Podcast #090 – Dr. Souto Fala Sobre Frutas, Leguminosas, Leite E Bacon Na Low-Carb E Cetogênica (2)
Roney: Sem dúvidas, Souto, então mais uma vez, assim como no caso das leguminosas, também
é um pouco de questão de quantidade.
E também de saber se você tem algum tipo de intolerância ao leite.
E, nesse caso, a pessoa que tá ouvindo a gente pode tentar expandir esse pensamento
e falar, “ah, mas se então eu posso tomar um pouquinho de leite, então, será que eu
posso comer um pedacinho daquele chocolate normal, sem ser o 99% cacau?
Será que eu posso por colherzinha de açúcar no meu café?”, que também vai ter aí
os seus 2, 3, 4, 5 gramas de carboidratos.
Dr.
Souto: É uma boa pergunta, eu acho que a gente tem que pensar na resposta da seguinte
forma.
O leite, vamos combinar que é um produto nutricionalmente bem completo, tá certo,
é aquilo que a natureza escolheu para fazer aleitamento exclusivo no início da vida humana,
por exemplo, por pelo menos seis meses.
Então, ele é um alimento nutricionalmente denso; a colherzinha de açúcar não é nutricionalmente
densa, ela tá acrescentando apenas açúcar no seu café, e então eu acho que cada caso
deve ser levado, assim, individualmente.
Eu tendo a sugerir para as pessoas que não usem o açúcar no café.
Eu acho que aí é você acrescentar apenas coisa ruim, é diferente de você colocar
um alimento mais completo como o leite — além do que o leite não é exatamente uma coisa
que vai deixar você viciado.
O açúcar vai.
Então, o açúcar você vai beber, e aquele açúcar vai dar vontade de beber mais coisas
com açúcar, vai dificultar o desmame do açúcar em outras coisas.
Eu acho que o mesmo raciocínio, a gente pode pensar em termos do chocolate.
Você realmente vai conseguir comer só um pedacinho daquele chocolate normal, com açúcar?
Porque eu consigo comer só um pedacinho de um chocolate 85% ou 90%, porque ele é pouco
doce, ele não gera aquele desespero do vício.
Agora, um chocolate 60% cacau, por exemplo, já é uma coisa que se eu experimento e me
dá vontade de comer a barra inteira
Porque aquilo reaviva dentro da pessoa aquele vício por doce, que vamos combinar, boa parte
de nós têm, e a maioria das pessoas que sofre ou já sofreu com sobrepeso ou obesidade,
tem algum grau de compulsão alimentar.
Então, acho difícil que alguém seja compulsivo pelo leite, mas as pessoas são compulsivas
por açúcar, então eu diria que o ideal mesmo é minimizar o açúcar.
Se você acha que você vai conseguir comer só uma pequena pontinha do chocolate, aquele
com mais açúcar, provavelmente não vai fazer muita diferença.
Vamos pegar um outro exemplo, o mel.
O mel é 80% sacarose, então o mel basicamente é a mesma coisa que açúcar de cana com
um pouquinho de água, e se a pessoa disser, “ah, mas eu vou usar só uma colherzinha
de chá rasa de mel”, isso provavelmente não vai nem tirar uma pessoa da cetose, de
tão pouco carboidrato que é, se ela tiver fazendo uma dieta cetogênica.
E, se ela conseguir comer essa pequena quantidade, se isso a satisfaz, daqui a pouco não é
um problema, então eu acho que é sim uma questão de quantidade.
Eu tendo a ser um pouquinho mais radical com açúcar porque eu acho que ele leva a compulsão
e acaba sendo uma espiral de consumo.
Conheça Seus Gatilhos
Guilherme: Perfeita colocação, e eu gostei de uma frase que você falou, que foi no sentido
de, eu acredito que ninguém é compulsivo, viciado em leite.
Mas, se alguém que tiver ouvindo a gente agora, sabe que é compulsivo e viciado em
leite, aí nesse caso, talvez, para essa pessoa em específico — que com certeza é uma
minoria perto do tanto de pessoas que têm essa vontade despertada pelo açúcar, pelo
chocolate — para essa pessoa talvez seja melhor minimizar o leite também, se também
vai ser um alimento gatilho para ela.
Dr.
Souto: Guilherme, você colocou muito bem.
E eu acrescentaria, isso vale para alimentos low-carb também, então eu volto e meia comento
isso, muita gente já sabe que eu adoro pasta de amendoim.
Pasta de amendoim é um alimento low-carb.
Mas eu evito de comprar na minha casa porque eu não tenho maturidade para ter um pote
de pasta de amendoim aberto, que eu não consigo parar de comer, mesmo ele sendo baixo em carboidrato.
Queijo vai ser um problema para emagrecimento para muitas pessoas, embora seja um alimento
extremamente pobre em carboidratos.
Mas ele é hiperpalatável, ele é muito gostoso, ele tem mais gordura do que proteína, então,
nesse sentido, ele não favorece tanto o emagrecimento.
Então, realmente, se a pessoa quando bebe um pouco de leite, acaba bebendo um litro,
melhor não comprar.
Guilherme: Com certeza, eu passo esse problema com o queijo que você mencionou.
E aí a gente acaba se conhecendo e criando algumas regrinhas: eu gosto muito de queijo,
e justamente por isso eu não compro sempre, eu compro uma vez por semana no máximo, para
comer ao longo do final de semana.
E depois eu não tenho no dia a dia, porque é necessário a gente ter esse grau de conhecimento
e de controle.
A gente tem que saber que mesmo alimentos que são nutritivos como o queijo, se consumidos
em excesso, e se a gente tem propensão a consumi-los em excesso, podem atrapalhar os
nossos objetivos.
Dr.
Souto: Uhum, concordo.
A Importância Da Nuance
Guilherme: E um outro ponto também interessante, só complementando aquilo que a gente falou
da questão das quantidades, é que muitas vezes as pessoas, parece que elas tem o desejo
de buscar o sim ou o não: “esse alimento é low-carb ou ele não é low-carb”.
Uma linha binária, que coloca os alimentos entre bons e maus, e às vezes elas querem
achar justamente as exceções, a ponto de buscar “ah, mas é só um pouquinho, só
um pouquinho”.
E às vezes é difícil estabelecer esse limiar, igual a gente mencionou: 10 ou 20 ml de leite
para fazer uma espuma não é nada, um litro de leite é muito.
Mas algum ponto aí no meio a balança começa a virar de um lado pro outro.
Então, também é importante ter um pouco de senso crítico para poder moderar essa
questão das quantidades, porque não é tão preto no branco, “pode ou não pode”.
Muitas vezes a gente até gostaria de que fosse para poder simplificar as respostas,
as análises ou o que seja.
Dr.
Souto: É, por isso que algumas estratégias bem simples acabam tendo sucesso, embora elas
sejam mais rígidas e mais difíceis, assim, de seguir como, bom, vamos comer apenas bicho
e planta.
Quer dizer: carne, peixe, frango, ovos, salada e só.
É difícil errar com uma estratégia desse nível de simplicidade, aí você está abolindo
todos os laticínios, então você não vai nem ter o exagero de calorias do queijo, nem
daqui a pouco os carboidratos do leite, você também não vai o exagero de calorias e a
hiperpalatabilidade das pastinhas, pasta de amendoim, castanha de caju, que é uma delícia.
Então, se você exclui todas essas coisas, a chance de dar certo é altíssima, o problema
é as pessoas viverem com esse nível de restrição no longo prazo, então eu prefiro pensar da
seguinte forma, vamos pensar nesse núcleo que eu comentei, que são as carnes de todos
os tipos, carne, peixe, frango, porco, ovelha, ovos e saladas, no sentido de folhas e legumes
que a gente refoga, coisas como brócolis, berinjela, abobrinha, pimentão.
Então, se você ficar com esse núcleo, e de vez em quando der uma escapadinha com alguma
frutinha doce, com um pouquinho de uma pasta de amendoim, com um pouquinho de leite para
uma espuminha e tal, aí você consegue organizar o pensamento, porque se não é isso que você
disse, as pessoas se perdem em detalhes.
O Bacon E A Ilusão Do Zero Carboidrato
Roney: Exatamente, Souto, e nessa questão aí de dividir os alimentos que o Guilherme
tinha tocado, tem também muita gente que vem perguntar pra gente de um outro símbolo
tão famoso das dietas low-carb e cetogênica, que é o bacon.
As pessoas falam, “nossa, mas eu fui comprar bacon no mercado e tinha um ou dois gramas
de carboidratos por porção” — eu não sei se essa porção é de 30 gramas ou de
100 gramas — “então aí eu não comprei, eu preciso me preocupar?
Qual bacon que vocês consomem?
Onde vocês compram?”.
E a gente fala, mas é justamente essa questão do leite, e o que eu vou falar pra essas pessoas,
assim, que têm essa divisão de alimentos zero carboidratos ou não serve.
Dr.
Souto: É porque, provavelmente, as pessoas têm a ilusão do zero carboidrato.
Então é importante que elas se deem conta de que uma coisa tem 1 ou 2 gramas de carboidrato,
é irrelevante.
Porque a dieta ocidental padrão, essa dieta que leva tanta obesidade, tanto diabetes,
ela é uma dieta que frequentemente ultrapassa 300 gramas de carboidrato — e carboidrato
do pior tipo, carboidrato refinado, farináceo e açúcar.
Então, você tira a maioria disso e você vai ficar com que, com aqueles carboidratos
que estão presentes nos vegetais, por exemplo.
Quando você come um tomate, você tem muito mais carboidrato do que no bacon, então você
vai comer um tomate, vai comer o que, 3 ou 4 gramas de carboidrato líquido ali, descontando
a fibra.
E as pessoas não estão tão preocupadas assim com brócolis e tomate, então talvez
haja essa ilusão de que o carboidrato tem que ser zero.
Por que que se usa açúcar no bacon?
Muitas vezes é por questões tecnológicas, do processo de cura da carne, é uma quantidade
mínima, tanto que frequentemente você vai olhar o rótulo e consta ali o açúcar como
ingrediente, mas na tabelinha às vezes tá zero carboidrato.
Porque, quando é abaixo de meia grama por porção, você pode arredondar para zero,
então é tão pouquinho que isso me lembra aquelas pessoas que perguntam, “nossa, tô
em jejum, mas eu tive que tomar um Tylenol, e aí eu vi que tinha amido no comprimido,
e aí foi tudo por água abaixo, sai da cetose, quebrei o jejum“.
Então, bom senso né pessoal, imagina a quantidade de carboidrato que tem num comprimido, olha
o tamanho do comprimido.
O Que Olhar Nos Rótulos Dos Alimentos
Guilherme: Com certeza, com certeza.
Acredito que muito vem também da surpresa das pessoas de falar “vou comprar um tipo
de carne curada”, que no caso o bacon, e vê que tem açúcar nos ingredientes, ou
lactose e fala, “nossa, mas isso não deveria estar aqui”.
É a sensação de que não deveria ter açúcar ali ou mesmo alguns conservantes, algumas
coisas assim que o pessoal identifica nos rótulos.
E a gente sabe que às vezes têm alimentos, nutrientes, ingredientes que talvez não devessem
estar lá.
Se você for pegar aqueles peitos de peru, ou muitos presuntos, apresuntados comerciais,
vai ter um monte de coisas ali além do peito de peru, por exemplo.
Mas às vezes eles estão presentes em quantidades pequenas, então, quando o pessoal vai ler
o rótulo nesse tipo de coisa, especialmente de alimentos curados, especialmente, mas pode
ser para outros alimentos também, que tipo de coisas são às vezes sinais vermelhos
que eles tem que ficar atentos?
Ou que tipos de coisas pode deixar passar?
Dr.
Souto: A resposta é um pouco mais complicada do que parece.
Eu diria, assim, a primeira coisa que todo mundo tem que prestar atenção é que o rótulo
é dividido em duas partes: uma parte descritiva que tem os ingredientes, eles estão em ordem
do que tem mais para o que tem menos, e aí tem uma tabelinha.
Então, por exemplo, se o primeiro ingrediente for uma coisa completamente absurda, do tipo,
açúcar, do tipo, amido, então você já descarta, obviamente ele não é um alimento
adequado para quem vai fazer uma dieta low-carb.
No entanto, se você tem, vamos pegar um exemplo típico que é consumido por muita gente que
faz low-carb, o chocolate amargo, o chocolate 80% cacau, você vai ter cacau como um dos