoje.

Isso porque a cadeia de meios de pagamentos eletrônicos tem vários elos, e cada um deles ganha um pouquinho.

Entre o momento em que você coloca o cartão na maquininha e o aviso de que a transação foi aprovada, muita coisa acontece.

A credenciadora, que é a maquininha, processa a compra, envia as informações à bandeira do cartão, que aciona o emissor, o banco.

Uma vez aprovada a transação, a informação faz o caminho de volta - passando pelo banco e pela bandeira - até a maquininha, que libera a loja para o recebimento do valor.

A cada venda feita no cartão, o estabelecimento é cobrado por um percentual da transação, a “merchant discount rate”, ou MDR, que remunera todos esses atores.

Em uma venda feita pelo Pix com QR Code, por exemplo, o consumidor pode pagar com o celular, e a operação é processada pelo Sistema de Pagamentos Instantâneos (SPI), gerido e operado pelo Banco Central.

Por isso o custo é menor - e por isso os estabelecimentos comerciais e os trabalhadores autônomos devem ter um incentivo pra adotar a nova modalidade.

E, com uma capilarização pelo comércio, quem também tende a ganhar são as empresas de carteiras eletrônicas, aquelas sobre as quais comentei no começo, como PicPay e Mercado Pago, que funcionam pelo celular e já fazem pagamento por QR code e transferência de valores.

Se o Pix for amplamente adotado, ele acaba resolvendo o que hoje é um gargalo pra essas empresas, que é o tamanho da rede em que o app é aceito.

Eu conversei com o João Bragança, especialista em meios de pagamentos da consultoria Roland Berger, e ele também colocou no grupo de potenciais ganhadores grandes empresas de tecnologia, que teriam oportunidade de entrar ou acelerar o crescimento na área de serviços financeiros; e os bancos digitais e fintechs, que podem não apenas expandir a carteira de clientes, mas consolidar a base que já têm.

Hoje muitos brasileiros que têm conta nessas instituições financeiras menores ainda concentram boa parte de suas movimentações nos bancos de varejo tradicionais.

É aquela situação em que a pessoa fez o cadastro no Nubank, por exemplo, mas ainda faz muita coisa no aplicativo do Bradesco, do Itaú, do Banco do Brasil.

Com o Pix, essa lógica poderia começar a mudar: ele poderia servir como uma espécie de âncora de relacionamento com o cliente, de fidelização — e daí a movimentação dos grandes bancos, alguns com grandes campanhas publicitárias, para que os clientes registrem o Pix em suas plataformas.

Os perdedores em potencial você já deve imaginar quem são: todos aqueles que hoje lucram com os vários elos da cadeia de pagamentos.

As “maquininhas”, que são conhecidas como adquirentes, as bandeiras de cartões e as processadoras, que prestam parte do serviço operacional ligado aos cartões e às transações.

A probabilidade de que a mudança gere perda de receita e diminua a rentabilidade dessas empresas é grande.

Mas por que o Banco Central está lançando a plataforma, se mexe com tanta “gente grande”?

Felipe Ahouagi, que é especialista em meios de pagamentos da consultoria L.E.K., explicou algumas das razões.

O Pix, ele diz, é mais uma etapa da agenda de competitividade do BC — a mesma que quebrou o monopólio das maquininhas lá em 2009, que visa estimular a concorrência e diminuir os custos de transação no país.

Além disso, a autoridade monetária também conta com a vantagem de que essa modalidade dá maior visibilidade às transações (especialmente àquelas que antes eram feitas com dinheiro em espécie), com rastreamento de ponta a ponta.

Isso ajuda a reduzir a informalidade, a evasão de divisas, e a aumentar regularização do sistema.

Vamos então à última parte deste vídeo: a segurança.

Bom, não houve padronização nesse sentido por parte do Banco Central: a questão da segurança é de competência das instituições financeiras.

A lógica é a mesma das demais transações bancárias: os sistemas de mitigação de risco e as barreiras antifraude variam de uma empresa para outra.

No caso do Pix, além da segurança dos próprios aplicativos das instituições financeiras, elas podem colocar outras camadas — um limite máximo de valor para realização de operação, por exemplo.

Ele tende a ser seguro.

Mesmo assim, como alerta João Bragança, da Roland Berger, provavelmente devem aparecer casos de fraude - pelo simples fato de que isso acontece com praticamente todas as modalidades de pagamentos.

“É o ciclo de vida de qualquer operação”, ele diz, “uma jornada de aprendizado".

E deve-se ficar atento não apenas à possibilidade de golpes, mas também de erros cometidos pelos próprios clientes.

Como o Pix é instantâneo, uma transferência ou um pagamento feitos por engano não têm garantia de ressarcimento.

Também ficará a cargo de cada instituição decidir como vão lidar com essas situações.

Espero que esse conteúdo tenha sido útil.

Eu fico por aqui.

Obrigada e até a próxima!"


Pix: novo meio de pagamento desafia indústria de cartões, maquininhas e bancos Pix: Neues Zahlungsmittel fordert Karten-, Geldautomaten- und Bankenindustrie heraus Pix: new means of payment challenges the card, ATM and bank industry Pix: el nuevo método de pago desafía a la industria de las tarjetas, las máquinas y los bancos Pix : un nouveau mode de paiement défie l'industrie des cartes, les machines et les banques Pix: новий спосіб оплати кидає виклик картковій індустрії, банкоматам та банкам

[Oct 6, 2020].

Você já deve ter ouvido falar do Pix.

Seja pelos e-mails insistentes do seu banco, convidando você pra fazer o pré-cadastro, ou pelas propagandas na TV e nas redes sociais.

O novo meio de pagamento eletrônico instantâneo que vem sendo desenvolvido pelo Banco Central será lançado em 16 de novembro e o registro começa agora em outubro.

Você também já deve ter ouvido falar que ele vai permitir a realização de transferências bancárias em qualquer dia - inclusive feriado -, a qualquer hora e sem custo.

O fim da TED e do DOC.

É verdade, mas não é só isso.

Há quem diga que ele pode provocar mudanças profundas na forma como a gente faz e recebe pagamentos.

Sou Camilla Veras Mota, na BBC News Brasil, e vou explicar nesse vídeo o que é o Pix, o quão seguro ele é e o que significa para todos nós e para o mercado de pagamentos eletrônicos, que movimentou quase R$ 2 trilhões no Brasil só no ano passado.

Bom, vamos começar pelos consumidores, como esse negócio pode afetar a sua vida.

Além das transferências instantâneas, que eu mencionei lá no começo (a TED e o DOC), o Pix também ameaça o futuro do boleto bancário e é um candidato a substituir o cartão nas compras feitas no débito e o dinheiro (nas compras em espécie).

Isso porque ele também vai permitir a realização de operações usando QR code, que você consegue manipular usando seu celular.

Vou explicar.

No caso do boleto, o pagamento passa a ser feito pelo aplicativo do banco ou de uma carteira eletrônica, aquelas e-wallets, como PicPay ou Mercado Pago.

Por exemplo: quando o cliente faz uma compra online, para efetuar o pagamento ele só precisa abrir o app e ler o QR Code do Pix.

Ao contrário do boleto, a transação é processada instantaneamente, o que é menos uma dor de cabeça pro comércio.

As compras em dinheiro ou débito seguem a mesma lógica.

Em um estabelecimento comercial físico, por exemplo, o lojista pode gerar o QR Code ou imprimi-lo e deixá-lo no balcão — como já acontece hoje em estabelecimentos que aceitam pagamentos instantâneos de carteiras eletrônicas.

A gente falou da função débito do cartão.

E o crédito?

Bom, por enquanto, ele tende a ser pouco afetado, porque o Pix processa transações instantâneas, e não a prazo.

Existe a previsão de um Pix agendado, que seria algo semelhante a uma compra com cartão de crédito, mas, pelas regras atuais, ele acaba tendo pouco apelo, porque a operação é cancelada caso não haja dinheiro na conta quando ele for processado.

Sem garantia de recebimento, não é uma modalidade interessante para o comércio nesse momento.

Agora vamos à “parte operacional”.

Para que uma pessoa física use o Pix ela só precisa ter uma conta corrente, conta poupança ou uma carteira eletrônica.

O cadastro é feito por meio da instituição que gerencia a conta e o serviço não tem custo, é de graça.

O cliente tem a possibilidade de cadastrar uma “chave Pix” para facilitar as transações — uma espécie de “apelido” que vai ser usado para identificá-lo nas transações, como CPF, e-mail e telefone.

Isso quer dizer que não vai ser mais preciso ficar escrevendo aquele catatau de informações sempre que for fazer uma transferência: número da conta, agência, CPF… É só colocar a chave Pix.

A pessoa física pode ter “chaves Pix” em mais de uma instituição bancária, mas só pode ter uma modalidade por instituição.

Ou seja, se você cadastrou o CPF em um determinado banco, por exemplo, ele só pode ser usado como chave Pix naquele banco.

Você pode usar seu e-mail em outro banco, por exemplo.

E se eu não fizer uma chave, vou poder usar o Pix? Vai.

Mas o Banco Central recomenda o cadastro de uma.

Agora vamos passar a quem está do outro lado do balcão, os estabelecimentos comerciais.

Gratuito para a pessoa física, o Pix vai ser cobrado da pessoa jurídica.

Mas o custo tende a ser muito menor do que aquele em que se incorre hoje.

Isso porque a cadeia de meios de pagamentos eletrônicos tem vários elos, e cada um deles ganha um pouquinho.

Entre o momento em que você coloca o cartão na maquininha e o aviso de que a transação foi aprovada, muita coisa acontece.

A credenciadora, que é a maquininha, processa a compra, envia as informações à bandeira do cartão, que aciona o emissor, o banco.

Uma vez aprovada a transação, a informação faz o caminho de volta - passando pelo banco e pela bandeira - até a maquininha, que libera a loja para o recebimento do valor.

A cada venda feita no cartão, o estabelecimento é cobrado por um percentual da transação, a “merchant discount rate”, ou MDR, que remunera todos esses atores.

Em uma venda feita pelo Pix com QR Code, por exemplo, o consumidor pode pagar com o celular, e a operação é processada pelo Sistema de Pagamentos Instantâneos (SPI), gerido e operado pelo Banco Central.

Por isso o custo é menor - e por isso os estabelecimentos comerciais e os trabalhadores autônomos devem ter um incentivo pra adotar a nova modalidade.

E, com uma capilarização pelo comércio, quem também tende a ganhar são as empresas de carteiras eletrônicas, aquelas sobre as quais comentei no começo, como PicPay e Mercado Pago, que funcionam pelo celular e já fazem pagamento por QR code e transferência de valores.

Se o Pix for amplamente adotado, ele acaba resolvendo o que hoje é um gargalo pra essas empresas, que é o tamanho da rede em que o app é aceito.

Eu conversei com o João Bragança, especialista em meios de pagamentos da consultoria Roland Berger, e ele também colocou no grupo de potenciais ganhadores grandes empresas de tecnologia, que teriam oportunidade de entrar ou acelerar o crescimento na área de serviços financeiros; e os bancos digitais e fintechs, que podem não apenas expandir a carteira de clientes, mas consolidar a base que já têm.

Hoje muitos brasileiros que têm conta nessas instituições financeiras menores ainda concentram boa parte de suas movimentações nos bancos de varejo tradicionais.

É aquela situação em que a pessoa fez o cadastro no Nubank, por exemplo, mas ainda faz muita coisa no aplicativo do Bradesco, do Itaú, do Banco do Brasil.

Com o Pix, essa lógica poderia começar a mudar: ele poderia servir como uma espécie de âncora de relacionamento com o cliente, de fidelização — e daí a movimentação dos grandes bancos, alguns com grandes campanhas publicitárias, para que os clientes registrem o Pix em suas plataformas.

Os perdedores em potencial você já deve imaginar quem são: todos aqueles que hoje lucram com os vários elos da cadeia de pagamentos.

As “maquininhas”, que são conhecidas como adquirentes, as bandeiras de cartões e as processadoras, que prestam parte do serviço operacional ligado aos cartões e às transações.

A probabilidade de que a mudança gere perda de receita e diminua a rentabilidade dessas empresas é grande.

Mas por que o Banco Central está lançando a plataforma, se mexe com tanta “gente grande”?

Felipe Ahouagi, que é especialista em meios de pagamentos da consultoria L.E.K., explicou algumas das razões.

O Pix, ele diz, é mais uma etapa da agenda de competitividade do BC — a mesma que quebrou o monopólio das maquininhas lá em 2009, que visa estimular a concorrência e diminuir os custos de transação no país.

Além disso, a autoridade monetária também conta com a vantagem de que essa modalidade dá maior visibilidade às transações (especialmente àquelas que antes eram feitas com dinheiro em espécie), com rastreamento de ponta a ponta.

Isso ajuda a reduzir a informalidade, a evasão de divisas, e a aumentar regularização do sistema.

Vamos então à última parte deste vídeo: a segurança.

Bom, não houve padronização nesse sentido por parte do Banco Central: a questão da segurança é de competência das instituições financeiras.

A lógica é a mesma das demais transações bancárias: os sistemas de mitigação de risco e as barreiras antifraude variam de uma empresa para outra.

No caso do Pix, além da segurança dos próprios aplicativos das instituições financeiras, elas podem colocar outras camadas — um limite máximo de valor para realização de operação, por exemplo.

Ele tende a ser seguro.

Mesmo assim, como alerta João Bragança, da Roland Berger, provavelmente devem aparecer casos de fraude - pelo simples fato de que isso acontece com praticamente todas as modalidades de pagamentos.

“É o ciclo de vida de qualquer operação”, ele diz, “uma jornada de aprendizado".

E deve-se ficar atento não apenas à possibilidade de golpes, mas também de erros cometidos pelos próprios clientes.

Como o Pix é instantâneo, uma transferência ou um pagamento feitos por engano não têm garantia de ressarcimento.

Também ficará a cargo de cada instituição decidir como vão lidar com essas situações.

Espero que esse conteúdo tenha sido útil.

Eu fico por aqui.

Obrigada e até a próxima!"