Podcast #090 – Dr. Souto Fala Sobre Frutas, Leguminosas, Leite E Bacon Na Low-Carb E Cetogênica (4)
alimentação.
Então, eu acho que o problema maior desse monte de aditivos é quando a sua alimentação
é basicamente composta deles, mas isso não é a realidade das pessoas que estão fazendo
uma low-carb, que vão ter o grosso da sua alimentação feita, repito, no açougue,
na peixaria e na feira.
Guilherme: Com certeza, com certeza com a comida de verdade, baseada especialmente nos
legumes, vegetais, frutas, carnes, ovos, peixes, frango, porco, tudo isso comprado fresco você
nem tem que se preocupar com esses ingredientes estranhos, excipientes, carragenas, conservantes,
emulsificantes, fica bem mais fácil.
Você vai simplificando, vai garantindo os nutrientes na dieta, vai garantindo justamente
um tipo de alimento que tende a facilitar a sensação de saciedade, não tende a ser
compulsivo e ainda tem a vantagem de não se preocupar com nada dessas adições, industriais.
Então, são várias vantagens — e ainda tende a ficar mais barato.
Dr.
Souto: Perfeito.
Frutas São Saudáveis?
Quanto Pode Comer?
Guilherme: E, Dr.
Souto, um outro tópico que a gente mencionou agora, de passagem, foi a questão das frutas.
A gente falou justamente nesse âmbito que elas são pouco processadas e também tendem
a ser alimentos que as pessoas gostam de consumir — porque elas têm esse viés, também,
de que são saudáveis.
E a gente sabe — a gente já falou bastante aqui no nosso podcast, nos artigos lá no
blog, que as frutas não são essenciais.
Especialmente os alimentos que as pessoas consideram como frutas, as frutas mais docinhas
— banana, manga, caqui — , não estamos falando de abobrinha e tomate.
Mas, elas podem consumir?
Não podem?
E a gente queria até tocar um pouco nesses aspecto de quem é diabético, com resistência
à insulina, como que as pessoas conseguem ceder a fruta na alimentação, assim, de
uma maneira mais descomplicada?
Quais são os principais contextos para se ter em mente?
Dr.
Souto: Guilherme, eu acho que o exemplo que você citou é muito bom, no sentido, assim,
do diabético e do resistente à insulina.
Porque repito, low-carb é um espectro que vai desde a cetogênica, com pouquíssimo
carboidrato, até uma low-carb moderada, no qual as frutas, até uma quantidade bem razoável,
podem estar presentes.
Quando a gente trata pacientes diabéticos, e eles usam aquele sensor contínuo de glicose,
um sensorzinho que gruda no braço e mede a glicose o tempo todo, mesmo quando a pessoa
está dormindo, fica muito evidente que têm pessoas que não podem consumir frutas doces.
Então, são indivíduos que se comerem mesmo aquelas frutas que não têm muito açúcar,
como moranguinho, a pessoa come cinco moranguinhos e tem uma elevação da glicemia, digamos,
de 120 para 190.
Então, para essas pessoas o ideal é realmente se abster da fruta doce na maior parte do
tempo e dar preferência, então, para coco, abacate e para aquelas frutas que a gente
não lembra que é fruta.
Você citou algumas aí, você falou em tomate e abobrinha; tem ainda aí pimentão, berinjela,
chuchu, pepino, são coisas que a maioria das pessoas, diz assim, “nossa, mas isso
é fruta?”.
Sim, isso é fruta, do ponto de vista botânico, e a importância é você saber que não tem
nenhum nutriente, nenhuma vitamina que esteja presente só em fruta doce, então a vitamina
C você vai encontrar no pimentão; o potássio, você vai encontrar no abacate em dobro de
quantidade do que você tem na banana.
E, então, esse é um extremo, o outro extremo é a pessoa que já está numa fase de manutenção
de peso, que não tem nenhum problema metabólico, que não é diabética, e para essa pessoa,
comer uma banana de vez em quando, não é um problema.
Então, sim, a banana tem mais carboidratos, mas, vamos combinar, esses carboidratos estão
juntamente com fibra, e aquilo é comida de verdade, a digestão não vai ser toda na
primeira porção do duodeno, como se fosse um xarope de açúcar, né.
Então, é muito importante diferenciar as necessidades das pessoas.
De uma forma geral, se eu tivesse que explicar, assim, para todo mundo aí que está nos ouvindo,
a gente dá preferência na low-carb para as frutas menos doces, então, coco, abacate
e as berries, que é o moranguinho, mirtilo, framboesa, amora, que na maioria das pessoas
vão ter um impacto bem pequeno na glicemia.
E as frutas progressivamente mais doces, a gente vai consumir de vez em quando como sobremesa,
porque no fundo é isso que elas são, elas são sobremesas da natureza.
E na natureza, quando os ser humano evoluiu, não tinha pomar, não tinha supermercado
e não tinha fruta cultivada — que é maior e mais doces do que as frutas silvestres,
de modo que essas frutas mais doces é para consumo esporádico.
E uma dica: dê preferência ao consumo da fruta depois de uma refeição.
Você almoça e come e a fruta de sobremesa, e não no meio da tarde em jejum, quando o
impacto na sua glicose vai ser maior quando você está de estômago vazio — que nem
álcool, né, quando a gente bebe álcool de estômago vazio o impacto é maior e mais
imediato.
Cetose E Emagrecimento
Roney: Para finalizar, a gente queria abordar um último assunto que foi uma postagem que
a gente fez recentemente no Instagram, que causou muita polêmica, que é com relação
à cetose e dieta cetogênica.
A gente vê muita gente muito preocupada em saber se está ou não está em cetose; “como
que faz para entrar em cetose; como entrar em cetose mais rápido?”.
E a gente postou que, tudo bem, algumas pessoas vão se beneficiar da cetose, pode ser bacana
estar em cetose, mas que a cetose não é tudo para quem quer emagrecer.
É totalmente possível emagrecer sem estar em cetose e que, por outro lado, é possível
manter o peso ou até em determinados casos, ganhar algum tipo de peso, mesmo estando em
cetose.
Então, as pessoas não precisam ficar tão noiadas, assim, atrás de estar em cetose
ou não.
E o que você tem a dizer sobre essa questão toda da cetose em dieta cetogênica?
Dr.
Souto: Roney, é uma pergunta importante, eu tenho uma postagem no blog escrito sobre
isso, quem quiser procurar bota no Google lá: “Souto Blog Cetose”.
Eu digo exatamente o que vocês disseram: a cetose não é necessária para a perda
de peso, e você pode estar em cetose e não perder peso ou até ganhar peso.
Então, vamos explicar rapidamente, a cetose significa o que?
Significa que o corpo está usando, basicamente, gordura como fonte de energia numa velocidade
tal que parte desses ácidos graxos vão para o fígado e são convertido em corpos cetônicos.
Agora, essa gordura pode estar vindo das gorduras que você tem acumuladas, mas essa gordura
pode estar vindo da sua dieta também.
Se você tiver consumindo muita gordura, você pode estar em cetose e não estar perdendo
nenhum peso porque todos os corpos cetônicos que você está produzindo são oriundos da
gordura que você está comendo, e você pode até engordar.
Eu costumo brincar: “quer engordar em cetose?
Pergunte-me como”.
Eu tenho várias dicas, uma delas é pasta de amendoim com chocolate 85% e xilitol.
Garanto que eu engordo qualquer pessoa em cetose com essa mistura, se a pessoa tiver
o mesmo prazer que eu tenho em comer essa misturinha.
É uma mistura perigosa.
Guilherme: Coloca coco ralado junto então…
Dr.
Souto: Oh, imagina!
Ao mesmo tempo, a gente sabe que é possível perder peso sem cetose, basta fazer uma dieta
rica em carboidratos e pobre em calorias.
Eu tenho pena desse indivíduo, porque ele vai passar muita fome, mas se ele for uma
pessoa resoluta, tá certo, que seja capaz de suportar o sofrimento, é bem possível,
assim, perder bastante peso sem entrar em cetose numa dieta de alto carboidrato.
Aliás, teve um estudo, mais ou menos recente, acho que não faz dois meses, do Kevin Hall,
que mostrou justamente isso, uma dieta de alto carboidrato, baseada em plantas, produzindo
uma perda de gordura, ao mesmo tempo em que tinha insulina alta e corpos cetônicos baixos.
O que que acontecia ali?
A pessoa estava comendo menos, tinha uma restrição calórica de 700 calorias, e naquele caso
era interessante porque elas não estavam sendo obrigadas a comer menos, que era feito
tudo com comida de verdade e com muita, muita fibra, de modo que enchia a barriga e diminuía
um pouco o apetite, a densidade calórica era baixa.
Então, tem várias formas de perder peso, você pode perder peso passando fome; você
pode perder peso restringindo carboidratos; você pode perder peso diminuindo drasticamente
a densidade calórica da sua dieta; você pode perder peso com remédios que inibem
o apetite, e aí você vai comer pouco, e estando em cetose ou não, a pessoa vai comer
pouco, vai perder peso.
Então, é importante salientar isso.
Dito isso tudo, eu acho que a cetose tem aí as suas vantagens para quem gosta.
A gente costuma se sentir bem, tem um bem estar associado, algumas pessoas que praticam
esportes de endurance relatam melhora da performance, mais resistência; conseguem ter marcas melhores
na maratona ou no ciclismo.
E, para pessoas que têm determinadas condições médicas, então, vamos lá, epilepsia, está
provado que a cetose é eficaz para a epilepsia.
A gente sabe que uma dieta cetogênica funciona maravilhosamente bem para o controle do diabetes;
existem estudos em animais e alguns relatos de casos em seres humanos de que, talvez,
a dieta cetogênica associada à quimio e à radioterapia possa ser benéfica no controle
de determinados tipos de câncer, isso ainda está para ser demonstrado.
Existem também relatos de caso e estudos em animais mostrando que a cetose pode ajudar
estabilizar o humor no transtorno de humor bipolar e na depressão.
Então, nós temos aí alguns motivos para daqui a pouco querer estar em cetose, mas
se a preocupação é, “nossa, eu não posso comer um pouco de melão porque isso vai me
tirar da cetose e aí eu vou parar de emagrecer”, isso não existe, tá.
A Realidade Tem Primazia Sobre Os Mecanismos
Guilherme: Perfeito, existem muitas situações que podem se beneficiar do estado de cetose
— né, a questão da epilepsia, que foi, inclusive, como a cetose e a dieta cetogênica
foi originalmente trabalhada.
A questão do câncer, a gente tem um episódio com a Dra.
Janaína, aqui no nosso podcast, falando sobre isso.
Já tem um outro também falando sobre a dieta cetogênica e a enxaqueca, tem várias situações.
E um comentário engraçado, quando a gente fez aquela postagem no Instagram, falando
justamente que é possível até mesmo ganhar peso, engordar estando em cetose, um comentário
foi de um leitor nosso falando, “mas isso é possível?
Não vai bugar o sistema?
Porque o hormônio anabolizante está em baixa e o glicogênio hepático também”.
E aí o Danilo Balu, no caso, que também já veio aqui no podcast, ele mencionou, “a
natureza encontra um jeito, se a pessoa se entupir de gordura, não tem como”.
E eu falei “cara, eu vou achar o nome daquela molécula que eu tinha lido recentemente,
falando justamente sobre o jeito que a natureza dá, é Acylation Stimulating Protein, que
é uma citocina que, justamente, na ausência de insulina, ela promove o armazenamento de
gorduras.
Então, nosso corpo é esperto: e quando a gente pensa num paradigma evolutivo, nosso
corpo tendo esse excesso de energia e podendo armazenar, tendo uma maneira disso, não faria
sentido a gente não conseguir armazenar um grande excesso de energia se tivesse a nossa
disposição, se isso fosse aumentar as nossas chances de sobrevivência, procriação e
passar os genes para frente.
Então, muitas vezes eu mencionei essa molécula, mas a gente nem precisa chegar tão fundo
assim, é só pensar nesse aspecto evolutivo que as coisas começam a ficar mais claras.
Dr.
Souto: Na verdade, tem uma frasesinha que eu volto e meia repito que é assim, a realidade
tem primazia sobre os mecanismos, então é assim, existem pessoas que engordam em cetose,
ponto.
São fatos da vida, isso basta.
Então, não é relevante para a maioria de nós, que não somos pós graduados em bioquímica,