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Portuguese LingQ Podcast 1.0, Vinte e três: Pedro & Luis – Enfermagem

Vinte e três: Pedro & Luis – Enfermagem

Pedro: Então Luís.

Como é que foi o teu dia hoje?

Luís: Olha, eu hoje levantei-me de manhã, eram cerca de sete da manhã, e tomei um banho, é o que faço todos os dias...

Pedro: Acho que sim.

Luís: ...e basicamente fui levar o meu irmão à escola, que ele tinha aulas às oito, e depois fui eu para a Universidade, tinha aulas às oito e meia. Foi basicamente isso. Depois, pronto, saí era um quarto para as duas, para almoçar, e tive de ir levar o meu carro à revisão por volta das duas e meia, três. Então e tu, o que é que fizeste hoje Pedro?

Pedro: Bem Luís, eu hoje levantei-me cerca das seis e meia da manhã... não tomei banho porque já tinha tomado banho na noite anterior. Pronto, lavei os dentes e a cara, e pronto, tomei o meu pequeno almoço em casa. E saí, fui para o meu trabalho, fui para o hospital. Cheguei ao hospital cerca das sete horas e cinquenta minutos, bebi um café, e recebi... e fui receber o turno. Fui receber os doentes pelos quais eu estava responsável...

Luís: Pois é, tu és enfermeiro não é?

Pedro: Sim, sim, sou enfermeiro. E pronto, e comecei o meu turno. Foi um turno complicado, os doentes eram difíceis... doentes todos já com uma idade avançada. E pronto olha, foi um turno bastante complicado, sempre a acelerar para fazer as coisas a tempo e a horas, mas consegui dar conta do recado, e pronto, olha, saí por volta das cinco horas. Depois fui aos correios levantar uma encomenda...

Luís: Isso foi um dia... um dia em cheio!

Pedro: Foi um dia mesmo em cheio pá. Um dia que nem deu tempo para pensar muito.

Luís: Exacto, mas hmm... por acaso já me tinham dito que tu eras enfermeiro, mas explica-me lá, mais ou menos, que tipo de tarefas é que tu tens de fazer como enfermeiro? Eu às vezes penso em “enfermeiro”, penso, pronto naquelas... tem-se aquela ideia antiga das mulheres. E às vezes até há preconceitos em ver homens na enfermagem, que eu por acaso pessoalmente acho parvo, mas explica-me lá basicamente o tipo de trabalho que tu fazes no hospital como enfermeiro.

Pedro: Bem, a enfermagem tem várias áreas de actuação. O serviço onde eu trabalho, é um serviço de medicina interna. Pronto, como já te disse, o turno de um enfermeiro começa na passagem de turno; nessa passagem de turno é onde nós ficamos a saber quais são os doentes que nos são atribuidos, e a partir daí, obtemos as informações desses doentes. Quando acaba a passagem de turno, estabelecemos prioridades, para ver a qual dos doentes nos vamos dirigir primeiro. E a partir daí, geralmente, se é um turno da manhã como foi hoje, começamos pelas higienes, caso os doentes sejam doentes dependentes; isto é, o enfermeiro e uma auxiliar de enfermagem começam, portanto, a dar o banho aos doentes...

Luís: Exacto...

Pedro: ... e após as higienes, é dar-se os pequenos almoços, portanto, a alimentação dos doentes. E posteriormente prepara-se a medicação, portanto, para o turno inteiro: a medicação que se toma após o pequeno almoço, a medicação que se toma a seguir ao almoço e a medicação que se toma à tarde, cerca das quinze horas. Cerca das quinze horas, porque o turno acaba às dezasseis horas. Às dezasseis horas há outra passagem de turno, desta vez são os enfermeiros da manhã a passar o que se passou, o que aconteceu de importante, para os enfermeiros que vão fazer a tarde. Portanto, isto é mais ou menos no que consiste o meu trabalho.

Luís: Basicamente tu fazes, por exemplo, um turno da manhã, e para... tens de registar todos os acontecimentos relevantes que aconteceram com os doentes...

Pedro: Sim, sim.

Luís ... que te foram atribuidos, para que os enfermeiro que vão retomar o turno depois, na parte da tarde, possam ‘tar... possam ‘tar cientes do que aconteceu com esses doentes.

Pedro: Sim, é isso mesmo. É isso mesmo porque os cuidados de enfermagem, portanto, o cuidar em enfermagem é um processo que é contínuo, que não termina.

Luís: Exacto.

Pedro: E logo, tem que se informar sempre os outros colegas que vão dar seguimento à prestação dos cuidados, sobre o que se passou ao longo desse turno, de forma a eles poderem continuar, com base nessa informação, o processo de tratamento de cada doente.

Luís: ‘Tou a compreender sim. Realmente é uma profissão que imagino que até é desgastante, e tem uma carga de trabalho, tens de estar sempre procupado com os diferentes doentes que te são atribuidos. E já tiveste, já sentiste assim algum apêgo emocional com algum... algum doente que tenhas tido uma relação mais próxima, que te tenhas tornado até amigo, se calhar?

Pedro: Sim. Há quem diga que, e há quem defenda que a pessoa assim que entra no hospital e no local de trabalho, deve por para trás das costas todos os problemas e todas as coisas que o influenciam. Mas, isso é um pouco impossível, isso é algo impossível de fazer, porque ao pormos os nossos problemas p'ra trás das costas ‘tamos também, de certa forma, a por também p'ra trás as coisas que nos tornam, a nós próprios, pessoas. E eu acho que isso é um bocado dificil, não me estou a referir tanto aos problemas, mas refiro-me, portanto, aos nossos traços de personalidade... que ao fim e ao cabo distinguem-nos uns dos outros, não é, como seres humanos, e permitem que um enfermeiro trate de determinada pessoa, através de uma maneira especial que seja dele próprio, da sua personalidade. Daí advém, como é óbvio, certos vinculos com certos doentes, porque todos nós temos os nossos gostos pessoais, os nossos interesses, a nossa forma de reagir a determinadas situações, e essa forma, portanto, única de cada pessoa, acaba por fazer com que haja uma interacção entre enfermeiro e doente. E é daí- pronto, para responder à tua pergunta- e é daí que por vezes surgem essas tais relações de afinidade com certos doentes. Pessoas que têm histórias de vida interessantes, e que em mim despertam interesse, porque são da minha área de interesse e do meu leque de conhecimentos; ou então também, por vezes, por certas situações que nos despertam alguma emoção, e que também nos apelam à sensibilidade e que levam portanto, a que por vezes o doente não seja só um objecto para o qual nós viramos, portanto, as nossas intenções de trabalho, mas também uma pessoa no seu todo, com a qual acabamos por estabelecer relações que muitas vezes chegam a ser bastante íntimas- de amizade, de companheirismo- e que eu acho que por vezes são até relações que são bastante frutíferas, e bastante positivas no processo, portanto, no processo da própria evolução da doença do doente, no processo da cura do doente.

Luís: Exacto, então, a tua preocupação com o doente, não é, marca uma grande diferença na própria recuperação que ele tem, da doença que tem, ou do próprio tratamento a que está a ser submetido. Se ele sentir que há apoio por parte de quem o está a tratar, e que há uma maior proximidade, essa proximidade torna-se quase um curativo.

Pedro: Sim é verdade. É verdade, há vários teóricos da enfermagem, há várias pessoas de letras da enfermagem que realmente defendem isso; a isso chama-se o Holismo, que é ver a pessoa como um todo, e ao ver a pessoa como um todo estamos a incluir também o aspecto relacional que, pronto, que é algo único, e que faz parte de todas as nossas interacções do dia-a-dia; não ver só uma pessoa, um doente como o nosso objecto de trabalho, é ver a pessoa realmente como um todo. É diferente de, por exemplo, eu ser contabilista ou ser um carteiro, em que o meu objecto de trabalho, no caso do carteiro é entregar cartas, e pronto, em relação às cartas poderá não ter assim uma grande relação de humanidade, digamos, com as cartas, porque são realmente, são objectos...

Luís: Claro, é um trabalho que se centra mais numa operação repetitiva, que é bastante técnica, que não há, não tem de haver um grande contacto humano.

Pedro: Não quer dizer que o próprio carteiro, depois não acabe por estabelecer relações humanas com as pessoas que recebem essas cartas, não é?

Luís: Claro.

Pedro: Mas, pronto, a nível da enfermagem é muito maior, portanto, essa relação, porque o próprio objecto de trabalho é, realmente, a pessoa.

Luís: ‘Tá bem. Olha Pedro, eu gostei bastante de falar contigo...

Pedro: Eu também Luís.

Luís: ... e, bem, a gente vê-se mais logo.

Pedro: Ok. Tudo bem

Luís: Xau.

Pedro: Xau pá, fica bem.


Vinte e três: Pedro & Luis – Enfermagem Dreiundzwanzigste: Pedro & Luis - Krankenpflege Twenty-third: Pedro & Luis - Nursing Veintitrés: Pedro y Luis - Enfermería 二十三:佩德罗和路易斯 - 护理

Pedro:  Então Luís. Pedro: So Luís.

Como é que foi o teu dia hoje?

Luís: Olha, eu hoje levantei-me de manhã, eram cerca de sete da manhã, e tomei um banho, é o que faço todos os dias...

Pedro: Acho que sim.

Luís: ...e basicamente fui levar o meu irmão à escola, que ele tinha aulas às oito, e depois fui eu para a Universidade, tinha aulas às oito e meia. Foi basicamente isso. Depois, pronto, saí era um quarto para as duas, para almoçar, e tive de ir levar o meu carro à revisão por volta das duas e meia, três. Então e tu, o que é que fizeste hoje Pedro?

Pedro: Bem Luís, eu hoje levantei-me cerca das seis e meia da manhã... não tomei banho porque já tinha tomado banho na noite anterior. Pedro: Well Luís, I got up today at about half past six in the morning ... I didn't take a shower because I had already taken a shower the night before. Pronto, lavei os dentes e a cara, e pronto, tomei o meu pequeno almoço em casa. E saí, fui para o meu trabalho, fui para o hospital. Cheguei ao hospital cerca das sete horas e cinquenta minutos, bebi um café, e recebi... e fui receber o turno. I arrived at the hospital around seven fifty minutes, I drank a coffee, and I received ... and I went to receive the shift. Fui receber os doentes pelos quais eu estava responsável...

Luís: Pois é, tu és enfermeiro não é?

Pedro: Sim, sim, sou enfermeiro. E pronto, e comecei o meu turno. Foi um turno complicado, os doentes eram difíceis... doentes todos já com uma idade avançada. E pronto olha, foi um turno bastante complicado, sempre a acelerar para fazer as coisas a tempo e a horas, mas consegui dar conta do recado, e pronto, olha, saí por volta das cinco horas. And ready look, it was a very complicated shift, always speeding up to get things done on time, but I managed to get the job done, and there, look, I left around five o'clock. Depois fui aos correios levantar uma encomenda...

Luís: Isso foi um dia... um dia em cheio!

Pedro: Foi um dia mesmo em cheio pá. Pedro: It was a really busy day. Um dia que nem deu tempo para pensar muito.

Luís: Exacto, mas hmm... por acaso já me tinham dito que tu eras enfermeiro, mas explica-me lá, mais ou menos, que tipo de tarefas é que tu tens de fazer como enfermeiro? Luís: Exactly, but hmm ... I had already been told that you were a nurse, but explain to me, more or less, what kind of tasks do you have to do as a nurse? Eu às vezes penso em “enfermeiro”, penso, pronto naquelas... tem-se aquela ideia antiga das mulheres. E às vezes até há preconceitos em ver homens na enfermagem, que eu por acaso pessoalmente acho parvo, mas explica-me lá basicamente o tipo de trabalho que tu fazes no hospital como enfermeiro. And sometimes there are prejudices about seeing men in nursing, which I happen to personally think is silly, but it basically explains the type of work you do in the hospital as a nurse.

Pedro: Bem, a enfermagem tem várias áreas de actuação. O serviço onde eu trabalho, é um serviço de medicina interna. Pronto, como já te disse, o turno de um enfermeiro começa na passagem de turno; nessa passagem de turno é onde nós ficamos a saber quais são os doentes que nos são atribuidos, e a partir daí, obtemos as informações desses doentes. Quando acaba a passagem de turno, estabelecemos prioridades, para ver a qual dos doentes nos vamos dirigir primeiro. E a partir daí, geralmente, se é um turno da manhã como foi hoje, começamos pelas higienes, caso os doentes sejam doentes dependentes; isto é, o enfermeiro e uma auxiliar de enfermagem começam, portanto, a dar o banho aos doentes... And from there, generally, if it's a morning shift like it was today, we start with hygiene, if the sick are dependent patients; that is, the nurse and a nursing assistant therefore start bathing patients ...

Luís: Exacto...

Pedro: ... e após as higienes, é dar-se os pequenos almoços, portanto, a alimentação dos doentes. E posteriormente prepara-se a medicação, portanto, para o turno inteiro: a medicação que se toma após o pequeno almoço, a medicação que se toma a seguir ao almoço e a medicação que se toma à tarde, cerca das quinze horas. Cerca das quinze horas, porque o turno acaba às dezasseis horas. Às dezasseis horas há outra passagem de turno, desta vez  são os enfermeiros da manhã a passar o que se passou, o que aconteceu de importante, para os enfermeiros que vão fazer a tarde. Portanto, isto é mais ou menos no que consiste o meu trabalho.

Luís: Basicamente tu fazes, por exemplo, um turno da manhã, e para... tens de registar todos os acontecimentos relevantes que aconteceram com os doentes... Luís: Basically you do, for example, a morning shift, and to ... you have to record all the relevant events that happened with the patients ...

Pedro: Sim, sim.

Luís ... que te foram atribuidos, para que os enfermeiro que vão retomar o turno depois, na parte da tarde, possam ‘tar... possam ‘tar cientes do que aconteceu com esses doentes. Luís ... who were assigned to you, so that the nurses who will resume their shift later, in the afternoon, can 'tar ... can' be aware of what happened to these patients.

Pedro: Sim, é isso mesmo. É isso mesmo porque os cuidados de enfermagem, portanto, o cuidar em enfermagem é um processo que é contínuo, que não termina.

Luís: Exacto.

Pedro: E logo, tem que se informar sempre os outros colegas que vão dar seguimento à prestação dos cuidados, sobre o que se passou ao longo desse turno, de forma a eles poderem continuar, com base nessa informação, o processo de tratamento de cada doente.

Luís: ‘Tou a compreender sim. Realmente é uma profissão que imagino que até é desgastante, e tem uma carga de trabalho, tens de estar sempre procupado com os diferentes doentes que te são atribuidos. E já tiveste, já sentiste assim algum apêgo emocional com algum... algum doente que tenhas tido uma relação mais próxima, que te tenhas tornado até amigo, se calhar?

Pedro: Sim. Há quem diga que, e há quem defenda que a pessoa assim que entra no hospital e no local de trabalho, deve por para trás das costas todos os problemas e todas as coisas que o influenciam. Mas, isso é um pouco impossível, isso é algo impossível de fazer, porque ao pormos os nossos problemas p’ra trás das costas ‘tamos também, de certa forma, a por também p’ra trás as coisas que nos tornam, a nós próprios, pessoas. E eu acho que isso é um bocado dificil, não me estou a referir tanto aos problemas, mas refiro-me, portanto, aos nossos traços de personalidade... que ao fim e ao cabo distinguem-nos uns dos outros, não é, como seres humanos, e permitem que um enfermeiro trate de determinada pessoa, através de uma maneira especial que seja dele próprio, da sua personalidade. Daí advém, como é óbvio, certos vinculos com certos doentes, porque todos nós temos os nossos gostos pessoais, os nossos interesses, a nossa forma de reagir a determinadas situações, e essa forma, portanto, única de cada pessoa, acaba por fazer com que haja uma interacção entre enfermeiro e doente. E é daí- pronto, para responder à tua pergunta- e é daí que por vezes surgem essas tais relações de afinidade com certos doentes. Pessoas que têm histórias de vida interessantes, e que em mim despertam interesse, porque são da minha área de interesse e do meu leque de conhecimentos; ou então também, por vezes, por certas situações que nos despertam alguma emoção, e que também nos apelam à sensibilidade e que levam portanto, a que por vezes o doente não seja só um objecto para o qual nós viramos, portanto, as nossas intenções de trabalho, mas também uma pessoa no seu todo, com a qual acabamos por estabelecer relações que muitas vezes chegam a ser bastante íntimas- de amizade, de companheirismo- e que eu acho que por vezes são até relações que são bastante frutíferas, e bastante positivas no processo, portanto, no processo da própria evolução da doença do doente, no processo da cura do doente.

Luís: Exacto, então, a tua preocupação com o doente, não é, marca uma grande diferença na própria recuperação que ele tem, da doença que tem, ou do próprio tratamento a que está a ser submetido. Se ele sentir que há apoio por parte de quem o está a tratar, e que há uma maior proximidade, essa proximidade torna-se quase um curativo.

Pedro: Sim é verdade. É verdade, há vários teóricos da enfermagem, há várias pessoas de letras da enfermagem que realmente defendem isso; a isso chama-se o Holismo, que é ver a pessoa como um todo, e ao ver a pessoa como um todo estamos a incluir também o aspecto relacional que,  pronto, que é algo único, e que faz parte de todas as nossas interacções do dia-a-dia; não ver só uma pessoa, um doente como o nosso objecto de trabalho, é ver a pessoa realmente como um todo. É diferente de, por exemplo, eu ser contabilista ou  ser um carteiro, em que o meu objecto de trabalho, no caso do carteiro é entregar cartas, e pronto, em relação às cartas poderá não ter assim uma grande relação de humanidade, digamos, com as cartas, porque são realmente, são objectos...

Luís: Claro, é um trabalho que se centra mais numa operação repetitiva, que é bastante técnica, que não há, não tem de haver um grande contacto humano.

Pedro: Não quer dizer que o próprio carteiro, depois não acabe por estabelecer relações humanas com as pessoas que recebem essas cartas, não é?

Luís: Claro.

Pedro: Mas, pronto, a nível da enfermagem é muito maior, portanto, essa relação, porque o próprio objecto de trabalho é, realmente, a pessoa.

Luís: ‘Tá bem. Olha Pedro, eu gostei bastante de falar contigo...

Pedro: Eu também Luís.

Luís: ... e, bem, a gente vê-se mais logo.

Pedro: Ok. Tudo bem

Luís: Xau.

Pedro: Xau pá, fica bem.